Masculinidade e Violência: uma cultura predatória

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No dia 23 de outubro participamos do debate sobre Masculinidade e Violência apresentado por Daniel Kirjner e promovido pela pela SVB Recife, com uma banquinha de publicações antisexistas e feministas,

Daniel, a partir de uma pesquisa sobre comerciais de tv, trouxe reflexões de como a cultura do estupro, o desejo machulento heterossexista, a objetificação do feminino e o enaltecimento da cultura predatória do macho, estão presentes na construção cultural que prega a ingestão de animais e seus derivados, sendo portanto uma das múltiplas faces da dominação masculina, condição estruturante para a emergência do patriarcado.

A partir dos vídeos e imagens, é notório reconhecer que a  lógica que rege o consumo alimentar de carnes é completamente análoga a lógica heterossexista. Comerciais estadunidensses e brasileiros de rede de fast-foods e da indústria alimentícia apresentam de forma massiva, um conteúdo sexual implícito que sugere o corpo padronizado de mulheres e produtos como hamburguers, ovos, carnes, leites e salsichas, prontos para serem devorados por homens. Considerando isto, Daniel então propõe que a luta antisexista e feminista deve-se aliar com a luta pela libertação animal, pois ambas são lutas contra o patriarcado.

Além da ARCA, o evento contou com a participação do Ativeg Recife, Coletivo Feminista Diadorim, Coletivo Marcha das Vadias (Recife), Dhuzati Coletiva Vegetariana Artesanal, GEMA/UFPE – Núcleo de Pesquisa em Gênero e Masculinidades, Juju Vegan, Liberte e Macacos Me Mordam.

No fim sorteamos uma edição do livro Tesoura para Todas.

Em legítima defesa, por Elizandra Souza

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Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR
Já estou vendo nos varais os testículos dos homens que não sabem se comportar
Lembra da Cabeleireira que mataram, outro dia?
E as pilhas de denuncias não atendidas?
Que a notícia virou novela e impunidade?
É mulher morta nos quatro cantos da cidade…?

Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR
A manchete de amanhã terá uma mulher dizendo:
– Matei! E não me arrependo!
Quando o apresentador questiona ela simplesmente retocará a maquiagem.
Não quer parecer feia quando a câmera retornar
e focar em seus olhos, em seus lábios…

Só estou avisando
VAI MUDAR O PLACAR
Se a justiça é cega, o rasgo na retina pode ser acidental
Afinal, jogar um carro na represa deve ser normal,
Jogar a carne para os cachorros, procedimento casual,

Só estou avisando
VAI MUDAR O PLACAR
Dizem, que mulher sabe vingar
Talvez ela não mate com as mãos, mas mande trucidar..
Talvez ela não atire, mas sabe como envenenar…
Talvez ela não arranque os olhos, mas sabe como cegar…

Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR

Elizandra Souza, Águas da Cabaça
2012

YJA Star – Um exército feminista

foto_1%20(9)YJA STAR é o nome da milícia feminina combativa do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), um movimento de guerrilha que desde os anos 70 está envolvido numa longa guerra contra o Estado turco. A sigla remete a Yekîtiya Jinen Azad, que significa Unidade da Mulher Livre, STAR é uma referência à deusa mesopotâmica Ishtar.  A representação de mulheres no PKK existe desde a fundação do partido, na década de 1970, tanto na organização, quanto em seus grupos de trabalhos.

A ideologia da YJA STAR é idêntica a da organização-mãe: criação de uma estrutura municipalista libertária, criando comunidades livres auto-gestionadas com base nos princípios de democracia direta, libertação das mulheres e renovação ecológica.  Desta forma, a proposta que fazem é de que a luta das mulheres curdas possam tornar um modelo para um movimento global em direção a uma democracia genuína, uma economia cooperativa e a dissolução gradual do Estado-nação burocratizado.

A crítica política do grupo perpassa questões fundamentais sobre direito à autodefesa e sobre a dominação masculina em âmbitos estruturais, baseadas em análises sobre os valores patriarcais presentes nos paradigmas morais religiosos, que proporcionaram uma grande mudança na ocupação humana no globo.

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“O significado do conceito das divisões que compõem o nome do nosso progresso e desenvolvimento da política participativa, como por exemplo, o direito das mulheres de organização sua autodefesa, mais do que qualquer outra coisa é um trabalho que necessário. A exposição das mulheres é para construir contra-revolução de uma realidade que começou com o sistema de dominação masculina, não só em termos de gênero, mas para o nosso planeta que atingiu níveis irreversíveis e irreparáveis de devastação. Por esta razão, desenvolvermos mecanismos de autodefesa apenas para nós mesmas não será suficiente. O que aflige o nosso mundo e a fonte da dominação masculina e para realizar a luta contra o Estado militarista devemos desenvolver uma outra estruturação.

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“A mulher nasce em uma atmosfera de desigualdade social causada pelo sexismo e privadas de direitos básicos. Todos os tipos de crescimento saudável, formação e sustentação da vida longe de todas as instalações de dependência, são renegadas as mulheres. Como resultado, elas não têm conhecimento de seus direitos e liberdades.

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“Ausentes da esfera pública, as mulheres devem superar os mecanismos políticos que excluíram-nas das tomadas de decisões.  A mulher foi condenada à uma vida “home oikos-custom” e para se livrar dos círculos fascistas é essencial considerar isto. Neste contexto, o movimento das mulheres curdas reivindicam a liberdade delas nas instituições, organizações sociais e militares e nos campos ideológicos criados por homens. Com muitas dificuldades, nossa organização tem sido capaz de descobrir nestes esforços um patrimônio muito importante, refletindo um sucesso nas nossas reivindicações a partir do direito fundamental da mulher à sua auto-defesa e na construção da política participativa.”

 

Referências:

Porque o mundo ignora os revolucionários curdos na Síria – David Graeber
YJA STAR – Site Oficial

Mulheres indianas unidas pela resistência e pela violência afeminada

10710574_379196625566739_252288507994663387_nA Índia é apenas um dos muitos lugares do mundo onde o patriarcado conseguiu, de forma peculiar, trazer os dogmas religiosos que engendrou, como artifício para estruturar com a sociedade, violentando mulheres.

O rígido sistema de divisão de castas resulta num brutal feminicídio e numa castração absoluta de direitos e liberdade das mulheres.  Seus destinos já estão traçados: abusos sexuais, estupros, abortos e abandonos de bebês apenas por serem meninas, mutilações e agressões físicas.

Muitas famílias indianas, mesmo as mais ricas, veem o nascimento de uma menina como um desperdício, um problema financeiro. Elas representam gastos com educação, sistemas de repressão, alimentação e, para casar uma filha, é preciso juntar um grande dote, ou seja, dar presentes para a família do macho.

A misoginia se intensifica em casos que mulheres esperam filhas gêmeas: as práticas mais comuns que as famílias exercem sobre as mulheres são a pressão para abortar, a tortura e a interrupção da alimentação.

A pediatra Mitu Khurana é uma das poucas ativistas que usam sua própria história como exemplo para mostrar como esse costume está alterando a balança de gênero no país. Quando Mitu recebeu a notícia do médico de que estava grávida de gêmeas, sua felicidade foi imensa. Contudo, ao chegar em casa, seu marido e a família dele estavam de luto e disseram que não poderiam criar duas meninas. Apesar da pressão, Mitu não terminou a gravidez e deixou o marido, alegando abuso por parte dele e dos sogros. Com o apoio de seus pais, Mitu embarcou em uma luta (também no campo legal) contra esse tipo de atitude, segundo ela “Na Índia, esses abortos se tornam uma indústria milionária”.

É  uma realidade extremamente insegura, violenta e brutal que impulsiona a necessidade de uma resistência e um combate à altura, que traga contundência e eficácia para desmistificar a fragilidade e violabilidade associada ao corpo das mulheres. De fato, é preciso ressaltar a importância dos trabalhos que visam conscientizar, ilustrar e propagar a responsabilidade masculina no contexto de violência à mulher, mas ao mesmo tempo, é urgente deixar claro, que a força motriz que engendra a violência não é a falta de esclarecimento ou ignorância masculina e sim a relação desigual de poder que homens detém na sociedade e usam como forma de oprimir mulheres e demais dissidentes da normativa masculina. O que muitas mulheres indianas se convenceram é de que as violências misóginas só chegarão ao fim a partir da organização de mulheres numa combatividade efetiva e direta contra as ameaças que tange seus corpos.

O vídeo abaixo mostra um recrutamento combativo feminino para punição de homens que tentaram estuprar mulheres. No ocidente,  cenas como esta chocam a racionalidade patriarcal e os olhos cegos à dura realidade misógina, sob a justificativa piegas de que violência gera mais violência.

“Se retirarmos esta filosofia da arena política impessoal e a colocarmos num contexto mais real, a não violência implica na crença de que é imoral que uma mulher se defenda de um agressor ou que aprenda autodefesa. A não violência assume que para uma mulher maltratada seria melhor partir, ao invés de se mobilizar em um grupo de mulheres e dar uma surra no marido agressor, escurraçando-o de casa1. A não violência afirma que é melhor ser estuprada do que tirar uma caneta do bolso e afundá-la na jugular do agressor (porque fazê-lo seria supostamente alimentar um ciclo de violência e fomentar futuras violações). O pacifismo simplesmente não tem ressonância nas realidades diárias das pessoas, a menos que estas pessoas vivam em um extravagante mar de tranquilidade, em que toda forma de violência civil, reativa e pandêmica, tenha sido expulsa pela violência sistêmica menos visível da polícia e das forças militares.”

Peter Geoderloos – Como a não violência é patriarcal, capítulo 4 do livro Como a não violência protege o Estado.

Na cidade de Bundelkhand, no estado de Uttar Pradesh, norte da Índia, mais de 10.000 mulheres entre 22 e 50 anos compõe o Gulabi Gang. As mulheres da gangue rosa vão às casas dos maridos violentos com varas de bambu, ameaçando-os a menos que parem de abusar de suas esposas. A maioria das mulheres da gang são dalits (considerada a casta mais baixa indiana, ou “os intocáveis”) e não por acaso, a casta que contém o maior número de mulheres abusadas, machucadas e assassinadas.

Em 2008, elas invadiram um escritório da companhia energética do distrito de Banda e obrigaram funcionários a restabelecer a energia que tinha sido cortada para extrair propina e subornos. Elas também brigaram pelo fim do casamento infantil e pela alfabetização das mulheres.

ativistaspink_2E porque é preciso ter uma “gangue” para ajudar mulheres em Bundelkhand? Essa aérea superpovoada é palco de guerras diárias contra uma sistema político corrupto, terras inférteis e o patriarcal sistema da hierarquia de castas.

Em sua curta existência, o grupo já enfrenta acusações de tumultos, ataque aos funcionários do governo, reunião ilegal e obstrução da justiça. Meses atrás, após o estupro de uma mulher dalit por um homem de uma casta superior, a polícia sequer registrou o caso. Moradores que protestavam foram presos. A gangue buscou justiça e  invadiu a delegacia de polícia, exigindo que os aldeões fossem liberados e que fosse registrada uma queixa contra o agressor. Quando o policial se recusou a cumprir tal pedido, a quadrilha atacou a delegacia com as varas de bambu e um inquérito contra o criminoso está em andamento agora.

O Gulabi Gang é um exemplo de união e solidariedade entre mulheres e tem muito a oferecer ao contexto de violência vivenciado por mulheres, lésbicas, bichas afeminadas e pessoas trans no Brasil.  A forma de ativismo do Gulabi Gang é ação direta, que se empenha não apenas em questionar as condições da mulher, como também em oferecer suporte àquelas que se encontram em situações de risco.  Esses esforços nos acordam para a realidade de violência que atinge milhares de mulheres diariamente, um tipo de experiência insubstituível, cuja lacuna não pode ser preenchida por nenhum estudo acadêmico.

Notas

1 – Esta última estratégia tem sido aplicada com sucesso em muitas sociedades antiautoritárias ao longo da história, incluindo a Igbo, na Nigéria, hoje. Por exemplo, ver Judith Van Allen, “‘Sitting on a Man’, Colonialism and the Lost Political Institutions of Igbo Women”, Canadian Journal of African Studies, v. 2, 1972, p. 211-219.

Se a violação do nosso corpo é outorgada, a autodefesa torna-se uma necessidade

Breve história dos objetos cotidianos 1

Tão cotidianos como a violência contra as mulheres são os objetos que podem servir para nos defendermos dela.

Defender-se com o que se encontra mais próximo é tão antigo como as agressões que nós, mulheres, sofremos, isto é, quer dizer que vem de muito antes… desde os preparados de água com pimenta como spray das mulheres mexicanas, os alfinetes para evitar abusos indesejáveis no metrô de Tóquio e de São Paulo, as giletes e navalhas malocadas debaixo da língua ou na bolsa das travestis, até a caixinha de khol2, usado para pintar olhos das mulheres marroquinas, dotada habilidosamente de uma lâmina de metal, As mulheres sempre têm utilizado suas invenções para responder à violência machista.3

Em tuas mãos tens uma pequena mostra só para que deixes voar tua imaginação. Mas lembre-se que a confiança em nós mesmas e a solidariedade entre mulheres são nossas melhores armas.

Recuperemos as ruas! Recuperemos a noite!
Recuperemos nossos corpos! Porque você se valoriza

Notas

1 – Texto circulado em 25 de novembro de 2008 nas Acciones descentralizadas (“Ações descentralizadas”) em Barcelona e publicado no livro Tesoura para Todas.

2 – Khol ou kajal é um cosmético de origem oriental, primeiramente usado com o objetivo de proteger os olhos de inflamações e para dar um suave frescor à esta região do rosto. Alguns ainda acreditam que sua aplicação pode espantar maus espíritos.

3 – O texto foi editado e sua tradução alterada baseada no original em espanhol, acrescentando fatos que incorporam a realidade das mulheres brasileiras e trans

Como Fazer um Spray de Pimenta

Alguma vez você já esteve em uma situação em que precisou se defender? Aqui está um método de defesa que dá a você uma grande vantagem, que você pode fazer em casa!

Capturas de tela

 

Materiais Necessários:

Mix de pimentas fortes em pó (pimenta do reino, pimenta malagueta, pimenta calabresa
Suco de pimentas frescas ou plantas tóxicas (taioba brava, comigo ninguém pode)
Sal
Suco de limão
Água Sanitária
Frasco de spray

 

Procedimentos:

670px-Make-Pepper-Spray-Step-21º Passo: Misture os ingredientes secos, logo após experimente para ver quão apimentado está, se estiver o suficiente para te dar lágrimas nos olhos, então está perfeito.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-32º Passo: Adicione o limão e o suco de pimentas frescas ou plantas tóxicas, como a taioba ou comigo ninguém pode. Isso é o suficiente para fazer seu alvo chorar como um bebê.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-43º Passo: Adicionar àgua sanitária irá deixar a poção ainda mais irritante.

 

 

 

 

 

 

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4º Passo: Coloque o líquido num frasco de spray. Se você não tiver um, você pode comprar em uma loja que vendem essências, e artefatos para fabricação de perfumes. É importante que seja pequena suficiente para caber em uma mochila ou bolsa média.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-65º Passo: Agora você possui uma boa defesa para quando estiver sendo perseguido e/ou intimidada.

Avisos

  • Não deixe isso encostar em seus olhos.
  • Não use isso a não ser que você realmente tenha que escapar. Lembre-se, não há a necessidade de cegar alguém temporariamente, por brincadeira.
  • Não borrife isso em animais a não ser que eles apresentem um real risco de vida para você.
  • O uso do spray de pimenta por civis pode ser ilegal em alguns lugares. Saiba que você corre o risco de ser detida por portar um objeto como este.

 

Receita de spray de pimenta  adaptada do original disponível no Wikhow