Sorteio do Tesoura para Todas no Cultura Veg Especial

No dia do Cultura Veg Especial, promovido pela SVB Recife, a ARCA ira sortear um exemplar do livro Tesoura para todas.
O livro e uma coletânea de textos que relatam experiências de lutas contra o machismo e a favor da construção de uma sociedade livre de violências sexistas. São experiências vivenciadas, principalmente, em Barcelona, na Espanha, mas que em muito se assemelham com a nossa realidade.
E uma leitura estimulante e instigante que ajuda no fortalecimento individual e coletivo das resistências cotidianas contra a sociedade machista e opressora.

Desde já, estamos coletando o nome das pessoas interessadas no sorteio e só finalizaremos a lista de nomes, minutos antes da atividade lá na Livraria Cultura.

Caso deseje participar, ponha seu nome completo no comentário do post na página do evento, (só serão válidos os comentários no post de divulgação que está na página do evento):

Cultura Veg Especial
Masculinidade e violência: Uma Cultura predatória, com Daniel Kirjner

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Em legítima defesa, por Elizandra Souza

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Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR
Já estou vendo nos varais os testículos dos homens que não sabem se comportar
Lembra da Cabeleireira que mataram, outro dia?
E as pilhas de denuncias não atendidas?
Que a notícia virou novela e impunidade?
É mulher morta nos quatro cantos da cidade…?

Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR
A manchete de amanhã terá uma mulher dizendo:
– Matei! E não me arrependo!
Quando o apresentador questiona ela simplesmente retocará a maquiagem.
Não quer parecer feia quando a câmera retornar
e focar em seus olhos, em seus lábios…

Só estou avisando
VAI MUDAR O PLACAR
Se a justiça é cega, o rasgo na retina pode ser acidental
Afinal, jogar um carro na represa deve ser normal,
Jogar a carne para os cachorros, procedimento casual,

Só estou avisando
VAI MUDAR O PLACAR
Dizem, que mulher sabe vingar
Talvez ela não mate com as mãos, mas mande trucidar..
Talvez ela não atire, mas sabe como envenenar…
Talvez ela não arranque os olhos, mas sabe como cegar…

Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR

Elizandra Souza, Águas da Cabaça
2012

YJA Star – Um exército feminista

foto_1%20(9)YJA STAR é o nome da milícia feminina combativa do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), um movimento de guerrilha que desde os anos 70 está envolvido numa longa guerra contra o Estado turco. A sigla remete a Yekîtiya Jinen Azad, que significa Unidade da Mulher Livre, STAR é uma referência à deusa mesopotâmica Ishtar.  A representação de mulheres no PKK existe desde a fundação do partido, na década de 1970, tanto na organização, quanto em seus grupos de trabalhos.

A ideologia da YJA STAR é idêntica a da organização-mãe: criação de uma estrutura municipalista libertária, criando comunidades livres auto-gestionadas com base nos princípios de democracia direta, libertação das mulheres e renovação ecológica.  Desta forma, a proposta que fazem é de que a luta das mulheres curdas possam tornar um modelo para um movimento global em direção a uma democracia genuína, uma economia cooperativa e a dissolução gradual do Estado-nação burocratizado.

A crítica política do grupo perpassa questões fundamentais sobre direito à autodefesa e sobre a dominação masculina em âmbitos estruturais, baseadas em análises sobre os valores patriarcais presentes nos paradigmas morais religiosos, que proporcionaram uma grande mudança na ocupação humana no globo.

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“O significado do conceito das divisões que compõem o nome do nosso progresso e desenvolvimento da política participativa, como por exemplo, o direito das mulheres de organização sua autodefesa, mais do que qualquer outra coisa é um trabalho que necessário. A exposição das mulheres é para construir contra-revolução de uma realidade que começou com o sistema de dominação masculina, não só em termos de gênero, mas para o nosso planeta que atingiu níveis irreversíveis e irreparáveis de devastação. Por esta razão, desenvolvermos mecanismos de autodefesa apenas para nós mesmas não será suficiente. O que aflige o nosso mundo e a fonte da dominação masculina e para realizar a luta contra o Estado militarista devemos desenvolver uma outra estruturação.

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“A mulher nasce em uma atmosfera de desigualdade social causada pelo sexismo e privadas de direitos básicos. Todos os tipos de crescimento saudável, formação e sustentação da vida longe de todas as instalações de dependência, são renegadas as mulheres. Como resultado, elas não têm conhecimento de seus direitos e liberdades.

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“Ausentes da esfera pública, as mulheres devem superar os mecanismos políticos que excluíram-nas das tomadas de decisões.  A mulher foi condenada à uma vida “home oikos-custom” e para se livrar dos círculos fascistas é essencial considerar isto. Neste contexto, o movimento das mulheres curdas reivindicam a liberdade delas nas instituições, organizações sociais e militares e nos campos ideológicos criados por homens. Com muitas dificuldades, nossa organização tem sido capaz de descobrir nestes esforços um patrimônio muito importante, refletindo um sucesso nas nossas reivindicações a partir do direito fundamental da mulher à sua auto-defesa e na construção da política participativa.”

 

Referências:

Porque o mundo ignora os revolucionários curdos na Síria – David Graeber
YJA STAR – Site Oficial

Mulheres indianas unidas pela resistência e pela violência afeminada

10710574_379196625566739_252288507994663387_nA Índia é apenas um dos muitos lugares do mundo onde o patriarcado conseguiu, de forma peculiar, trazer os dogmas religiosos que engendrou, como artifício para estruturar com a sociedade, violentando mulheres.

O rígido sistema de divisão de castas resulta num brutal feminicídio e numa castração absoluta de direitos e liberdade das mulheres.  Seus destinos já estão traçados: abusos sexuais, estupros, abortos e abandonos de bebês apenas por serem meninas, mutilações e agressões físicas.

Muitas famílias indianas, mesmo as mais ricas, veem o nascimento de uma menina como um desperdício, um problema financeiro. Elas representam gastos com educação, sistemas de repressão, alimentação e, para casar uma filha, é preciso juntar um grande dote, ou seja, dar presentes para a família do macho.

A misoginia se intensifica em casos que mulheres esperam filhas gêmeas: as práticas mais comuns que as famílias exercem sobre as mulheres são a pressão para abortar, a tortura e a interrupção da alimentação.

A pediatra Mitu Khurana é uma das poucas ativistas que usam sua própria história como exemplo para mostrar como esse costume está alterando a balança de gênero no país. Quando Mitu recebeu a notícia do médico de que estava grávida de gêmeas, sua felicidade foi imensa. Contudo, ao chegar em casa, seu marido e a família dele estavam de luto e disseram que não poderiam criar duas meninas. Apesar da pressão, Mitu não terminou a gravidez e deixou o marido, alegando abuso por parte dele e dos sogros. Com o apoio de seus pais, Mitu embarcou em uma luta (também no campo legal) contra esse tipo de atitude, segundo ela “Na Índia, esses abortos se tornam uma indústria milionária”.

É  uma realidade extremamente insegura, violenta e brutal que impulsiona a necessidade de uma resistência e um combate à altura, que traga contundência e eficácia para desmistificar a fragilidade e violabilidade associada ao corpo das mulheres. De fato, é preciso ressaltar a importância dos trabalhos que visam conscientizar, ilustrar e propagar a responsabilidade masculina no contexto de violência à mulher, mas ao mesmo tempo, é urgente deixar claro, que a força motriz que engendra a violência não é a falta de esclarecimento ou ignorância masculina e sim a relação desigual de poder que homens detém na sociedade e usam como forma de oprimir mulheres e demais dissidentes da normativa masculina. O que muitas mulheres indianas se convenceram é de que as violências misóginas só chegarão ao fim a partir da organização de mulheres numa combatividade efetiva e direta contra as ameaças que tange seus corpos.

O vídeo abaixo mostra um recrutamento combativo feminino para punição de homens que tentaram estuprar mulheres. No ocidente,  cenas como esta chocam a racionalidade patriarcal e os olhos cegos à dura realidade misógina, sob a justificativa piegas de que violência gera mais violência.

“Se retirarmos esta filosofia da arena política impessoal e a colocarmos num contexto mais real, a não violência implica na crença de que é imoral que uma mulher se defenda de um agressor ou que aprenda autodefesa. A não violência assume que para uma mulher maltratada seria melhor partir, ao invés de se mobilizar em um grupo de mulheres e dar uma surra no marido agressor, escurraçando-o de casa1. A não violência afirma que é melhor ser estuprada do que tirar uma caneta do bolso e afundá-la na jugular do agressor (porque fazê-lo seria supostamente alimentar um ciclo de violência e fomentar futuras violações). O pacifismo simplesmente não tem ressonância nas realidades diárias das pessoas, a menos que estas pessoas vivam em um extravagante mar de tranquilidade, em que toda forma de violência civil, reativa e pandêmica, tenha sido expulsa pela violência sistêmica menos visível da polícia e das forças militares.”

Peter Geoderloos – Como a não violência é patriarcal, capítulo 4 do livro Como a não violência protege o Estado.

Na cidade de Bundelkhand, no estado de Uttar Pradesh, norte da Índia, mais de 10.000 mulheres entre 22 e 50 anos compõe o Gulabi Gang. As mulheres da gangue rosa vão às casas dos maridos violentos com varas de bambu, ameaçando-os a menos que parem de abusar de suas esposas. A maioria das mulheres da gang são dalits (considerada a casta mais baixa indiana, ou “os intocáveis”) e não por acaso, a casta que contém o maior número de mulheres abusadas, machucadas e assassinadas.

Em 2008, elas invadiram um escritório da companhia energética do distrito de Banda e obrigaram funcionários a restabelecer a energia que tinha sido cortada para extrair propina e subornos. Elas também brigaram pelo fim do casamento infantil e pela alfabetização das mulheres.

ativistaspink_2E porque é preciso ter uma “gangue” para ajudar mulheres em Bundelkhand? Essa aérea superpovoada é palco de guerras diárias contra uma sistema político corrupto, terras inférteis e o patriarcal sistema da hierarquia de castas.

Em sua curta existência, o grupo já enfrenta acusações de tumultos, ataque aos funcionários do governo, reunião ilegal e obstrução da justiça. Meses atrás, após o estupro de uma mulher dalit por um homem de uma casta superior, a polícia sequer registrou o caso. Moradores que protestavam foram presos. A gangue buscou justiça e  invadiu a delegacia de polícia, exigindo que os aldeões fossem liberados e que fosse registrada uma queixa contra o agressor. Quando o policial se recusou a cumprir tal pedido, a quadrilha atacou a delegacia com as varas de bambu e um inquérito contra o criminoso está em andamento agora.

O Gulabi Gang é um exemplo de união e solidariedade entre mulheres e tem muito a oferecer ao contexto de violência vivenciado por mulheres, lésbicas, bichas afeminadas e pessoas trans no Brasil.  A forma de ativismo do Gulabi Gang é ação direta, que se empenha não apenas em questionar as condições da mulher, como também em oferecer suporte àquelas que se encontram em situações de risco.  Esses esforços nos acordam para a realidade de violência que atinge milhares de mulheres diariamente, um tipo de experiência insubstituível, cuja lacuna não pode ser preenchida por nenhum estudo acadêmico.

Notas

1 – Esta última estratégia tem sido aplicada com sucesso em muitas sociedades antiautoritárias ao longo da história, incluindo a Igbo, na Nigéria, hoje. Por exemplo, ver Judith Van Allen, “‘Sitting on a Man’, Colonialism and the Lost Political Institutions of Igbo Women”, Canadian Journal of African Studies, v. 2, 1972, p. 211-219.

Apresentação do Tesoura para Todas

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Tesoura para Todas é uma ferramenta coletiva, uma arma lançada para a reflexão, o debate e a ação contra as agressões sexistas.

Diante de uma realidade onde as práticas sexistas são imensamente naturalizadas e reproduzidas dentro de espaços, grupos e por indivíduos que impressionantemente visam combater a cultura sexista, o encorajamento de mulheres, dissidentes sexuais e de gênero, bem como uma análise radical do patriarcado, é uma necessidade urgente.

Esta atividade visa apresentar o livro lançado recentemente pela Editora Deriva e realizar um debate a partir da apresentação de três textos que ilustram bem o contexto político local. Eles nos ajudarão a entender como algumas resistências antisexistas constroem suas combatividades.

A atividade acontecerá dia 11/10 é exclusiva para mulheres e dissidentes sexuais. Devido ao objetivo do encontro a presença de homens cis1 não são pertinentes, por isso desencorajamos qualquer tipo de insistência por parte destas pessoas que detêm amplos privilégios sociais apenas por serem homens, alinhados a masculinidade e heterossexuais.

informações sobre local e mais detalhes informados apenas por email!

versão do livro em pdf: https://we.riseup.net/assets/121348/tesouras%20para%20todas.pdf

Notas

1 – O prefixo latino cis signifca “ao lado de” ou “no mesmo lado de”, foi concebido pelo transfeminismo como estratégia para enfatizar que a sexualidade e o gênero são construções políticas. Deste modo, os termos cisgênero e cissexual refletem a legitimação e concordância de indivídues à identidade de género imposta a partir sua genitália.

Se a violação do nosso corpo é outorgada, a autodefesa torna-se uma necessidade

Breve história dos objetos cotidianos 1

Tão cotidianos como a violência contra as mulheres são os objetos que podem servir para nos defendermos dela.

Defender-se com o que se encontra mais próximo é tão antigo como as agressões que nós, mulheres, sofremos, isto é, quer dizer que vem de muito antes… desde os preparados de água com pimenta como spray das mulheres mexicanas, os alfinetes para evitar abusos indesejáveis no metrô de Tóquio e de São Paulo, as giletes e navalhas malocadas debaixo da língua ou na bolsa das travestis, até a caixinha de khol2, usado para pintar olhos das mulheres marroquinas, dotada habilidosamente de uma lâmina de metal, As mulheres sempre têm utilizado suas invenções para responder à violência machista.3

Em tuas mãos tens uma pequena mostra só para que deixes voar tua imaginação. Mas lembre-se que a confiança em nós mesmas e a solidariedade entre mulheres são nossas melhores armas.

Recuperemos as ruas! Recuperemos a noite!
Recuperemos nossos corpos! Porque você se valoriza

Notas

1 – Texto circulado em 25 de novembro de 2008 nas Acciones descentralizadas (“Ações descentralizadas”) em Barcelona e publicado no livro Tesoura para Todas.

2 – Khol ou kajal é um cosmético de origem oriental, primeiramente usado com o objetivo de proteger os olhos de inflamações e para dar um suave frescor à esta região do rosto. Alguns ainda acreditam que sua aplicação pode espantar maus espíritos.

3 – O texto foi editado e sua tradução alterada baseada no original em espanhol, acrescentando fatos que incorporam a realidade das mulheres brasileiras e trans

Como Fazer um Spray de Pimenta

Alguma vez você já esteve em uma situação em que precisou se defender? Aqui está um método de defesa que dá a você uma grande vantagem, que você pode fazer em casa!

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Materiais Necessários:

Mix de pimentas fortes em pó (pimenta do reino, pimenta malagueta, pimenta calabresa
Suco de pimentas frescas ou plantas tóxicas (taioba brava, comigo ninguém pode)
Sal
Suco de limão
Água Sanitária
Frasco de spray

 

Procedimentos:

670px-Make-Pepper-Spray-Step-21º Passo: Misture os ingredientes secos, logo após experimente para ver quão apimentado está, se estiver o suficiente para te dar lágrimas nos olhos, então está perfeito.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-32º Passo: Adicione o limão e o suco de pimentas frescas ou plantas tóxicas, como a taioba ou comigo ninguém pode. Isso é o suficiente para fazer seu alvo chorar como um bebê.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-43º Passo: Adicionar àgua sanitária irá deixar a poção ainda mais irritante.

 

 

 

 

 

 

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4º Passo: Coloque o líquido num frasco de spray. Se você não tiver um, você pode comprar em uma loja que vendem essências, e artefatos para fabricação de perfumes. É importante que seja pequena suficiente para caber em uma mochila ou bolsa média.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-65º Passo: Agora você possui uma boa defesa para quando estiver sendo perseguido e/ou intimidada.

Avisos

  • Não deixe isso encostar em seus olhos.
  • Não use isso a não ser que você realmente tenha que escapar. Lembre-se, não há a necessidade de cegar alguém temporariamente, por brincadeira.
  • Não borrife isso em animais a não ser que eles apresentem um real risco de vida para você.
  • O uso do spray de pimenta por civis pode ser ilegal em alguns lugares. Saiba que você corre o risco de ser detida por portar um objeto como este.

 

Receita de spray de pimenta  adaptada do original disponível no Wikhow

Calendário ARCA 2015

mondkreis2A ARCA está organizando um calendário na tentativa de dar visibilidade às diversas lutas antimachistas. A construção dele será colaborativa, você poderá enviar fotos de sua autoria que expressem a destruição de símbolos patriarcais, solidariedade e apoio mútuo entre mulheres e demais vítimas do sexismo e crítica à heterossexualidade compulsória.

Desestimulamos o envio de fotos que revelem rostos, cicatrizes ou sinais de nascença, optando pelo anonimato como forma de garantir a segurança e a privacidade das pessoas. Recomendamos o uso de máscaras, lenços e efeitos de edição que permitam o não reconhecimento e identificação de pessoas.

Também aceitamos sugestões de datas que simbolizem o combate ao machismo e marcos importantes de resistência antisexista1. Iremos dar prioridade a fatos e datas de resistência ocorridos na América Latina, África e Ásia

Instruções:

Você deve hospedar sua foto em alta resolução no MediaCrush, e enviar o link da foto para arca.recife@distruzione.org, com o assunto Calendário ARCA 2015. No email você deverá incluir uma justificativa de até 5 linhas, contendo uma pequena argumentação do porque a imagem contribui com as resistências antipatriarcais.

Publicar uma foto no MediaCrush é muito simples, na página de entrada você vera nitidamente a opção para carregar fotos! depois de carregadas, você verá na parte superior da página (antes das fotos) o link para a imagem ou album. Você copia este link e envia por email.

1antisexista: ser contrária ao sexismo – atitude de humilhação, menosprezo e inferiorizarão baseada na supremacia do sexo/gênero masculino

 

Morre Hija de Perra

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“Eu não sou da opus dei, porque prefiro ser gay”

Hija de Perra, sem dúvidas, foi um importante expoente da dissidência sexual na América Latina, uma das pessoas cujo legado sexual anti-hegemônico e intelectual será lembrado sempre.

A artista ganhou popularidade com suas apresentações ‘imundas’ que caracterizam-na como ativista anti-heterocapitalista. Ela também foi convidada para dar palestras em diferentes universidades do país de da América Latina e tornou-se uma figura comum nas reuniões da diversidade e da sexualidade a nível nacional e internacional.

Abaixo segue algumas de suas considerações ‘imundas’ sobre como a teoria queer coloniza nosso contexto sudaka, pobre emergente e terceiromundista, perturbando com novas construções de gênero, humanos encantados com a heteronormatividade.

http://www.bibliotecafragmentada.org/wp-content/uploads/2012/12/interpretaciones-de-la-teoria-queer.pdf

“Que nosso paraíso seja um lugar onde todas as cachorras, lobas, gatas, panteras, piranhas e monstras saltarão a seu encontro.” Adaptado do texto original de homenagem por Leo Silvestri

A insegurança que ronda os corpos femininos: Um pedido de socorro!

Escrava-AnastáciaEm um mundo tomado por relações de poder desiguais, a luta das que sofrem violência está a todo tempo resistindo ao aniquilamento. Nossa resiliência é infinita e, por não sermos frágeis, nosso alcance não tem limites. Estes escritos são um pedido de socorro, numa tentativa de compartilhar, construir segurança e solicitar solidariedade das pessoas que priorizam o combate ao sexismo em suas construções políticas emancipadoras.

 

O ESTOPIM E A CONIVÊNCIA

Há cerca de um mês foi publicada uma denúncia contra as agressões cometidas por Erick Marcos Alves Uchôa, também conhecido como Soulfly, e contra seus companheiros do Laboratório de Mídias Autônomas, o La.M.A.

A história começou a se tornar pública quando algumas companheiras tomaram conhecimento de agressões sofridas pela então companheira de Soulfly. Vidros estavam quebrados na casa onde moravam, mas a justificativa era um suposto transtorno mental da mulher que, por ter quebrado tudo em um surto, seria doente e precisava ser “controlada.” Fatos como esse, sabidos por alguns integrantes do LA.M.A, foram silenciados e não problematizados. Mais tarde, quando uma pessoa trans declaradamente combativa e anti-sexista ficou sabendo das agressões por relatos da vítima, ela reiterou o alerta ao coletivo. Mas os integrantes do LA.M.A optaram por se solidarizar com o agressor, deslegitimar o alerta e não dar a devida atenção à história. Entenderam a denúncia como “fofoca” ou “boato” e, dessa forma, colaboraram com o machismo incontestável e tornaram invisível o discurso da trans. Chegaram a, inclusive, negar apoio e fazer o boicote a uma atividade organizada por ela. Um misto de machismo e transfobia que só deu mais tempo e força para Soulfly e prolongou uma situação de conforto para o agressor e completo desconforto para a então companheira, grávida dele, e todas aquelas solidárias a ela.

O tempo mostrou o óbvio: o ciclo da violência se perpetuou e, a falta de atenção coletiva ao fato, colaborou para mais situações de opressão encontrarem lugar para acontecer. No entanto, desta vez não se deu no espaço privado, no qual as marcas podem ser escondidas atrás das cortinas da vida doméstica, da briga de marido e mulher. Quando a ex-companheira de soulfly expressou sua revolta na frente de todos, em pleno acampamento do Ocupe Estelita, a ficha dos machos, antes incapazes de acreditar nos denunciantes, caiu.

A partir de então, começou o processo de confirmação dos “boatos”. Apenas depois de ter-se presenciado violência em espaço público da militância a história foi levada a sério. Típico: na lógica da sociedade patriarcal, o macho está certo até que se prove o contrário. Para nós, lutadoras diárias que pretendem um mundo de equidade, a versão da vítima sempre é a primeira em que acreditaremos, pois entendemos como essencial a inversão desta lógica. Da lógica opressora. Da mesma ordem de opressão imposta pelo Estado e pelo Capitalismo.

Quem diz querer uma sociedade livre de opressões tem de se colocar sensível a elas quando aparecem: Um burguês está no lugar de opressor de um pobre. Um macho está no lugar de opressor de afeminadas.

Não se pode usar dois pesos e duas medidas, como fez o LA.M.A.

Foram cúmplices. Por opção.

 

A ARTICULAÇÃO

Como muito bem pontuado pela carta de denúncia, Soulfly abusou da confiança que tinha no coletivo. Aproveitou o apoio de seus companheiros machos, até então completamente confiantes na versão do agressor. Ele se sentiu confortável para continuar cometendo violências sem prever nenhum tipo de consequência negativa. A cômoda inércia de seu coletivo político o colocou no topo, pois havia uma rede de solidariedade A ELE. AO MACHO.

No entanto, Soulfly subestimou a inteligência e capacidade de articulação feminina. Ele não esperava que uma rede de solidariedade combativa fosse ativada, que provas fossem reunidas, que testemunhas fossem acionadas, que suas mentiras fossem descobertas e que as vítimas silenciadas e ameaçadas por ele se rebelassem. Não estranhamente, outros casos vieram à tona e outras ex-companheiras fizeram coro à denúncia. Estava-se indubitavelmente lidando com um violentador de mulheres.

Depois da explosão de denúncias, na tentativa de encaminhar uma solução, o coletivo o afastou das atividades. As afeminadas, articuladas em apoio total à vítima, conseguiram, juntas, criar o incômodo necessário para o questionamento de uma posição de privilégio. Mas este primeiro passo ainda não é/foi suficiente.

 

AS CONSEQUÊNCIAS

Soufly caiu, mas está se rearrachamticulando para voltar, para se vingar. Ele se esconde atrás de uma imagem frágil, calma e dócil. Recentemente, o agressor, escreveu uma nota na qual diz não se reconhecer nas denúncias e solicita ajuda dos amigos e companheiros que um dia compartilharam momentos em espaços políticos. Soulfly diz querer entender o seu machismo. De forma eufêmica, diz que os relatos da vítima sobre as violências que ela sofreu não são suficientes para ele entender seu machismo, por isso ele pede a pessoas que ele legitima que falem sobre suas atitudes machistas.

Soufly, que afirmava a sua vítima que ela nada podia fazer, porque ela não era ninguém e ninguém iria acreditar nela, está perseguindo pessoas e entrando em contato com ela sob o argumento de que ele precisa entender o que está acontecendo. Com uma dessas pessoas, que confirmou seu machismo, ele alterou as frases e enviou a alguns de seus (ex?)companheiros como uma conversa na internet que continha um pedido de desculpas e um reconhecimento de acusações injustas. Soufly está manipulando e alterando conversas para obter provas e se proteger, isto é muito grave.

Em um escrito de desabafo, procurando rearticulação e negando as acusações, Soulfy diz que a única coisa que tira da situação é a raiva, um elemento positivo para se levantar. Eufemicamente, isto é uma propaganda de vingança. Neste mesmo relato o agressor se diz injustiçado, pois tentou ajudar a vítima e agora está sendo chamado de machista, diz que as denuncias proferidas não tem substância ou fundamento, sendo, portanto, deslumbres vagos provenientes de mulheres histéricas e ciumentas. O agressor crê que a vítima está tentando ficar bem passando por cima dele, por cima de quem bateu, empurrou, torturou, cuspiu na cara, ameaçou, apedrejou, beliscou, deslegitimou, caluniou e difamou mulheres e pessoas trans.

Em síntese, Soulfly está dizendo que a culpada é a vítima, sugere que as acusações são mentirosas, se sente traído, usa de um discurso manipulativo para obter piedade das pessoas e coloca a vítima como ingrata. Muitas pessoas ainda acreditam nos seus relatos, ignoram os boletins de ocorrência, as medidas protetivas, jogam as testemunhas presenciais de sua violência no lixo, anulam as vozes violentadas de suas outras ex-namoradas e descredibilizam todas as pessoas que foram injuriadas e difamadas por ele. Esta realidade é apavorante. A estas pessoas, lembramos que é entre namorados, irmãos, pais e amigos que estão os agressores de mulheres. E não se pode colocar os laços afetivos acima destas ameaças. É aí que reside a colaboração com o agressor e com a continuidade da violência. Acreditar no agressor é estar do lado hegemônico, de mãos dadas com o patriarcado.

O ALERTA

Devido a esta realidade, tão dura e este contexto tão difícil, diante de uma possibilidade real de rearticulação e empoderamento do agressor, diante de um discurso hipócrita e mentiroso estar alinhando pessoas para solidarizar-se com um machista extremamente perigoso e violento, pedimos solidariedade e apoio à todas as pessoas, coletivos, agremiações, grupos e associações que levam o combate antisexista como pauta prioritária em suas políticas anticapitalistas, para que mais um macho agressor não vire o jogo e se encontre apto a aperfeiçoar suas violências, pondo em risco corpos femininos.

Os desdobramentos pós denúncia trazem uma realidade: não é possível mais aliança. A solidariedade em casos como este não se dá apenas a partir da expulsão ou afastamento do macho agressor. Não se trata de prestar contas ao tribunal das afeminadas. Homens realmente comprometidos com a desconstrução do machismo precisam se colocar no desconforto de rever suas ações cotidianas para, de alguma forma, sentirem-se organicamente solidários. No caso do LA.M.A., isto não aconteceu.

Homens do Lama e os outros tantos cúmplices de Soulfly mostram porque o agressor proferiu violências à sua ex-companheira abaixo de tantos olhos durante tanto tempo. Torna-se explícita a falta de vontade em priorizar e se posicionar sobre as questões que não atingem os Homens, que os colocam em posição de questionamento e ameaçam seus postos de poder tão bem protegidos pela solidariedade entre MACHOS. Sabemos que todos eles não foram cúmplices a toa, não foram cúmplices apenas por inércia, são cúmplices porque se assemelham com agressor, porque também cometem violências, porque ignorar a denúncia, em momento posterior, foi uma estratégia de proteção masculina e de deslegitimação de corpos dissidentes da heterossexualidade compulsória. E este é o grande nó deste debate: a automática solidariedade entre homens não está no nível da consciência. Os Homens não necessariamente fizeram uma reunião para escolher acreditar e ficar ao lado de Soulfly. Neste e em outros casos, vemos o movimento automático de aglutinação dos afins, resultante das relações sociais construídas desde a família e legitimadas pela construção simbólica dos papéis de gênero no Capitalismo e aprisionamento de corpos promovido pelo Estado.

Mas, e as mulheres? Elas não fizeram nada! Elas não foram machistas também? Não. E este é o argumento mais rasteiro utilizado para desacreditar quem denuncia e se manter inquestionável no pólo de poder. As mulheres não são colaboradoras do machismo, são vítimas. O machismo reproduzido pelas mulheres, não as coloca em patamar de privilégio, pelo contrário, coloca-as em locais de submissão, servidão e obediência à figura masculina e este local é o palco das mais diversas violências. É impressionante ver, no caso do LA.M.A., homens se dizendo abertos para reflexões e questionamentos sexistas mas, ao mesmo tempo, usando de um argumento tão covarde. Esta hipocrisia é, na realidade, uma captura e uma apropriação dos discursos de questionamento para o refino e aperfeiçoamento das opressões sexistas, algo realmente abominável e inadmissível. Para os amantes da teoria: uma afirmação deste tipo evidencia a falta de interesse em se debruçar sobre a vasta literatura disponível, das mais diversas correntes do feminismo.

Ora, não é no campo do discurso que qualquer homem macho mostrará sua disposição em combater os machismos seus e que acontecem em seu entorno. É na prática, na ação cotidiana, que ficará ou não evidente a tentativa de se deslocar do privilégio. Não basta usar uma camisa roxa próximo ao 8 de maio. Não basta dizer que você reconhece a importância dos espaços construídos por afeminadas. Não basta lançar uma cartilha. Não basta segurar uma bandeira. Nós sentimos cotidianamente a opressão de existir. Machos precisam reconhecer que não sentem. Qualquer tipo de raiva destes argumentos é da mesma monta da raiva que os donos de empresas de ônibus têm quando seus funcionários entram em greve ou quando o povo vai à rua protestar contra o aumento. É a raiva do opressor em relação ao oprimido. Neste caso, machos e afeminadas.

Enquanto homens podem estar se questionando sobre como fazer isso, sobre porque isto é importante, sobre como isto pode demorar; estamos preocupadas em apoiar todas as companheiras vítimas. Não temos tempo para a reflexão da Ágora Ateniense. Ameaças não se esquecem, a dor de um murro não some na mesma velocidade dos hematomas. A perseguição nunca parou.

Fica aqui o nosso alerta: os espaços políticos libertários em Recife não são seguros para mulheres, bichas afeminadas e demais não homens. A falta de reflexão e acumulo sobre as questões de gênero e sexismo tornou-se um grande tapete que acoberta comportamentos machistas cotidianos, lesbofobia, homofobia e transfobia. Na nossa perspectiva, se almejamos uma sociedade livre, temos de tentar construí-la em todos os espaços que ocupamos. É a partir destes espaços políticos que novas relações podem se irradiar para outras esferas sociais. Quando este compromisso não é sério, violências como a cometida por Soulfly deixam as marcas da agressão na vítima e evidenciam da pior forma as falhas de qualquer projeto político que desconsidera a opressão de gênero como estruturante, para além do discurso.

No início de 2014 Sandra Fernandes, militante do PSTU, e seu filho Icauã foram brutalmente assassinados por seu ex-companheiro, sob os olhos daqueles que viam a virilidade e masculinidade do criminoso como algo normal, sob o consenso dos que foram convencidos pelos comportamentos tranquilos e pacíficos que o agressor apresentavam publicamente. Esses viris sórdidos com uma face aparente de “bons rapazes” são, inevitavelmente, os mais perigosos. A ARCA, articulação simpática ao anarquismo, entende que o Caso Soulfly tem potencial para um desfecho tão semelhante e dolorido quanto a triste história de Sandra. Fazer com que esta história não se repita é responsabilidade daqueles que assumem um compromisso na construção de realidades anticapitalistas e livres, porque o capitalismo é o filho pródigo do patriarcado e a cabeça dos reis equivale à virilidade dos homens.

Somos todas Sandra Fernandes
Somos todas Paula Dahmer
Todo repúdio à Erick Soulfly
Machistas: NÃO PASSARÃO.

ARCA – ARTICULAÇÃO COMBATIVA ANTISEXISTA