Release: relançamento/apresentação do ‘Tesoura para Todas’

Captura de tela inteira 26102014 190237.bmpO relançamento/apresentação do livro Tesoura para Todas, aconteceu no último dia 11 de outubro. O objetivo foi apresentar os três primeiros textos e contextualizar a construção do livro para a partir disso iniciar uma roda de diálogos sobre os temas apresentados e as vivências das pessoas presentes.

Contamos com a presença de companheiras de Belo Horizonte e Brasília, que trouxeram relatos sobre abusos e agressões machistas, como o caso do 1º Queer Fest Brasília. Também se fizeram presentes algumas companheiras da Convenção Histérica, que trouxeram e distribuíram entre os presentes, uma edição, diagramada em formato livreto, da carta/denuncia contra o ex-integrante do Laboratório de Mídias Autônomas e seus cúmplices, companheiros de coletivo.

O primeiro texto apresentado foi o ‘Feminismo não é um assunto de mulheres’. O manifesto, ressalta a ineficiência dos grupos políticos em tratar coletivamente casos de machismo. Levar este debate não é uma obrigação, somente, das mulheres, mas uma iniciativa que deve ser individual, coletiva e partir de TODXS. Apesar de sabermos que são as oprimidas que levantam e problematizam estas questões inicialmente, o desenrolar de cada caso que vivenciamos, ou do qual temos notícia, denota ser falida a estratégia “vamos deixar mulheres e bixas discutirem o machismo.” Na prática, quando se joga para segundo plano estas questões, cria-se um ambiente de conforto para a manutenção dos privilégios masculinos e não se estimula a desconstrução de práticas machistas cotidianas na vida de todxs. O resultado é a reprodução pública e privada de violências e a legitimação da opressão contra as mulheres. Um papo a passo perigoso, que vimos se reproduzir cotidianamente em vários lugares e mais recentemente se repetiu na cidade.

Na exposição do segundo texto, ‘Rompendo Imaginários: Maltratadores politicamente corretos’, foi enfatizada a sofisticação das praticas machistas em aperfeiçoar contextos de violência e as estratégias de invalidar as denuncias das vítimas para assegurar aos homens a condição de agressores e perpetuar os cenários das violências.

Foi trazido que firmeza, impositividade, seriedade, frieza – no sentido não passional – e lucidez – no sentido não histérico – são elementos presentes na ideia de masculinidade e não por acaso, características que constroem confiança nas pessoas, além de serem comportamentos ensinados, praticados e cobrados por homens. Temos visto que quem não se utiliza desses artifícios, supostamente racionais e totalmente masculinos, está pronta para ser desacreditada. A insegurança evidente da vítima, a falta de conforto para relatar detalhadamente as agressões, a instabilidade emocional são comumente usados como argumentos para não levar a sério os relatos e denuncias das vítimas. A cobrança de determinadas posturas e a não preocupação em ter a cautela necessária para confortar a vítima, resulta numa repetição da violência, proteção do agressor e impossibilidade de problematização destas questões.

A pessoa que apresentou o texto ressaltou que a identidade masculina, acostumada a exercer superioridade, decidir situações e impor suas vontades, é o elemento propulsor da execução da violência sexista, fazendo com que os homens em conformidade com gênero e sexualidade imposta pelo heterocapitalismo, sejam potenciais abusadores, agressores e violentadores. Perceber a condição da violência associada à identidade masculina, acaba com o mito do agressor politicamente incorreto e com a proteção dos abusadores que não apresentam na vida pública, comportamentos brutos, grossos e estúpidos. Surpreender-se com qualquer homem, por mais sensível que ele se apresente, ao tornar explícito seu envolvimento em agressões, é uma ingenuidade e uma falta de compreensão estrutural sobre as dinâmicas construtoras da violência machista.

Por fim, ‘Por que temos sempre a sensação de que partimos do zero’, trouxe uma análise sobre a falta de prioridade em tratar os casos de violência machista nos agrupamentos políticos e na sociedade de um modo geral. E incrível como sempre que ocorre um caso de violência próximo de algumas pessoas sensíveis a compreender tais violências ou dentro de coletivos, a questão e tratada como se tais casos nunca tivessem ocorrido antes. A ideia é que sempre tem que haver, por parte das mulheres e bichas próximas aos casos e envolvidxs, paciência e disponibilidade para pedagogicamente explicar o que é violência contra as mulheres, porque isso ocorre e apontar o porque os caras reproduzem machismos no cotidiano. Um trabalho que parece não ter continuidade ou não e absorvido pelas pessoas e precisa ser constantemente refeito, dando a sensação que sempre partimos do zero quando um novo caso de violência ocorre. O que é por demais cansativo, desestimulante e opressor. As pessoas sensíveis e comprometidas de alguma forma com esse olhar, precisam estar o tempo inteiro dispostas e disponíveis a explicar, ajudar e resolver os conflitos. Percebe-se pouca disposição da sociedade e de alguns grupos políticos para tratar essas questões como prioridades e realidades palpáveis.

No debate, vários temas foram pautados, como a problematização da heterossexualidade (relação entre pessoas de sexos opostos) como manobra para consolidação dos papeis de gênero e submissão feminina, onde o homem da relação, em certa medida, sempre oprime a companheira. A dependência e a dificuldade de rompimento com agressores e cúmplices graças a uma falta de confiança feminina em construir e protagonizar espaços e fazeres políticos que priorizem ambientes de vivência seguros no presente e não as possíveis contribuições que os abusadores podem dar em organizações futuras. A afetividade como aprisionamento e silenciamento de comportamentos violentos e a necessidade de construir uma autoestima em corpos femininos que desperte um senso crítico e localize as consequências dos sentimentos cultivados aos violentadores e seus cúmplices.

O quanto é complexo e doloroso para uma companheira perceber as praticas machistas de seu companheiro e questioná-las, sabendo que dificilmente ele compreenderá realmente a sua condição privilegiada no mundo. Como lidar com isso? Esse foi o ápice da nossa discussão e nos fez perceber que agimos perante a esses problemas de diferentes formas e que o importante é respeitarmos os nossos limites e não darmos passos maiores que as nossas pernas.

Foi a primeira atividade promovida pela ARCA para discussão e trocas de práticas antisexistas em uma perspectiva libertária. Tem ficado cada dia mais clara a importância de promover estes espaços de fortalecimento, para que não sejamos pegas de surpresa e fiquemos perdidas ao sabermos de um caso de agressão e principalmente para criarmos cada vez mais espaços de acolhimento, empoderamento, questionamento e construção coletiva entre as mulheres e bichas. Percebemos que muito do que nos fragiliza é estarmos sós e não encontrarmos guarida e apoio quando nos deparamos com as violências cotidianas.

Construir sororidade, criar estratégias de combate à opressão da cultura machista arraigada em nossas práticas cotidianas e estimular o acolhimento entre as mulheres, bichas e afeminadas é o nosso maior compromisso pessoal, coletivo e politico.

Masculinidade e Violência: uma cultura predatória

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No dia 23 de outubro participamos do debate sobre Masculinidade e Violência apresentado por Daniel Kirjner e promovido pela pela SVB Recife, com uma banquinha de publicações antisexistas e feministas,

Daniel, a partir de uma pesquisa sobre comerciais de tv, trouxe reflexões de como a cultura do estupro, o desejo machulento heterossexista, a objetificação do feminino e o enaltecimento da cultura predatória do macho, estão presentes na construção cultural que prega a ingestão de animais e seus derivados, sendo portanto uma das múltiplas faces da dominação masculina, condição estruturante para a emergência do patriarcado.

A partir dos vídeos e imagens, é notório reconhecer que a  lógica que rege o consumo alimentar de carnes é completamente análoga a lógica heterossexista. Comerciais estadunidensses e brasileiros de rede de fast-foods e da indústria alimentícia apresentam de forma massiva, um conteúdo sexual implícito que sugere o corpo padronizado de mulheres e produtos como hamburguers, ovos, carnes, leites e salsichas, prontos para serem devorados por homens. Considerando isto, Daniel então propõe que a luta antisexista e feminista deve-se aliar com a luta pela libertação animal, pois ambas são lutas contra o patriarcado.

Além da ARCA, o evento contou com a participação do Ativeg Recife, Coletivo Feminista Diadorim, Coletivo Marcha das Vadias (Recife), Dhuzati Coletiva Vegetariana Artesanal, GEMA/UFPE – Núcleo de Pesquisa em Gênero e Masculinidades, Juju Vegan, Liberte e Macacos Me Mordam.

No fim sorteamos uma edição do livro Tesoura para Todas.

Sorteio do Tesoura para Todas no Cultura Veg Especial

No dia do Cultura Veg Especial, promovido pela SVB Recife, a ARCA ira sortear um exemplar do livro Tesoura para todas.
O livro e uma coletânea de textos que relatam experiências de lutas contra o machismo e a favor da construção de uma sociedade livre de violências sexistas. São experiências vivenciadas, principalmente, em Barcelona, na Espanha, mas que em muito se assemelham com a nossa realidade.
E uma leitura estimulante e instigante que ajuda no fortalecimento individual e coletivo das resistências cotidianas contra a sociedade machista e opressora.

Desde já, estamos coletando o nome das pessoas interessadas no sorteio e só finalizaremos a lista de nomes, minutos antes da atividade lá na Livraria Cultura.

Caso deseje participar, ponha seu nome completo no comentário do post na página do evento, (só serão válidos os comentários no post de divulgação que está na página do evento):

Cultura Veg Especial
Masculinidade e violência: Uma Cultura predatória, com Daniel Kirjner

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Apresentação do Tesoura para Todas

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Tesoura para Todas é uma ferramenta coletiva, uma arma lançada para a reflexão, o debate e a ação contra as agressões sexistas.

Diante de uma realidade onde as práticas sexistas são imensamente naturalizadas e reproduzidas dentro de espaços, grupos e por indivíduos que impressionantemente visam combater a cultura sexista, o encorajamento de mulheres, dissidentes sexuais e de gênero, bem como uma análise radical do patriarcado, é uma necessidade urgente.

Esta atividade visa apresentar o livro lançado recentemente pela Editora Deriva e realizar um debate a partir da apresentação de três textos que ilustram bem o contexto político local. Eles nos ajudarão a entender como algumas resistências antisexistas constroem suas combatividades.

A atividade acontecerá dia 11/10 é exclusiva para mulheres e dissidentes sexuais. Devido ao objetivo do encontro a presença de homens cis1 não são pertinentes, por isso desencorajamos qualquer tipo de insistência por parte destas pessoas que detêm amplos privilégios sociais apenas por serem homens, alinhados a masculinidade e heterossexuais.

informações sobre local e mais detalhes informados apenas por email!

versão do livro em pdf: https://we.riseup.net/assets/121348/tesouras%20para%20todas.pdf

Notas

1 – O prefixo latino cis signifca “ao lado de” ou “no mesmo lado de”, foi concebido pelo transfeminismo como estratégia para enfatizar que a sexualidade e o gênero são construções políticas. Deste modo, os termos cisgênero e cissexual refletem a legitimação e concordância de indivídues à identidade de género imposta a partir sua genitália.

Se a violação do nosso corpo é outorgada, a autodefesa torna-se uma necessidade

Breve história dos objetos cotidianos 1

Tão cotidianos como a violência contra as mulheres são os objetos que podem servir para nos defendermos dela.

Defender-se com o que se encontra mais próximo é tão antigo como as agressões que nós, mulheres, sofremos, isto é, quer dizer que vem de muito antes… desde os preparados de água com pimenta como spray das mulheres mexicanas, os alfinetes para evitar abusos indesejáveis no metrô de Tóquio e de São Paulo, as giletes e navalhas malocadas debaixo da língua ou na bolsa das travestis, até a caixinha de khol2, usado para pintar olhos das mulheres marroquinas, dotada habilidosamente de uma lâmina de metal, As mulheres sempre têm utilizado suas invenções para responder à violência machista.3

Em tuas mãos tens uma pequena mostra só para que deixes voar tua imaginação. Mas lembre-se que a confiança em nós mesmas e a solidariedade entre mulheres são nossas melhores armas.

Recuperemos as ruas! Recuperemos a noite!
Recuperemos nossos corpos! Porque você se valoriza

Notas

1 – Texto circulado em 25 de novembro de 2008 nas Acciones descentralizadas (“Ações descentralizadas”) em Barcelona e publicado no livro Tesoura para Todas.

2 – Khol ou kajal é um cosmético de origem oriental, primeiramente usado com o objetivo de proteger os olhos de inflamações e para dar um suave frescor à esta região do rosto. Alguns ainda acreditam que sua aplicação pode espantar maus espíritos.

3 – O texto foi editado e sua tradução alterada baseada no original em espanhol, acrescentando fatos que incorporam a realidade das mulheres brasileiras e trans

Como Fazer um Spray de Pimenta

Alguma vez você já esteve em uma situação em que precisou se defender? Aqui está um método de defesa que dá a você uma grande vantagem, que você pode fazer em casa!

Capturas de tela

 

Materiais Necessários:

Mix de pimentas fortes em pó (pimenta do reino, pimenta malagueta, pimenta calabresa
Suco de pimentas frescas ou plantas tóxicas (taioba brava, comigo ninguém pode)
Sal
Suco de limão
Água Sanitária
Frasco de spray

 

Procedimentos:

670px-Make-Pepper-Spray-Step-21º Passo: Misture os ingredientes secos, logo após experimente para ver quão apimentado está, se estiver o suficiente para te dar lágrimas nos olhos, então está perfeito.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-32º Passo: Adicione o limão e o suco de pimentas frescas ou plantas tóxicas, como a taioba ou comigo ninguém pode. Isso é o suficiente para fazer seu alvo chorar como um bebê.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-43º Passo: Adicionar àgua sanitária irá deixar a poção ainda mais irritante.

 

 

 

 

 

 

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4º Passo: Coloque o líquido num frasco de spray. Se você não tiver um, você pode comprar em uma loja que vendem essências, e artefatos para fabricação de perfumes. É importante que seja pequena suficiente para caber em uma mochila ou bolsa média.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-65º Passo: Agora você possui uma boa defesa para quando estiver sendo perseguido e/ou intimidada.

Avisos

  • Não deixe isso encostar em seus olhos.
  • Não use isso a não ser que você realmente tenha que escapar. Lembre-se, não há a necessidade de cegar alguém temporariamente, por brincadeira.
  • Não borrife isso em animais a não ser que eles apresentem um real risco de vida para você.
  • O uso do spray de pimenta por civis pode ser ilegal em alguns lugares. Saiba que você corre o risco de ser detida por portar um objeto como este.

 

Receita de spray de pimenta  adaptada do original disponível no Wikhow