Como o silenciamento e a omissão sobre o caso de agressão no Som na Rural vulnerabilizam e fragilizam potências solitárias.

Aprendi com Maria Clara Araújo: “Vou fazer um post”. E este fala sobre como silenciamento e a omissão vulnerabilizam e fragilizam potências solitárias.

regplO que aconteceu: hoje, no Lesbian Bar, o macho transtornado citado nas cartas de Priscila Souza e das suas amigas agredidas apareceu. E no mesmo local estavam também as pessoas agredidas por este. O ke aconteceu mais uma vez: negligenciamento que leva a fuga das agredias.

Hoje, mais uma vez saio cabisbaixa e acuada de um espaço na cidade de Recife.

Mas poderia ser diferente, eu sei que poderia.

Mas parece que o que se espera é uma reação das agredidas: aquelas mais fragilizadas pela situação. Essas mesmas acusadas de serem responsáveis pela evasão em diversos espaços… histéricas, barraqueiras, descontroladas.

Estas evadiram mais uma vez. Evadiram por não se sentirem mais uma vez seguras. Por falta de confiança em si, em primeiro lugar – para que não passemos a outxs a culpa, para que não esqueçamos a ação direta – e nas figuras que compõem a cena. E aqui peço perdão a ao bonde formado naquela noite.
As bixas unidas hão de te ter força.

Mas naquela noite, em ke Socrates Alexandre fazia a portaria, Ana Giselle comandaria a pista de dança, as irmãs Caio e Pethrus chegavam, Igor falava sobre nosso bonde; naquela noite, isso não foi suficiente para assegurar a integridade de pessoas agredidas e expostas naquele ambiente.

Até quando? Até quando teremos de abrir mão das nossas possibilidades de subsistência? Até quando teremos de fugir?
Não pergunte o que teria acontecido se as barraqueiras agredidas tivessem permanecido. Estamos cansadas de acabar com a festa, de causar barraco, de ter as portas fechadas. E por mais que nenhum espaço seja seguro (as pessoas que constroem o espaço é que fazem sua segurança) gostaríamos de continuar contando com possibilidades de existir sem estar em risco, como fazem nossas irmãs nas esquinas das avenidas nas madrugadas.

Nada muda. Agressão, denúncia, silenciamento, omissão e evasão de dissidentes à solidão.

Evadimos sozinhas para a solidão.

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Ítalo Bazon e Roger de Renor denunciados por agressão e violência Machista no #ruralnoforte.

A Arca compartilha uma denúncia enviada por email, sobre agressão e violência machista no evento Som na Rural, ocorrida no último dia 30/08/2015, esta denuncia complementa nossa última postagem também enviada por email.

SOM-NA-RURAL

“É brilhante como o machismo estrutural funciona de forma a proteger agressores… São engrenagens muito bem organizadas e eficazes. “Não vamos expor eles”, “eles precisam de ajuda”, “mas eles foram legais que só naquela vez, lembra?”. Macho transtornado merece escracho. Pela segurança e bem-estar das mulheres. Ponto.” Viq Vic.

O roteiro é o mesmo aqui e em qualquer lugar, quanto mais empoderadas, firmes, combativas e não frágeis as vítimas do machismo se apresentam, mais violências e tentativas de dominação planeja a inconformada supremacia machista. No dia 30 de agosto de 2015, última edição do Som na Rural realizado no Forte das Cinco Pontas, o machismo estrutural ocorreu bem do jeitinho que manda o figurino. Violência, intimidação e ameaça de afeminadas, agressão física às pessoas trans, acolhimento do agressor pelos machos do evento, deslegitimação, hostilidade e como toque final perseguição das trans e novas ameaças do agressor, agora protegido pelos machos organizadores.

Acompanhado de uma amiga, Ítalo Henrique Bazon, macho transtornado (aquele que faz questão de demonstrar em público sua virilidade, exaltação, estupidez e imponência) recentemente denunciado por agressão e violência machista, visivelmente furioso e de mal humor ficou extremamente irritado com uma trans não binária1, no momento em que ela respondeu a hostilidade expressa por ele ao ir cumprimentar sua amiga. Sendo bruto, violento e ameaçador a trans resolveu sair de perto.

Logo depois a trans acompanhada de outra amiga não binária, se deparou com a mulher que acompanhava o macho – nesse momento sozinha – e resolveram ir trocar uma ideia com ela. Ela aparentemente não tinha concordado com as atitudes do macho e depois de iniciada uma conversa, caíram num papo sobre desconstrução, violência machista e relações de poder. É exatamente no momento que se falava sobre a dificuldade de desconstrução frente a atitudes e comportamentos que agregam poder, que o macho nos localiza, vem em nossa direção e inicia ameaças às trans, com voz e mãos levantadas, expressando um ímpeto de agressividade e coação extremamente opressivo. A outra amiga trans, começa a falar pro macho cair fora e “abaixar a bola”, a mulher também tenta contê-lo, mas a truculência machulenta era desmedida, e desta vez, já não mais contido, ele vem com a clara intenção de bater. É neste momento que ele leva um chute na região genital. A confusão foi instalada, e agora o macho muda de foco, deposita toda sua raiva na trans que tentou combatê-lo, com a explicita intenção de bater e mostrar sua pseudo-superioridade. Quando a situação chega no ápice da violência, a mulher, executando técnicas de autodefesa afeminada, consegue de forma exemplar conter o macho e afastá-lo do local que estavam as trans, mas, sem mais apoio, isto não duraria muito, a confusão já fora instalada e todos os olhos já estavam aptos a condenar e hostilizar as trans que comprometeram “o clima de paz” do evento.

O machismo estrutural e naturalizado na cabeça da sociedade é cego em perceber as desconfortáveis, tiranas e violentas situações que mulheres, bichas, travestis e pessoas trans estão condenadas. Então, no momento de reagir, de não aceitar a submissão e autoridade abusiva dos comportamentos masculinos estas pessoas são automaticamente colocadas como ‘personas non gratas’ e estraga prazeres (prazeres, ler-se: abusos e coerção machista naturalizada). É muito engraçado verem as pessoas falarem de paz, sem considerar o cotidiano nada pacífico que a sociedade heterossexista2 submete as questionadoras do machismo. O evento Som na Rural não é um espaço de paz para mulheres, bichas, travestis e trans.

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Mas não acabou, ainda tem o pior. Devido a confusão instaurada, alguns outros machos da organização do evento, incluindo Roger de Renor se aproximaram na intensão de acalmar a confusão. Este é o momento que o macho agressor está cercado de outras pessoas e Roger diz clara e explicitamente estar ao lado do agressor. Sem nenhum pesar se coloca como cúmplice do agressor. A posição de Roger de repúdio a uma das pessoas trans que estava envolvida nesta confusão se constrói numa edição anterior do Som na Rural realizada na época da Ocupação do Estelita, na ocasião, o produtor cultural convidou Ortinho, acusado e escrachado pela opinião pública local por fazer apologia ao estupro e proferir mensagem de violência a mulheres. Na época a ocupação do Estelita contou com um forte debate sobre violências sexistas e com uma intensa combatividade contra machos agressores que estavam na ocupação, foi um período de muito acúmulo sobre pautas e questionamentos feministas e de empoderamento antisexista, e na contramão de toda esta vivência Roger tenta trazer para o Estelita um apologista do estupro. Inconformadas com tal situação, as afeminadas ocupantes do Estelita, pediram voz para problematizar a situação no microfone e quando começaram a falar tiveram o microfone cortado, uma das justificativas saídas pelo pessoal do som: “Ortinho é meu amigo”.

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Fora do palco uma discussão aconteceu e Roger acusou a mesma trans envolvida na situação aqui descrita de querer se promover sugerindo que se inscrevesse no Big Brother. O que acontece de fato é um macho, branco e heterossexual dizendo que a denúncia de cumplicidade machista ocorrida naquele espaço é uma estratégia de exibicionismo, nada mais deplorável, revoltante e anti-feminista. Na realidade um ser que goza de múltiplos privilégios e vive num ambiente onde impera o estrelismo, o alpinismo social, o status pela acumulação de capital cultural e a arrogância poserista, atua estimulando vivências conflitivas e covardes, além de seguir deslegitimando a urgência de setores estigmatizados de problematizar desigualdades políticas no cotidiano.

É a partir das nossas relações e situações diárias que se estrutura os grandes sistemas de poder. Pensar direito à cidade, protagonismo popular e ocupação dos espaços públicos sem considerar as relações impostas pela estrutura capitalista, soa ingênuo, mas também assimilador, escroto e desonesto ao considerar que tais questionamentos agregam pessoas e possibilitam acumulação de poder e visibilidade por parte de quem pensa política desta forma tão superficial, insuficiente e vitrinista.

Desta vez, Roger aproveitou a oportunidade para se aliar ao agressor e estimular a hostilidade às trans com pelo menos outros cinco homens que acompanhavam o agressor, deixando-o em situação de conforto e agora com “justos” motivos para expressar sua violência machista. Roger ainda agiu em cumplicidade ao agressor ao ser visto deslegitimando a trans para outras pessoas invertendo o polo da história e apontando as pessoas trans com algo que o homem branco heterossexual não quer ser associado: violentas, agressivas, as que implodem os espaços, baderneiras e loucas. Devido ao apoio de Roger e a aliança com outros cinco machos o agressor se sentiu confortável e protegido para seguir com seu transtorno: foi caçar às trans.

italoagressaoGraças aos organizadores do evento foi criado um clima de vulnerabilidade e tensão. Ao procurar ficar junto de outras amigas e em espaços com maior concentração de pessoas as trans foram perseguidas pelo macho que invadiu o grupo onde estavam, voltando a ameaçar e intimida-las. Voz alta, mãos levantadas, dedo na cara, agressividade e uso do corpo para empurrar pessoas e declarar um novo confronto, só que agora protegido pela organização do evento e apoiado por outros machos tão escrotos quanto ele. Neste cenário de intensa insegurança as trans decidiram ir embora e os machos unidos mais uma vez ganharam o espaço. Nas redes sociais o agressor, diz ter tido uma discussão conversado com amigos dos envolvidos e resolvido o caso. O que este infeliz chama de discussão, nós chamamos de violência machista, o que ele diz ter sido resolvido para nós resume a nossa expulsão do espaço.

Roger não foi cúmplice a toa, diariamente vemos agressores proferirem violências abaixo de tantos olhos durante tanto tempo. Torna-se explícita a falta de vontade em priorizar e se posicionar sobre as situações que colocam os machos em posição de questionamento e ameaça a seus postos de poder tão bem protegidos pela solidariedade entre MACHOS. Sabemos que não existem cúmplices a toa, não existem cúmplices apenas por inércia, cúmplices existem porque se assemelham com agressor, porque também cometem violências, porque estar ao lado do agressor é uma estratégia de proteção masculina e de deslegitimação de corpos dissidentes da heterossexualidade compulsória3.

O fato denunciado expressa a imensa ofensiva heterossexista contra a combatividade e declaração de insubmissão por parte das vítimas do machismo. É abominável que um evento e um projeto como Som na Rural, que se apoia em discursos políticos, tenha atitudes explicitamente oportunistas, covardes e canalhas, silenciando críticas contra comportamentos machistas, servindo inescrupulosamente como base de fortalecimento para ameaças e intimidações contra pessoas trans e pior, usando as ideias de democracia e direito à cidade apenas para acumular capital cultural e agregar valor político. Queremos deixar bem claro, para mulheres e dissidentes sexuais que este evento e seus organizadores ESTIMULA A VIOLÊNCIA MACHISTA E ISTO NÃO DEVE SER TOLERADO. Recife passa por um momento de intenso questionamento sobre questões de gênero e sexualidade, articulações e movimentações em perspectiva feminista, transfeminista, sexo-dissidentes e libertárias tem tensionado sobre pontos extremamente naturalizados da violência patriarcal.

Recentemente Lírio Ferreira e Cláudio Assis protagonizaram outro caso desgastante de machismo e misoginia e a problematização contra o show de machulencia dos dois deu a luz uma série de denúncias sobre abusos e assédios contra mulheres. Esta nota também se dá numa tentativa de ascender outras situações de violência e agressão sexista que os machos aqui denunciados estão supostamente envolvidos. Admitindo a pertinência do questionamento contra ambientes/pessoas que estão tão acostumadas a serem bajuladas e não criticadas alegamos que Perversidade é proteger agressores e assim, agredir novamente. Perversidade é saber que esses caras, não importa o que façam, são acobertados pela tal brodagem machulenta e misógina da cena cultural pernambucana.

A misoginia, transfobia e violência machista imperante nos comportamentos que enfrentamos no cotidiano não deve ser relativizada, pelo contrário é importante que não nos calemos e sempre nos apresentemos combativas e dispostas a ação direta quando o assunto é violência machista. É com a máxima O pessoal é político”, que encerramos esta nota tentando estimular discursos críticos, questionamentos e responsabilidade aos fazeres dos agressores aqui citados e com a intensa e sempre ativa capacidade de combater e denunciar atitudes que violentam e silenciam as vítimas estruturais do machismo e da heterossexualidade compulsória.

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1
– Trans não binária são pessoas que transgridem o gênero e/ou a sexualidade e não se identificam necessariamente com nenhum dos gêneros binários instituídos pelo heterocapitalismo, sua ciência, suas corporações e seus Estados. O binário de gênero é a insistência em que homens são masculinos e mulheres são femininas. Isto reduz as opções para que as pessoas ajam fora de seus papeis sociais de gênero sem caírem no esteriótipo das outras. Ademais, homem e mulher não necessariamente traduzem-se como masculino e feminino este significado atende apenas a interesses politicamente contextualizados e opressivos.

2Heterossexismo é a atitude de preconceito, discriminação, negação, estigmatização ou ódio contra toda sexualidade que não seja a heterossexual. Uma sociedade heterossexista é aquela que supõe que naturalmente todas as pessoas são todas heterossexuais ou de que a heterossexualidade e seus valores (monogamia, família nuclear, ativo X passivo) é superior e mais desejável do que as demais possibilidades sexuais.

3 – O termo heterossexualidade compulsória foi criado pela feminista Adrinne Rich em 1980 e refere-se a doutrinação heterossexual que todas as pessoas estão submetidas. Na heterossexualidade compulsória a experiência não-heterossexual é problematizada, patologizada, é considerada algo a ser explicado, buscando um marco para o seu aparecimento. A lesbofobia, homofobia, transfobia, bifobia são algumas das múltiplas expressões violentas que tentam manter compulsoriamente uma normalidade heterossexista.

Denúncia contra Ítalo Henrique Bazon, grafiteiro de Recife acusado de agressão e violência machista

Abaixo compartilhamos um relato postado nas redes sociais e enviado por email contra o grafiteiro Ítalo Henrique Bazon:

Este ser, um grafiteiro conhecido em Recife por Bazon, dono da Most é o projeto de ARTISTA DE RUA FAJUTO, DE HOMEM FAJUTO, VIOLENTO, HOMOFÓBICO, MACHISTA, PRECONCEITUOSO, ANTIPROFISSIONAL, MENTIROSO.

Vários fatos ocorreram ao longo desse meio tempo que infelizmente convivi com este ser dentro da minha casa por ser ex namorado da minha irma. Porém dois últimos fatos foram o estopim pra eu decidi expor pra todo mundo a pessoa e má profissional que ele é.

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RESUMINDO:

O primeiro fato aconteceu no ultimo som na rural 30/08. Numa conversa com a sua ex (minha irmã) ele foi interrompido por um amigo meu e de minha irmã pra eles se cumprimentarem. Ele se sentiu chateado com a situação e fez cara feio também porque esse amigo é uma trans afeminada mesmo e estava com outra bixa empoderada igual a ela. O fato é que rolou essa estranheza por parte do macho violento. Rolou uma pequena discussão entre os dois e minha irmã, até que se separaram. Em outro momento em que ela estava conversando sobre o ocorrido com as duas bixa ele chegou, tocando-as (segundo o que soube pra desculpar). Mas o que aconteceu foi um ato nojento de agressão física. O mesmo, transtornado ameaçou de pega-las depois e que não iam escapar. Minha irmã, tentando contê-lo recebeu ameaças dele também enquanto ele segurava uma de suas mãos escondidas entre seus corpos. Nesse momento apertou muito forte seu dedo e disse que ia quebra-lo, raiva porque ela os defendeu de certa forma. Acreditei nela quando ela me contou toda a história, e foi corroborando também por ver as marcas dessa agressão de certa forma que ela recebeu dele. Pelo que soube, depois que ela foi embora ele ainda foi atrás das trans com outros amigos pra bater. É um absurdo como essas coisas também passam tão impunes aos nossos olhos. Fatos como esses já aconteceram várias vezes no som na rural, um espaço que deveria sim permear indignação e indagação por partes de todos os presentes no evento bem como do dono do próprio evento pra que isso não ocorresse mais. De forma direta e indireta “somos” todos responsáveis por isso, todos os que se fingem de cegos são também coniventes e responsáveis. As medidas referente a isso já estão sendo tomadas. Aguardem.

O outro fato aconteceu há duas semanas atrás e se estendeu até hoje de noite depois que tive o desprazer de ouvir as nojeiras que ele me disse por telefone. Encomendei 5 latas doadas por mim pra ele joga uma arte dele e me cobrar o preço dado. Uma dessas latas tinha um valor sentimental pra mim: guardava-a há 15 anos, era de minha vó e nela ela guardava suas lembranças e segredos de uma vida. Dei valor ao que ele faz profissionalmente sem misturar coisas que já haviam ocorrido antes. Principalmente quando estamos falando de arte. Confiei esse trabalho a ele há exatamente duas semanas porque gosto do que ele faz como artista de rua. Nessas duas semanas muita coisa aconteceu e tive problemas financeiros (quem não tem?) nos quais não tinha como pagar ainda. Avisei a ele sobre isso, contei pra ele aqui no sofá da minha casa. Sim, ele frequentava a minha casa muitas vezes (uma pena) e assim que contei o fato o mesmo deu a solução deu pagar depois quando desse, até porquê o trabalho ainda não estava terminado. Se ele terminasse e eu estivesse sem $ ele guardaria pra mim até eu ter, afinal, ele era meu ex cunhado e continuava frequentando a minha casa, nos encontrávamos em vários lugares públicos, logo não existia a possibilidade nem de longe deu dá um calote nele e se ele propôs isso é porque confiava em mim e eu nele. Nem tudo são flores. Era tudo mentira de sua parte. Calculado desde a ultima vez que ele veio em minha casa no dia do fato ocorrido no som na rural. Pulou o muro do prédio, sem camisa, bêbado, transtornado, querendo entrar em casa, de uma certa forma, à força pra fala com a minha irmã. Ficou aqui enchendo e fazendo confusão até de manhã. Cedo, antes de sai ele tentou grosseiramente se justificar cmg sobre as agressões e outros transtornos comportamentais que fez na noite passada. Depois de troca uma ideia curta com ele, o mesmo reforçou olhando nos meus olhos que nada disso iria afetar o trabalho que encomendei a ele e que o acordo tava de pé pq ele tinha palavra de homem. Mais uma vez tudo mentira. Confirmei isso quando descobri que pela raiva q ele teve por minha irmã defender as gays e por toda confusão, ele vendeu as latas já prontas a um casal de amigos do Rio. Vendeu a arte dele com a matéria prima minha que eu confiei a ele. Tentei contato calmamente com ele nesse meio tempo de uns 5 dias, só me ignorou. Não me deu explicação. Hoje, depois de tentar fala com ele o mesmo me atendeu. Conversa longa e de início quando perguntei sobre ele me ressarci (pq nao valia nem a pena dá um escracho e procurar saber pq ele foi fuleiro) ele disse: “e tu acreditou no que eu te disse sobre o acordo naquele ultimo dia que eu sai da tua casa, ótaria?” E não é pra gente confia numa pessoa não, quando ela dá sua palavra?. Daí pra frente foi um show de horror pelo telefone com ele dizendo coisas do tipo: “meu trabalho é foda as pessoas q vem atrás de mim, que arquem com isso”, “sou pixador, quero quebra tudo, bate em todos”, “não tenho amigos, não confio em ngm e ngm confia em mim, quem mandou confia?” , “o dono da empresa sou eu e pra mim o cliente é em ultimo lugar”, “fiz acordo com vc e também não fiz, vendi porque quis, se fudeu”, “vc não tem como prova o acordo, pra mim, decidi pensar que nada foi feito”, “eu tenho altos trabalhos de outras pessoas encalhados, resolvi vender tudo e o seu foi junto pq não confio em ngm e senti e acho q vc não ia me pagar, menti sobre o acordo”, “depois que vc me deu suas latas elas não lhe pertencem mais”, “otária, to pouco me lixando, pode fala mal de mim que eu quero q a minha fama seja de mal mermo pq eu sou da rua, sou maloqueiro e quero que todo mundo se foda”, “vc e sua irmã , seus amigos tudo ótario , quero que se foda”, “tô nem ai, sou antiprofissional mesmo e gosto de incomodar pra chama atenção de geral sim”. Nesse meio tempo vários risos e gritos e crises de estrelismo pelo telefone. Depois do show, quando ele desligou na minha cara, não deu 1 mim e ele bloqueou o face e sumiu do mapa. Ele sabe que eu vou até o fim com isso e ele foge desde o inicio pq já sabe o fim disso.

Hoje doeu, mas não me esmoreceu. Hoje fiquei com mais vontade e sem medo nenhum de ajuda a desconstruí a imagem de homens como esse. Hoje eu senti uma vontade imensa de expor essa controversa que a gente vê todo dia por ai: entre a arte e quem faz a arte. Pra mim, quem faz arte “boa”, mesmo sendo péssima pessoa, só por ter esse “poder” de fazê-la, paga um preço por isso; O preço de não se opor as injustiças sociais, a estas mazelas sociais que culmina numa exacerbada reprodução de comportamentos desconexos com um ser que deve por obrigação reproduzir discursos e atitudes que corroborem por respeito, direitos, espaços iguais… Não é a primeira vez que aqui em Recife artistas e arteiros em suas diversas magnitudes são escoltados por uma legião de outros seres que se opõem, escondem, camuflam esses comportamentos/pesamentos retrógrados e escrotos. E isso acontece na cena do rap, do hip hop, do coco, do samba, do brega, do rock, do cinema, do teatro, da dança… E não é fácil tenta expor e desconstruir isso em um espaço onde a maioria fecha os olhos pra isso e prefere taxa-la como louca ou mentirosa. Enfim, são infinidade de espaços que deveriam conter pessoas que lutassem e explanassem e que de fato fossem suas ideias que por conseguinte deveriam ser justas e coerentes pra um espaço de igualdade independente de gênero ou de qualquer outra coisa que as pessoas gostam de usar pra segregar mesmo. Tá cheio de homem como esse ai que se esconde em sua própria arte pra agir violentamente, transtornadamente, escrotamente, e saindo pela tangente sorrateiramente, dando xau e dizendo que esse é o preço que a sociedade tem pagar por ter um “artista” que faz arte só como ele faz. E tem mais uma leva de gente sebosa que sustenta as ideias tortas destes seres repugnantes “pela arte”. Se depender de mim, todos esses macholento, sendo quem for não vai ter mais espaço, meus olhos nem pra sua arte e nem pro resto de sua cagada de vida.

Um beijo pra quem entendeu e um beijo “pas travesti” !!!

Nota de Repúdio sobre a violência na Marcha das Vadias Recife

A ARCA enquanto articulação combativa de perspectiva feminista repudia as inúmeras violências cometidas pelo Estado e por alguns trabalhadores ambulantes contra todas as mulheres e dissidentes sexuais na última edição da Marcha das Vadias. Acreditamos que o acontecido evidencia claramente a localização política das organizações e individualidades violentadores bem como seu comprometimento e cumplicidade com o regime sexista e machista que impera na sociedade. Segue a NOTA DE REPÚDIO divulgada pela organização da Marcha das Vadias Recife:

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O Coletivo Marcha das Vadias Recife é um movimento autônomo e apartidário que, articulado com outros coletivos e organizações feministas, há cinco anos, coloca a Marcha das Vadias nas ruas.

A cada ano, com muito suor e dedicação, nos empenhamos para que o evento aconteça como uma importante representação de resistência ao machismo, um grito contra toda forma de violência que vitima mulheres cotidianamente. Buscamos contribuir para a auto-organização coletiva, descobertas e fortalecimento pessoal e político daquelas que sempre são colocadas num lugar de subjugação pelo sistema patriarcal: mulheres negras e brancas, cis e trans, lésbicas e bissexuais.

Lutamos contra o poder do patriarcado que impõe como seu território nossos corpos e escolhas. A Marcha das Vadias Recife é, portanto, onde criticamente entoamos em coro a autonomia dos nossos corpos, a tomada das nossas vidas pelos direitos que nos cabem e pelos desejos que nos movem.

O fortalecimento coletivo e individual das mulheres para a destruição das práticas machistas provoca, inevitavelmente, a reação dos opressores. Tanto pode levar ao abrandamento gradual e inexistência das opressões, assim como pode inflamar a fúria violenta daqueles que sentem seus privilégios – de macho – ameaçados. Uma rápida análise do contexto político indica uma resposta cada vez mais incisiva do conservadorismo. Forças não serão poupadas na tentativa de reinstaurar o nosso silêncio.

Nesse sentido, a Marcha sempre foi alvo de variadas formas de agressão e tentativas de controle, especialmente contra as mulheres trans. No entanto, esse ano o embate foi ainda mais direto, colocando nossa integridade em alto risco desde a concentração até o desfecho da caminhada. É importante tirarmos uma lição positiva destes episódios, que também servem para ilustrar a violência sofrida diariamente por nós, mulheres. É também mais uma oportunidade de constatar como o enfrentamento traz consigo sentimentos explosivos que movem mais impulsos de resistência. É possível perceber essa questão, por exemplo, a partir da maior participação de mulheres trans, e das muitas jovens que fizeram do momento, o seu contato inicial com uma irmandade de luta e apoio.

Assim, a máxima “quando estamos juntas nossa força é maior” agora carrega ainda mais significados. Vemos que as provocações trazidas por nossa simples existência na rua levam à instabilidade do conservadorismo opressor e, principalmente, determinam o crescimento do nosso empoderamento. Existimos e resistimos. Esse ano mais uma vez, transformamos nossa dor e medo em enfrentamento e resistência.

Ao passo em que fomos nos reunindo na praça do Derby, as garras da tirania machista foram se mostrando. No primeiro momento de agressão, uma companheira trans foi impedida de ir ao banheiro feminino por um funcionário da EMLURB. . Muitas de nós questionamos a atitude, no entanto, o funcionário se negou ao diálogo, fechou os dois banheiros e foi embora. Impedindo, inclusive, que mulheres grávidas e crianças tivessem acesso a um serviço que é público.

Quando nos movemos para a denúncia junto aos policiais que patrulhavam a área, o “diálogo” foi encerrado abusivamente com argumentos desrespeitosos aos direitos das mulheres trans, ignorando a legitimidade do seu nome social – o que configura um caso típico de transfobia. A violência sofrida pela nossa companheira só aumentou a nossa indignação e o desejo de tomar as ruas, para reafirmarmos que ali também é nosso lugar.

Havia, entre nós, fortes sentimentos de resistência que confluíam num movimento, tendo o apoio mutuo como força motriz. A força das mulheres nessa Marcha residia num sentimento de empoderamento latente entre nós. Era possível sentir, em cada uma, que por mais que a dor da outra não seja a minha dor, nós nos acolheremos umas as outras, transformando o sentimento de cada uma, em vivência coletiva de enfrentamento, acolhimento e sororidade.

A trilha de agressões teve continuidade enquanto marchávamos. As piadas, os deboches, os xingamentos mais odiosos e humilhantes, nada diferente dos outros anos e de todos os dias. No entanto, se instaurou definitivamente a violência quando um trabalhador informal da Avenida Conde da Boa Vista se sentiu no direito de invadir espaços e corpos. Em postura de deboche às mulheres, exibiu seu peito e barriga, lançando piadas sem escrúpulos e avançou sobre o corpo de uma companheira. Mais uma vez, a indignação nos moveu a defendê-la e a nos colocarmos frente a frente com o agressor inferindo palavras que denunciavam seu comportamento abusivo e machista. Nessa momento, o agressor acuado recebeu apoio de um grupo de homens.

Resguardados em seu machismo fizeram uso de pedaços de madeira para nos espantar e em movimentos intencionais acertaram várias outras companheiras. Um deles fugiu acuado e entrou no Shopping da Boa Vista.
Lançando frases como “esse área é minha”, “vão para trás”, “vão embora, suas putas, loucas”, deixaram claro seu ódio por nós, numa tentativa de determinar que a sua posição de poder não seriam escrachadas. A rua era deles, afirmavam, não só com as palavras, mas, principalmente, com o uso da força física. Não arredamos o pé, como não mais o faremos: nossos corpos são sagrados e ocuparemos todos os lugares.

Entre gritos e xingamentos, esse grupo de agressores munidos de paus, garrafas, canos, voltou de forma organizada e intencional para terminar o que haviam começado. A vontade deles era clara: com a desculpa de que haviam sido constrangidos por “homens e pelas bichas” e que “não batiam em mulher” tentaram afirmar que o problema não era com as mulheres e que voltaram para acertar as contas. Algumas de nós assumiram uma postura dialógica sob o desejo de evitar que a situação saísse mais ainda do controle e entrasse num campo ainda mais violento, impondo a todxs o desespero e o risco de morte. Mas a situação já havia saído do controle, pois eles, ao mesmo tempo em que diziam não querer “brigar”, inflamavam os ânimos, rebatendo os apontamentos machistas que gritávamos, nos chamando para a luta corporal. Nesse momento não houve mais como driblar o inevitável. Com o orgulho de machos feridos, eles voltaram para nos humilhar, nos reduzir a nada, e com desculpas falsas estavam sim dispostos ao pior e não sairiam de lá até nos “colocar no devido lugar”.

Muitas de nós estávamos exaustas e perplexas diante do que estava posto.Tentamos resistir e fomos brutalmente violentadas. Mulheres e homens foram agredidos de forma covarde. Vimos sangue, gritos, desespero e toda a sorte de emoções que se vivencia num momento de ataques e agressões.

Diante de tudo isso, afirmamos que nenhuma violência de gênero praticada contra nós ou nossas companheiras será aceita e que não nos silenciaremos diante do ocorrido. Tomaremos as devidas providências, tanto no que diz respeito a nossa defesa pessoal e mútua cotidiana, quanto ao que cabe a outras organizações sociais, no sentido de fazer cumprir o dever destas de zelar pelas suas responsabilidades em relação a nossa causa.

Nesse sentido, acreditamos que o SINTRACI (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Comércio Informal) deve se responsabilizar pelo ocorrido, uma vez que entre os envolvidos haviam pessoas sindicalizadas. Com isso, não queremos dizer que acolheremos resoluções sociais baseada em instrumentos criminalizantes. Não temos como objetivo criminalizar a articulação de ambulantes ou do SINTRACI, mas sim, a partir do ocorrido, abrir um diálogo para que, de movimento para movimento, e destes para a sociedade, a discussão de gênero, que é sempre insuficiente dentro de organizações e movimentos sociais, seja trabalhada com o devido reconhecimento e responsabilidade.

Assim, deixamos claro que entendemos enquanto opressão toda forma de violência estrutural e sistêmica consequente da forma de organização desigual em sociedade. Acreditamos na transversalidade da luta feminista com o anticapitalismo e o combate ao racismo, firmamos como essencial a construção de diálogo entre os movimentos sociais. É neste sentido que nós, do Coletivo Marcha das Vadias, reivindicamos que o SINTRACI reconheça a gravidade dos atos de violências ocorridos no último dia 30 durante a Marcha das Vadias e responsabilize os envolvidos pela ação de violência de gênero direta que resultou na brutalidade física imposta sobre nós.

Apontamos a urgência da inserção de debates sobre as questões de gênero e violência dentro das atividades do Sindicato, entendendo que, enquanto movimentos sociais, somos parceirxs na luta por uma cidade inclusiva para todas e todos.

Dessa maneira, também não toleraremos os momentos de violência transfóbica inicialmente relatados. Não iremos aceitar qualquer ação que negue xs transexuais enquanto sujeitxs de construção da sua identidade e subjetividade. Repudiamos o ocorrido no banheiro feminino, reiteramos e exigimos que a EMLURB e a Polícia Militar se posicionem publicamente sobre o ocorrido e promova capacitação dxs funcionárixs para que situações como a ocorrida no último dia 30 não voltem a acontecer.

Pela importância dos movimentos feministas na defesa da autonomia dos corpos das mulheres e em repúdio a todas as formas de opressão e violência, nós continuaremos em marcha.

Pela importância da organização coletiva e autonomia das mulheres nos processos de decisão, nós continuaremos em marcha.

Pela importância de ocuparmos as ruas, nós continuaremos em marcha!

Pela importância de nos mantermos unidas e fortes, nós continuaremos em marcha!

Quem não pode com as mulheres, não assanha o formigueiro!

#MarchaDasVadiasRecife2015
#JuntasSomosFortes
#MVR