Denúncia de agressão física, psicológica e material do militante anarquista Vinícius Mojica (AVISO DE ACIONADOR: Descrição das violências sofridas)

tumblr_inline_nolzprsJCM1tnr3jo_400Vinícius Mojica Agressor Machista protagonizou atos de violência por três anos em uma relação heteroafetiva com uma companheira militante anarcofeminista. As violências começaram com a quebra de objetos por parte de Vinícius Mojica durante discussões entre o casal, prática que se tornou recorrente durante toda a relação. Vinícius Mojica cumpria o ciclo da agressão ao intercalar atos de raiva seguidos de arrependimento, do qual sua companheira foi refém durante toda a relação. Usava as expressões: “vou mudar”, “serei melhor”, “preciso da sua ajuda pra ser melhor”.

Como todo anarcomacho restringia sua prática de apoio mútuo às atividades públicas. Recusando reconhecer que o pessoal é político, Vinícius Mojica explorava sua companheira ao negligenciar as tarefas domésticas no período em que moraram juntxs. Vinícius Mojica produzia violência psicológica ao inverter a posição de vítima/agressor acusando sua companheira de privá-lo de seus horários e de sua rotina e de estimular nele comportamentos agressivos, o que configura culpabilização da vítima pela violência sofrida. Sua companheira foi desse modo sendo levada a acreditar que era responsável pelas agressões que sofria.

Vinícius Mojica foi gradualmente expandindo a escala de violências materiais: de copos, garrafas, pratos e mesa passou a quebrar janela, vidro da janela, vitrola, HD externo com quatro anos de dados de trabalho de sua companheira, tela de um computador, geladeira, fogão, liquidificador, espremedor de laranja, televisão, celular e vasos de plantas.  Quando era colocado para fora de casa quebrava a porta para entrar, violência que se repetiu diversas vezes.

Vinícius Mojica introduziu o registro do medo em sua companheira conscientemente através de ameaças constantes: ameaçou rasgar documentos de trabalho e ameaçou com um martelo quebrar o computador de sua companheira. Vinícius Mojica jogou álcool no quarto com uma amiga de sua companheira dentro e ameaçou queimar a casa.

Vinícius Mojica agrediu fisicamente sua companheira em repetidas situações: imobilizou e torceu seu punho por mais de uma vez, gerando a necessidade de acompanhamento médico e medicamentoso; derrubou sua companheira e a chutou quando ela estava caída no chão.

A lesão que Vinícius Mojica provocou no punho de sua companheira, mais de uma vez, a afastou de suas atividades profissionais por mais de cinco meses uma vez que ela trabalha com práticas desportivas, necessitando do corpo, principalmente do punho. Vinicius Mojica quis incapacitar sua companheira de exercer sua profissão. Esse dano exige hoje que ela faça fisioterapia para recuperar as funções do punho e voltar ao trabalho, ocasionando até o momento um gasto de mais de R$ 1.500,00 para a vítima.

Vinícius Mojica humilhou, ofendeu e desqualificou sua companheira pessoal-profissional-politicamente.

Diante da possibilidade de ser denunciado, Vinícius Mojica disse claramente: “SE EU SEREI ESCRACHADO PELO MENOS VOU FAZER BEM FEITO”. Nesse momento derrubou sua companheira na cama, subiu em cima dela e a espancou com socos na cabeça, dizendo que seu lugar era embaixo dele e que estava feliz em vê-la ali. Vinicius Mojica estrangulou sua companheira até que ela ficasse sem ar; arrastou sua companheira no chão puxando-a pela perna. Vinícius Mojica demonstrou que tinha absoluta consciência do que estava fazendo.

Depois da última agressão, Vinícius Mojica fugiu para Belo Horizonte, dando continuidade as suas atividades políticas silenciando as violências praticadas no Rio de Janeiro. Sua então ex companheira receia retaliações após a publicização desta carta de denúncia.

Vinícius Mojica é um agressor machista misógino que ameaça e espanca mulheres e não tem o direito de circular nos espaços de luta política que tem como princípio a autonomia e a autodeterminação das mulheres.

Agressores Machistas não passarão e não serão tolerados nos espaços de luta política! A solidariedade masculinista não será tolerada! Coletivos omissos corroboram a agressão!

Coletivas que assinam a Denúncia:

Coletiva Feminista Maria Bonita/RJ
BeijATO
Cinequeer
Pagufunk
Transrevolução/RJ
Coletivo de Auto-Defesa Feminista
Coletive Q?

Rio de Janeiro, abril de 2015.

Release: relançamento/apresentação do ‘Tesoura para Todas’

Captura de tela inteira 26102014 190237.bmpO relançamento/apresentação do livro Tesoura para Todas, aconteceu no último dia 11 de outubro. O objetivo foi apresentar os três primeiros textos e contextualizar a construção do livro para a partir disso iniciar uma roda de diálogos sobre os temas apresentados e as vivências das pessoas presentes.

Contamos com a presença de companheiras de Belo Horizonte e Brasília, que trouxeram relatos sobre abusos e agressões machistas, como o caso do 1º Queer Fest Brasília. Também se fizeram presentes algumas companheiras da Convenção Histérica, que trouxeram e distribuíram entre os presentes, uma edição, diagramada em formato livreto, da carta/denuncia contra o ex-integrante do Laboratório de Mídias Autônomas e seus cúmplices, companheiros de coletivo.

O primeiro texto apresentado foi o ‘Feminismo não é um assunto de mulheres’. O manifesto, ressalta a ineficiência dos grupos políticos em tratar coletivamente casos de machismo. Levar este debate não é uma obrigação, somente, das mulheres, mas uma iniciativa que deve ser individual, coletiva e partir de TODXS. Apesar de sabermos que são as oprimidas que levantam e problematizam estas questões inicialmente, o desenrolar de cada caso que vivenciamos, ou do qual temos notícia, denota ser falida a estratégia “vamos deixar mulheres e bixas discutirem o machismo.” Na prática, quando se joga para segundo plano estas questões, cria-se um ambiente de conforto para a manutenção dos privilégios masculinos e não se estimula a desconstrução de práticas machistas cotidianas na vida de todxs. O resultado é a reprodução pública e privada de violências e a legitimação da opressão contra as mulheres. Um papo a passo perigoso, que vimos se reproduzir cotidianamente em vários lugares e mais recentemente se repetiu na cidade.

Na exposição do segundo texto, ‘Rompendo Imaginários: Maltratadores politicamente corretos’, foi enfatizada a sofisticação das praticas machistas em aperfeiçoar contextos de violência e as estratégias de invalidar as denuncias das vítimas para assegurar aos homens a condição de agressores e perpetuar os cenários das violências.

Foi trazido que firmeza, impositividade, seriedade, frieza – no sentido não passional – e lucidez – no sentido não histérico – são elementos presentes na ideia de masculinidade e não por acaso, características que constroem confiança nas pessoas, além de serem comportamentos ensinados, praticados e cobrados por homens. Temos visto que quem não se utiliza desses artifícios, supostamente racionais e totalmente masculinos, está pronta para ser desacreditada. A insegurança evidente da vítima, a falta de conforto para relatar detalhadamente as agressões, a instabilidade emocional são comumente usados como argumentos para não levar a sério os relatos e denuncias das vítimas. A cobrança de determinadas posturas e a não preocupação em ter a cautela necessária para confortar a vítima, resulta numa repetição da violência, proteção do agressor e impossibilidade de problematização destas questões.

A pessoa que apresentou o texto ressaltou que a identidade masculina, acostumada a exercer superioridade, decidir situações e impor suas vontades, é o elemento propulsor da execução da violência sexista, fazendo com que os homens em conformidade com gênero e sexualidade imposta pelo heterocapitalismo, sejam potenciais abusadores, agressores e violentadores. Perceber a condição da violência associada à identidade masculina, acaba com o mito do agressor politicamente incorreto e com a proteção dos abusadores que não apresentam na vida pública, comportamentos brutos, grossos e estúpidos. Surpreender-se com qualquer homem, por mais sensível que ele se apresente, ao tornar explícito seu envolvimento em agressões, é uma ingenuidade e uma falta de compreensão estrutural sobre as dinâmicas construtoras da violência machista.

Por fim, ‘Por que temos sempre a sensação de que partimos do zero’, trouxe uma análise sobre a falta de prioridade em tratar os casos de violência machista nos agrupamentos políticos e na sociedade de um modo geral. E incrível como sempre que ocorre um caso de violência próximo de algumas pessoas sensíveis a compreender tais violências ou dentro de coletivos, a questão e tratada como se tais casos nunca tivessem ocorrido antes. A ideia é que sempre tem que haver, por parte das mulheres e bichas próximas aos casos e envolvidxs, paciência e disponibilidade para pedagogicamente explicar o que é violência contra as mulheres, porque isso ocorre e apontar o porque os caras reproduzem machismos no cotidiano. Um trabalho que parece não ter continuidade ou não e absorvido pelas pessoas e precisa ser constantemente refeito, dando a sensação que sempre partimos do zero quando um novo caso de violência ocorre. O que é por demais cansativo, desestimulante e opressor. As pessoas sensíveis e comprometidas de alguma forma com esse olhar, precisam estar o tempo inteiro dispostas e disponíveis a explicar, ajudar e resolver os conflitos. Percebe-se pouca disposição da sociedade e de alguns grupos políticos para tratar essas questões como prioridades e realidades palpáveis.

No debate, vários temas foram pautados, como a problematização da heterossexualidade (relação entre pessoas de sexos opostos) como manobra para consolidação dos papeis de gênero e submissão feminina, onde o homem da relação, em certa medida, sempre oprime a companheira. A dependência e a dificuldade de rompimento com agressores e cúmplices graças a uma falta de confiança feminina em construir e protagonizar espaços e fazeres políticos que priorizem ambientes de vivência seguros no presente e não as possíveis contribuições que os abusadores podem dar em organizações futuras. A afetividade como aprisionamento e silenciamento de comportamentos violentos e a necessidade de construir uma autoestima em corpos femininos que desperte um senso crítico e localize as consequências dos sentimentos cultivados aos violentadores e seus cúmplices.

O quanto é complexo e doloroso para uma companheira perceber as praticas machistas de seu companheiro e questioná-las, sabendo que dificilmente ele compreenderá realmente a sua condição privilegiada no mundo. Como lidar com isso? Esse foi o ápice da nossa discussão e nos fez perceber que agimos perante a esses problemas de diferentes formas e que o importante é respeitarmos os nossos limites e não darmos passos maiores que as nossas pernas.

Foi a primeira atividade promovida pela ARCA para discussão e trocas de práticas antisexistas em uma perspectiva libertária. Tem ficado cada dia mais clara a importância de promover estes espaços de fortalecimento, para que não sejamos pegas de surpresa e fiquemos perdidas ao sabermos de um caso de agressão e principalmente para criarmos cada vez mais espaços de acolhimento, empoderamento, questionamento e construção coletiva entre as mulheres e bichas. Percebemos que muito do que nos fragiliza é estarmos sós e não encontrarmos guarida e apoio quando nos deparamos com as violências cotidianas.

Construir sororidade, criar estratégias de combate à opressão da cultura machista arraigada em nossas práticas cotidianas e estimular o acolhimento entre as mulheres, bichas e afeminadas é o nosso maior compromisso pessoal, coletivo e politico.