Relato de Agressão Machista na cena punk de Fortaleza – CE

Compartilhamos um relato de agressão machista cometido por João Bruno Veras, macho anarcopunk de Fortaleza. Sabe-se que o agressor compõe espaços anarquistas e punks na cidade, é conhecido em outras articulações e agitações deste campo político a nível nacional, além de ser responsável por outros casos de agressão, violência, ameaças e intimidações compartilhados em redes de apoio e combatividade feministas, queers e transfeministas. Esperamos que este relato impulsione e estimule as companheiras agredidas a compartilharem suas vivências e sirva para criar um cenário de debate coerente, combate e autocrítica na movida anarcopunk, de modo a assumir os recorrentes e abomináveis casos de violência sexista e misógina dentro de okupas, centros culturais e demais espaços construídos nesta perspectiva política. Cada vez são mais fortes os relatos sobre o pífio debate a cerca do patriarcado e teoria queer desdobrando-se em posturas antifeministas, bem como a rasa visão sobre violência de gênero que não permite construir uma prática coerente para a abolição do gênero.

Paga de libertário mas é ANARCOMACHO tem que cortar a pica do macho transtornado.

Carta de denuncia antifascista contra JOÃO BRUNO VERAS, intitulado ANARCO PUNK.

PUNKMACHOAlerta: Machista escroto agride uma mulher covardemente e sai ileso da cena.

O que é ser punk? Ontem, por volta das 02:00 horas, estávamos, eu e mais quatro amigos voltando do nosso role, quando sem mais nem menos aparecem em torno de seis ou mais “anarco punks”. Alguns conhecidos como: Johnny, Adriano e Bruno, esses e os demais não reconhecidos por mim, reivindicavam o espaço deles em um local público, nos fazendo perguntas banais do tipo: Com quem falamos,com quem andamos, o que fazemos,etc… Agindo como uma espécie de escolta policial, eles vieram pra cima de nós com armas brancas e de forma agressiva sem qualquer explicação aceitável. Eles alegavam também “ser do contra” o “Street punks oi!”,que na verdade é denominado um estilo de música que surgiu em meados de 1969, cujo algumas pessoas se uniram nessa mesma época e criaram uma certa “UNIÃO” entre punk’s e Skin Heads, conhecida como União Oi! Perguntamos o porque de todos esses questionamentos e porque existe esse conflito infame toda vez que nós nos cruzávamos nas ruas. Nenhuma resposta era aceitável! Na verdade, a cena local daqui é completamente vaga da presença desses coadjuvantes e infantis machistas que se auto intitulam Anarco Punk’s. Eles dizem que nós somos uma vergonha pra essa tal cena punk que dizem construir aqui em Fortaleza-Ce, mas quando perguntamos para eles onde eles estavam na hora dos atos,  das lutas contra a destruição do patriarcado, contra o machismo e as demais lutas cotidianas, um deles Johnny nos responde com seu ego inflado:

“Esse é meu visual, essa é minha luta e não preciso provar nada pra ninguém.” ???????????????????????????????????????????????????

Diante desses questionamentos, um deles: João Bruno Veras, que mais aparentava que estava ali apenas para causar conflito, quase nos atingiu com uma garrafa de vidro, depois de nos esquivarmos fomos tentar revidar a agressão, mas João Bruno, ME ATINGIU COVARDEMENTE COM UM SOCO NO ROSTO e após isso saiu correndo como um cão covarde foge da luta, o soco foi tão forte que eu caí no chão com o nariz sangrando enquanto os outros amigos do Bruno tentavam agredir os meus amigos que ali estavam no local. Já não basta ter que lutar toda hora contra essa opressão que é o machismo e a sociedade, ainda ser atingida por um macho escroto que não teme em agredir mulheres nas ruas? Vocês não representam nem 1% da luta a favor da desconstrução do machismo, e se agrediu uma agride todas sem pensar duas vezes. Essa atitude não é antifascista! Isso não é exemplo pra juventude. Que tipo de exemplo vocês pretendem passar pra juventude? Esse: Causando conflitos por motivos infames e sem qualquer importância maior, agindo como crianças e batendo em mulheres? Recado: Quem compactua com eles é farinha do mesmo saco! Bruno, você é um covarde, agressor machista escroto merece sofrer. O sangue foi derramado, uma mulher foi agredida, isso ainda não acabou!

Porque morder uma orelha de um policial pode ser uma atitude de autodefesa

Verônica Bolina
Verônica Bolina

Como o braço armado do heterocapitalismo trata corpos trans?

Como a mídia corporativa comprometida com a informação enquanto produto retrata corpos trans?

Como a sociedade transfóbica e misógina vê uma violência aos corpos trans?

Convencer as pessoas que um corpo trans é responsável pela violência que sofre é a estratégia mais básica de qualquer exercício de dominação e controle patriarcal. Agressão a uma idosa, a masturbação enquanto estava detida e o ataque a um agente policial são “infrações” que justificariam toda violência. Justificariam a tortura, os abusos e o autoritarismo que Verônica sofreu por parte da instituição “pacificadora”, ou melhor, exterminadora de minorias sociais, a polícia.

Consideramos que um ato de agressão contra uma idosa pode sim configurar machismo e um perfeito exercício de tirania e covardia, e por isso Verônica supostamente pode ter reproduzido uma atitude de superioridade e violência de cunho machista contra Dona Laura. Mas, a partir daí, mesmo que ela a tenha agredido justificaria a violência pela qual ela fora submetida pela polícia? Alexandre Nardoni, Guilherme de Pádua, o goleiro Bruno e os irmãos Cravinhos que cometeram crimes hediondos que chocaram a sociedade e apresentaram nível de brutalidade, frieza e ardilosidade repugnantes, por acaso, foram violentados de alguma maneira? Foram linchados e torturados por serem criminosos? Não, não foram.

Agressão policial
Agressão policial contra Verônica

No Brasil, pensar na grande probabilidade de ocorrência de violência transfóbica quando se analisa qualquer caso de denúncia de agressão praticada por pessoas trans não é vitimismo, não é inferir demais, é uma questão de lógica. Em 2014 50% dos assassinatos de pessoas trans de todo o planeta foram cometidos no Brasil. E São Paulo foi o estado com mais assassinatos, em termos absolutos, de pessoas trans em 2014. (Relátorio 2014 – Grupo Gay da Bahia) A violência contra pessoas trans é tida como normal e banal, é a piada pronta em canais de mídia corporativa. Sendo assim, existe um questionamento que deve ser colocado: será que Verônica, não tentou defender-se da transfobia praticada pela polícia

Condenamos e repudiamos os possíveis atos praticados por Verônica bem como suas imagens com um rosto desfigurado, calças rasgadas justamente na parte traseira, cabelos raspados e os seios a mostra. Da mesma forma que nenhum tipo de transfobia justificaria qualquer agressão desigual à Dona Laura, nos soa extremamente hipócrita e demagogo a solidariedade oportunista com a idosa sem reconhecer a violência que Verônica sofreu apenas por não está alinhada as convenções patriarcais de sexo/gênero.

Humilhada, violentada e completamente destituída da sua dignidade. Sem cabelos, sem roupas, sem proteção, o caso Verônica Bolina explicita que a polícia, enquanto instituição, declarou uma guerra brutal contra nossos corpos e contra a existência de pessoas trans.

Por entender a polícia como uma sofisticada máquina produtora de repressão e propaganda de valores patriarcais e opressivos, nos posicionamos contra ela. Não somos convencidas e nem damos credibilidade aos discursos e versões oficiais de uma instituição que se consolida a custa do sangue de pessoas negras, indígenas e pobres. Não respeitamos uma instituição que se fortalece a partir da misoginia e agride cotidianamente milhares de mulheres, homossexuais e pessoas trans. Repudiamos todos os veículos jornalísticos que insistem em tratar Verônica como traveco e homem, expondo seu nome civil, adjetivando-a no masculino, transformado-a em uma agressora desequilibrada, em uma coisa, em um nada. A mídia corporativa não se utiliza da sua função informativa e crítica para denunciar o Estado e responsabilizá-lo pelo que ocorreu, pelo contrário, enaltece o senso comum e, dessa forma forma, colabora com a naturalização e perpetuação da violência contra pessoas trans.

https://www.youtube.com/watch?v=qaoKy1Pqn-0

Para quem se chocou com a orelha mordida do policial, o que vocês fariam no lugar de Verônica? Acreditamos que isto foi um ato de resistência!

Neste momento de profunda dor e extrema revolta, desafiamos homossexuais, mulheres e pessoas trans que compõem a polícia a se posicionarem contra tamanha violência, questionando os desmandos destas instituições e pondo em cheque os privilégios e a autoridade que recebem ao se venderem para ser braço armado e exterminador do Estado. Desafiamos o Estado Democrático de Direito a fazer valer a justiça patriarcal aos responsáveis e cúmplices das torturas cometidas contra Verônica. Lembramos que no Brasil as denúncias de violência contra a população sexo dissidente aumentaram cerca de 460%, totalizando mais de 6,5 mil casos de espancamentos e assassinatos, fazendo do Brasil o país mais perigoso para pessoas trans do mundo.

Por fim fazemos uma defesa da autodefesa praticados por mulheres cis e trans. É urgente que nos organizemos e aprendamos a proteger a nós e as nossas irmãs. Desejamos que a violência afeminada seja nossa força e fonte de resistência, que não seja recriminada, como se a nossa autodefesa fosse um exagero, uma loucura ou incetivadora de outras violências. Essa é a forma que encontramos para sobreviver diante da guerra declarada.

Nos armar, empoderar, resistir e cuidar das nossas irmãs é a mensagem da ARCA.

TODO REPÚDIO À TODA FORMA DE TRANSFOBIA E MISOGINIA

SOLIDARIEDADE À VERÔNICA BOLINA E TODAS TRANSEXUAIS VÍTIMAS DOS DESMANDOS DO PATRIARCADO.

PELA DESTRUIÇÃO DA POLÍCIA E DO ESTADO.

ARCA – Articulação Combativa Antisexista

 

Verônica Bolina

Não há nada mais parecido com um machista de direita do que um machista de esqueda, sobre Carlos Latuff e Idelber Avelar

tumblr_inline_ng4qziMJ8r1qgx5ilTempos onde a naturalização do machismo se expressa e é defendida com tanta veemência, são bem difíceis.

São tempos que um macho de esquerda publica uma foto claramente objetificada sobre ’marquinhas de biquinis’, reforçando estereótipos do corpo feminino como produto de consumo masculino.

São tempos que este mesmo macho de esquerda tenta deslegitimar um movimento, porque foi apontando, questionado e acusado de proferir ideais machistas.

São tempos onde aquele macho de esquerda esquece de que assédios, abusos, agressões e violências por parte de homens heterossexuais, são absolutamente comuns, e a partir disso, tenta garantir a defesa de outro macho abusador, que ocupa altas posições de poder, ignorando toda a relação injusta que vítimas e acusado ocupam.

São tempos onde um abusador tenta se esconder atrás de uma carreira profissional de alto prestígio social e usa covardemente seu poder para sugerir que um macho com 29 anos de magistério, centenas de ex-alunas, dezenas de ex-orientandas já professoras e ZERO reclamações formais por seu comportamento com mulheres dentro de sala de aula ou na universidade, está imune de cometer abusos e violências machistas.

10353711_850456851643545_3063212563466139509_nSão tempos onde a heterossexualidade não é devidamente problematizada pela dita esquerda como um regime político. Onde os desejos heterossexistas não são vistos como uma produção moderna e científica baseada em estudos que tem localização política controversa ou hegemônica, claramente comprometidas com o sistema capitalista e a opressão misógina.

São tempos que o tal macho de esquerda desenha a incapacidade de materializar o machismo nos sujeitos que mais se beneficiam dele, pq para ele ir contra o machismo nada tem a ver com ir contra os homens que o reproduzem.

São tempos que conversas seguem o norte e os interesses de alguém que usa seus privilégios sociais e sua retórica politicamente correta para explorar a fragilidade de mulheres usando o jargão ‘consensualidade’, reduzindo e mascarando sua prática machista e abusadora.

São tempos onde termos como misandria, racismo reverso, heterofobia e preconceito contra ricos, ganham forma para não se voltar ao questionamento à quem exerce o poder e minar qualquer debate com a jocosa apelação de discurso de ódio contra quem explora.

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Latuff nunca se aproximou tanto de Kátia Abreu, PT e do Estado que ele tanto crítica.
Idelber tenta intimidar as vítimas com ameaças jurídicas e penais na justiça patriarcal, feita e executada por homens.
E o Feminismo segue firme em acusar, denunciar e desmascarar estes escrotos.

Na madrugada do último domingo o cartunista fez uma retratação. Porém, a charge que deslegitima o feminismo radical ainda continua em sua página, bem como o post sobre marquinhas de biquínis e seu apoio a Idelber. É claro que retratações e recuos podem ser uma expressão de sensibilidade, autocrítica e arrependimento por atitudes equivocadas, mas considerando o machismo no âmbito das relações de poder, não se pode negar sua dimensão estratégica, de, ao assumir o erro, recuperar o prestígio abalado e continuar sendo reconhecido como aliado do feminismo.

1891404_446496092155680_4763055562657587360_oComo muito bem disse, Natália Leon, O machismo não está aí pra ser desculpado, mas pra ser denunciado. Enquanto as pessoas parabenizam-no pela sua atitude e compartilham suas desculpas devolvendo-lhe a confiança outrora ameaçada, nós cremos que nenhuma desculpa atenua ou sara a dor de uma violência cometida. E antes que nos acusem de insensíveis, rancorosas ou vingativas, afirmamos que a questão é sobre a responsabilidade de suas ações e estas não serão menos graves devido a uma retratação tão sutil. O machismo naturalizado deste homem pede uma posição sensata e não a ingenuidade de repositar imediatamente uma confiança. Por já ter sido vítimas, estamos na defensiva em constante alerta.

De toda forma, este episódio serviu para deixar as nojeiras e os jogos de manipulação e dominação bem explícitos. Suas posturas infelizes já mancharam suas vitrines políticas para muitos setores e correntes que leva esta luta e este movimento a sério, e isto, a longo prazo, trará muitos resultados.

 

 

PARA MAIS INFORMAÇÕES:
Sobre as vítimas e os nossos desafios – Passa Palavra
Caso Idelber: Não é do campo judiciário ou moral, mas ético e político – Revista Fórim
Solidariedade total às vítimas; Autodefesa frente ao algoz machista; Desconstrução cotidiana dos machismos! – Mães de Maio