Relato de Agressão Machista na cena punk de Fortaleza – CE

Compartilhamos um relato de agressão machista cometido por João Bruno Veras, macho anarcopunk de Fortaleza. Sabe-se que o agressor compõe espaços anarquistas e punks na cidade, é conhecido em outras articulações e agitações deste campo político a nível nacional, além de ser responsável por outros casos de agressão, violência, ameaças e intimidações compartilhados em redes de apoio e combatividade feministas, queers e transfeministas. Esperamos que este relato impulsione e estimule as companheiras agredidas a compartilharem suas vivências e sirva para criar um cenário de debate coerente, combate e autocrítica na movida anarcopunk, de modo a assumir os recorrentes e abomináveis casos de violência sexista e misógina dentro de okupas, centros culturais e demais espaços construídos nesta perspectiva política. Cada vez são mais fortes os relatos sobre o pífio debate a cerca do patriarcado e teoria queer desdobrando-se em posturas antifeministas, bem como a rasa visão sobre violência de gênero que não permite construir uma prática coerente para a abolição do gênero.

Paga de libertário mas é ANARCOMACHO tem que cortar a pica do macho transtornado.

Carta de denuncia antifascista contra JOÃO BRUNO VERAS, intitulado ANARCO PUNK.

PUNKMACHOAlerta: Machista escroto agride uma mulher covardemente e sai ileso da cena.

O que é ser punk? Ontem, por volta das 02:00 horas, estávamos, eu e mais quatro amigos voltando do nosso role, quando sem mais nem menos aparecem em torno de seis ou mais “anarco punks”. Alguns conhecidos como: Johnny, Adriano e Bruno, esses e os demais não reconhecidos por mim, reivindicavam o espaço deles em um local público, nos fazendo perguntas banais do tipo: Com quem falamos,com quem andamos, o que fazemos,etc… Agindo como uma espécie de escolta policial, eles vieram pra cima de nós com armas brancas e de forma agressiva sem qualquer explicação aceitável. Eles alegavam também “ser do contra” o “Street punks oi!”,que na verdade é denominado um estilo de música que surgiu em meados de 1969, cujo algumas pessoas se uniram nessa mesma época e criaram uma certa “UNIÃO” entre punk’s e Skin Heads, conhecida como União Oi! Perguntamos o porque de todos esses questionamentos e porque existe esse conflito infame toda vez que nós nos cruzávamos nas ruas. Nenhuma resposta era aceitável! Na verdade, a cena local daqui é completamente vaga da presença desses coadjuvantes e infantis machistas que se auto intitulam Anarco Punk’s. Eles dizem que nós somos uma vergonha pra essa tal cena punk que dizem construir aqui em Fortaleza-Ce, mas quando perguntamos para eles onde eles estavam na hora dos atos,  das lutas contra a destruição do patriarcado, contra o machismo e as demais lutas cotidianas, um deles Johnny nos responde com seu ego inflado:

“Esse é meu visual, essa é minha luta e não preciso provar nada pra ninguém.” ???????????????????????????????????????????????????

Diante desses questionamentos, um deles: João Bruno Veras, que mais aparentava que estava ali apenas para causar conflito, quase nos atingiu com uma garrafa de vidro, depois de nos esquivarmos fomos tentar revidar a agressão, mas João Bruno, ME ATINGIU COVARDEMENTE COM UM SOCO NO ROSTO e após isso saiu correndo como um cão covarde foge da luta, o soco foi tão forte que eu caí no chão com o nariz sangrando enquanto os outros amigos do Bruno tentavam agredir os meus amigos que ali estavam no local. Já não basta ter que lutar toda hora contra essa opressão que é o machismo e a sociedade, ainda ser atingida por um macho escroto que não teme em agredir mulheres nas ruas? Vocês não representam nem 1% da luta a favor da desconstrução do machismo, e se agrediu uma agride todas sem pensar duas vezes. Essa atitude não é antifascista! Isso não é exemplo pra juventude. Que tipo de exemplo vocês pretendem passar pra juventude? Esse: Causando conflitos por motivos infames e sem qualquer importância maior, agindo como crianças e batendo em mulheres? Recado: Quem compactua com eles é farinha do mesmo saco! Bruno, você é um covarde, agressor machista escroto merece sofrer. O sangue foi derramado, uma mulher foi agredida, isso ainda não acabou!

Como o silenciamento e a omissão sobre o caso de agressão no Som na Rural vulnerabilizam e fragilizam potências solitárias.

Aprendi com Maria Clara Araújo: “Vou fazer um post”. E este fala sobre como silenciamento e a omissão vulnerabilizam e fragilizam potências solitárias.

regplO que aconteceu: hoje, no Lesbian Bar, o macho transtornado citado nas cartas de Priscila Souza e das suas amigas agredidas apareceu. E no mesmo local estavam também as pessoas agredidas por este. O ke aconteceu mais uma vez: negligenciamento que leva a fuga das agredias.

Hoje, mais uma vez saio cabisbaixa e acuada de um espaço na cidade de Recife.

Mas poderia ser diferente, eu sei que poderia.

Mas parece que o que se espera é uma reação das agredidas: aquelas mais fragilizadas pela situação. Essas mesmas acusadas de serem responsáveis pela evasão em diversos espaços… histéricas, barraqueiras, descontroladas.

Estas evadiram mais uma vez. Evadiram por não se sentirem mais uma vez seguras. Por falta de confiança em si, em primeiro lugar – para que não passemos a outxs a culpa, para que não esqueçamos a ação direta – e nas figuras que compõem a cena. E aqui peço perdão a ao bonde formado naquela noite.
As bixas unidas hão de te ter força.

Mas naquela noite, em ke Socrates Alexandre fazia a portaria, Ana Giselle comandaria a pista de dança, as irmãs Caio e Pethrus chegavam, Igor falava sobre nosso bonde; naquela noite, isso não foi suficiente para assegurar a integridade de pessoas agredidas e expostas naquele ambiente.

Até quando? Até quando teremos de abrir mão das nossas possibilidades de subsistência? Até quando teremos de fugir?
Não pergunte o que teria acontecido se as barraqueiras agredidas tivessem permanecido. Estamos cansadas de acabar com a festa, de causar barraco, de ter as portas fechadas. E por mais que nenhum espaço seja seguro (as pessoas que constroem o espaço é que fazem sua segurança) gostaríamos de continuar contando com possibilidades de existir sem estar em risco, como fazem nossas irmãs nas esquinas das avenidas nas madrugadas.

Nada muda. Agressão, denúncia, silenciamento, omissão e evasão de dissidentes à solidão.

Evadimos sozinhas para a solidão.

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Machismo Mata: Neto Tavares, dopping e estupro.

Machismo Mata
Machismo Mata

Os presentes casos que serão apresentados não são histórias de ficção, são trágicas narrativas que se repetem incessantemente na vida de milhares de mulheres por todo o mundo, todos os dias. Tratam-se de relatos sobre violência sexual, objetificação, perseguição, manipulação, assédio e propagação de inverdades sobre a vida das mulheres, que aqui são apresentados em caráter de denúncia.

JOSÉ CORREIA TAVARES NETO: este é o nome de mais um “rapaz de família”, homem jovem, branco, cis, heterossexual, classe média alta, bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Chegando em Recife, oriundo de Caruaru, NETO TAVARES (como é conhecido) começou a se aproximar de diversos movimentos e organizações de esquerda, apresentando uma postura supostamente aberta às pautas sociais, tais como a desigualdade social, o combate à lgbtfobia, ao racismo, chegando até a se apresentar como pró-feminista em diversos espaços – em que pese a visível diferença entre o seu discurso e a sua prática, haja vista que Neto jamais chegou a se organizar em qualquer coletivo ou movimento.

Ainda assim, entre muitos e muitas militantes – sobretudo entre as mulheres –, Neto era um rapaz considerado como um amigo e/ou companheiro, uma pessoa em quem aparentemente se podia confiar. Ocorre que por trás dessa aparente postura “militante”, escondia-se um homem que, no auge do usufruto de seu privilégio social, manipulava, mentia, assediava e estuprava mulheres, utilizando-se de métodos absolutamente covardes para conseguir seus objetivos, e ameaçando suas vítimas. Aqui constam pelo menos quatro de uma infinidade de relatos que se seguem e que, a cada dia, só aumentam.

O primeiro deles conta a história de uma mulher que, além de sofrer assédio moral e psicológico durante uma relação doentia, controladora e abusiva produzida pelo agressor, foi constantemente humilhada, traída e violada, sendo, inclusive, drogada com LSD enquanto dormia para que ele a violentasse. Durante o namoro com esta mulher, o agressor não apenas a violou de diversas formas, como se relacionou com outras mulheres e constantemente assediava suas amigas mais próximas.

Já o segundo caso diz respeito à narrativa de uma mulher que foi dopada em um bar pelo agressor, e que após ingerir uma bebida oferecida por ele, perdeu completamente o controle de seu corpo e de sua consciência. No dia seguinte, ela acordou despida na cama do agressor, cuja frieza e a completa falta de respeito à condição de sujeito dela são absolutamente revoltantes, sobretudo pela postura dissimulada e cínica adotada pelo denunciado.

A sociedade em geral, e as mulheres em específico, são constantemente induzidas a pensar que o perfil do estuprador é de um desconhecido que estará à espreita, numa rua escura, pronto para fazer da oportunidade uma chance concreta de violência sexual. No entanto, dados recentes apontam que 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima, indicando que, na contramão do senso comum, os agressores, em geral, fazem parte do ciclo social da vítima.

O terceiro relato parte de uma companheira lésbica que, mesmo tendo uma relação de amizade com o agressor, foi assediada diversas vezes, culminando numa situação de violência sexual. Nesse momento observa-se que Neto Tavares abusou da confiança nele depositada para praticar o estupro enquanto a vítima dormia. Ao acordar, ela se deparou com sua roupa aberta e o toque do agressor dentro da sua calcinha, enquanto o mesmo se masturbava. Sendo questionado sobre o que estava fazendo, o autor não se constrangeu com a situação afirmando que a vítima deveria gostar do que estava acontecendo, ou seja, reafirmando o ato.

Resta evidente que, imbuído de seus privilégios sociais e em pleno exercício de uma cultura de estupro cotidianamente reforçada pelas estruturais sociais patriarcais, Neto Tavares desrespeita a autonomia, a autodeterminação, a liberdade e a dignidade humana das mulheres. Ele apenas as enxerga e utiliza como objetos de livre acesso disponíveis ao seu prazer individual, ignorando e desconsiderando a livre orientação sexual feminina, na medida em que fetichiza a lesbianidade a serviço de sua própria heterossexualidade. Como se já não bastasse o reforço e exercício à cultura de estupro, José Correia Tavares Neto, que já assediava a vítima deste terceiro relato, camuflando suas investidas de “brincadeiras” há bastante tempo, compactua e pratica a ideia de que a lesbianidade existe em função do fetiche e prazer hetero-masculinos.

O quarto relato dispõe sobre a narrativa de uma companheira que, após interromper um relacionamento breve com o agressor por ter passado por diversas situações de desrespeito e humilhação, foi ostensivamente assediada por este para que os dois ficassem novamente. Após a negativa, o autor propagou diversas inverdades difamatórias a respeito dela, afirmando que havia transado com a vítima naquela noite. A dificuldade em aceitar um “não” que o autor possui fica muito evidente nesta situação, observando o contexto de seus atos, sobretudo quando se constata que diversas pessoas estavam presentes na situação e viram que nada aconteceu, além do assédio ostensivo de um homem sobre uma mulher que o rejeitava continuamente. Para todos e todas ali presentes, estava claro que quanto mais negativas ele recebia, mais a assediava, na tentativa de afirmar sua masculinidade, desconsiderando completamente a autonomia de vontade daquela mulher.

Estes quatro relatos foram trazidos à luz para expor as diversas formas de atuação que o agressor utiliza para conseguir aquilo que quer: vantagens sexuais mediante métodos violentos, indignos e cruéis. Aproveitando-se da condição de “amigo” e da boa relação nos meios sociais das vítimas, Neto circulou livremente e continuou praticando uma série de agressões de caráter eminentemente machista. Ainda que cada uma dessas histórias possua características próprias, é importante destacar que todas elas revelam uma raiz comum, que está imbricada no privilégio social estruturalmente concedido a homens como Neto Tavares, para agirem como se possuíssem um manifesto direito “natural” de livre acesso aos corpos das mulheres, independente da vontade destas. Ignorando deliberadamente a humanidade delas e subtraindo sua subjetividade, tratando-as como “coisas” – em outros termos, coisificando mulheres em objetos sexuais disponíveis ao seu bel prazer.

Igualmente, cabe destacar que, como toda denúncia feita por mulheres contra a violência de gênero, não faltam defensores do status quo machista prontos para abafar a verdade rasgante que aqui pretendemos gritar. Há quem queira nos calar dizendo que “elas quiseram”, ou que “estão mentindo” ou que “mereciam”, ou, ainda, que se fosse verdade estas teriam procurado a polícia de imediato. Estes insensíveis, que exercem uma fraternidade exclusivamente masculina, tendem estar a postos para automaticamente desacreditar as vítimas e abafar suas vozes, exigindo denúncia como requisito da verdade. O maior problema desse processo é que ele desconsidera o trauma da vítima como se o silêncio enquanto reflexo do peso da vergonha, da condenação moral social, da tortura que é a exposição de situações tão íntimas, fosse apenas um mero detalhe a ser ignorado.

Àqueles que acham que a vida é uma equação matemática, e que engrossam as fileiras amordaçantes do machismo, que estão prontos para culpabilizarem as vítimas por motivos absolutamente irrelevantes à violência cometida contra elas, ou para lhes oferecerem o pior de si mesmos, ameaçando-as, assediando-as e difamando-as – como vem ocorrendo – oferecemos o nosso grito conjunto: NÃO PASSARÃO!

Como Neto Tavares e seus amigos, que agem enquanto cúmplices, existem muitos outros, infelizmente, mas é por isto que avisamos que não nos deixaremos intimidar! É justamente contra o que vocês são e representam que nós, mulheres, nos organizamos e lutamos. Estamos juntas, somos fortes, e jamais nos calaremos frente às situações de opressão.

Mulheres, protejam suas irmãs, denunciem à sociedade, compartilhem estas informações. O silêncio e a omissão contribuem para a invisibilização da violência e para a continuidade e perpetuação deste ciclo de agressões. Quem se cala não necessariamente consente, mas indiretamente fortalece o opressor. GRITEMOS!

Articulação Combativa Antissexista – ARCA (PE)
Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB (BR)
Colativa (PE)
Coletiva Bruaca (BA)
Coletivo Ana Montenegro (PE)
Coletivo “Nova História”. (PE)
Coletivo Feminista Dandara (SP)
Coletivo Feminista Diadorim (PE)
Coletivo Feminista Marli Soares (PE)
Coletivo Gaiola (BA)
DACINE (PE)
DHUZATI – Coletiva Vegana de Comida Artesanal (PE)
Fórum de Mulheres de Pernambuco
Frente Feminista da UFBA (BA)
Feminismo Agora!
Flores Crew (PE)
Flores do Brasil (BR)
Grupo Curumim (PE)
Grupo Maria Quitéria (PB)
Juntas! (PE)
Frente de Mulheres dos Movimentos do Cariri (CE)
Marcha das Vadias Recife (PE)
Marcha Mundial de Mulheres – Núcleo Soledad Barret (PE)
Movimento Faça Amor e não faça chapinha (PE)
Movimento Mulheres em Luta – MML (PE)
Ou vai ou Racha (PE)
Plenária de Mulheres do SAJU – Direito USP (SP)
Secretaria Mais Mulher – SASAC (Sociedade de Apoio Sócio Ambientalista e Cultural) (SE)
Secretarias de Mulheres do PSTU (PE)
Setorial de Mulheres do Movimento Zoada (PE)
SOS Corpo (PE)

Nota de repúdio da Secretaria da Mulher não promove a segurança das mulheres.

O anúncio sobre a chegada da Hooters em Recife, trazida por Roberto Bitu, Gustavo Satou, Thiago Figlioulo, Julio Maciel, Cristiano Falcão e Mauricio Falcão, trouxe consigo manifestações contrárias à exploração, objetificação e abusos cometidos pela lógica masculina heterossexista contra as mulheres. A repercussão destas manifestações ameaçou e combateu o poder masculino que, por sua vez defendeu o empreendimento, acusando as críticas de moralistas e outras barbaridades. Argumentos que só fazem sentido aos que são privilegiados por uma estrutura que sexualiza mulheres para serem vendidas como partes integrantes de um kit disponível aos homens. Sim, algo contemplado naquela máxima quando os homens são questionados sobre os seus maiores bens: “minha fortuna, meu carro e minha mulher”.

O sentimento de indignação em perceber que o projeto de requalificação urbana da cidade atraí empreendimentos que promovem a exploração e o abuso feminino, deixando a cidade ainda mais insegura para as mulheres, fez com que várias pessoas procurassem a Ouvidoria da Secretaria da Mulher do Estado de Pernambuco para apresentar a denúncia contra a chegada da rede de restaurantes.

Após a apuração das denúncias, a Secretaria divulga uma tímida nota de repúdio contra os estabelecimentos comerciais e marcas que exploram e utilizam a imagem e o corpo das mulheres como objeto para comercializar seus produtos. Sim, a nota é timída pois não cita o nome do estabelecimento nem absolutamente nadao que remete ao tal.* Apesar de reconhecermos a sensibilidade do órgão público ao se posicionar sobre o alerta das pessoas que não compactuam com a violência de gênero, pensamos que esta forma superficial e abstrata com que ela se apresenta não atua diretamente no combate contra a chegada da Hooters, e pior, não questiona o impacto que este estabelecimento trará na vida das afeminadas que vivem em um dos estados mais perigosos para mulheres do Brasil.

A rede pretende instalar-se nos Armazéns do Porto, empreendimento do Porto Novo Recife, financiado pelo governo estadual e estrategicamente planejado para impulsionar o turismo. Por isso, acreditamos que o poder público tem responsabilidade direta na implementação desta rede. Então, cabe a nós questionar a Secretaria da Mulher, que diz publicamente repudiar estabelecimentos da linha da Hooters, do porque poupar em denunciar o nome de uma marca que ressignifica e sofistica a cultura do abuso sexual.

Tendo em vista que os principais meios de comunicação do estado anunciaram a chegada da Hooters como algo inovador e positivo, bem como os empresários que pretendem investir no projeto, acreditamos que as cautelas legais, previstas em trâmites institucionais, neste momento não são suficientes para justificar a postura de não enfrentamento e não denuncia da rede. Perder-se nas burocracias legais/institucionais acaba por fortalecer o estabelecimento e seus investidores, tornando a segurança das mulheres que vivem nesta cidade, cada vez mais frágil.

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Esta é uma pequena prova de que o Estado não será uma estância eficaz para emancipação e conquista das liberdades dos setores subalternos. As práticas das instituições jurídicas, executivas e legislativas mostram na prática, apenas favorecer a ordem hegemônica. Cremos apenas na potência de luta das mulheres, afeminadas e pessoas aliadas. Certamente, a nota mesmo que tímida, só foi possível graças a uma pequena pressão popular. Atentando a isto, incentivamos a criação de campanhas autônomas e articulações contra a implantação deste antro de exploração e abuso de mulheres.

Por fim, fazemos mais uma vez um apelo, aos grupos, coletivos e demais organizações que também vêem como absurda a instauração deste restaurante na cidade. Pensar a cidade, direitos dos animais, transportes, agroecologia, etnia, classe e meio ambiente, se isentando de se posicionar contra iniciativas exploratórias que se baseiam na submissão, além de uma extrema incoerência política, representa uma cumplicidade com as estruturas hegemônicas estabelecidas.

Dessa forma, gostaríamos não de desmerecer a nota de repúdio da SecMulher do Estado, mas afirmamos que precisamos urgentemente combater diretamente a chegada desse estabelecimento e citá-lo, bem como os seus investidores, é crucial para a efetivação da denúncia.

Não há nada mais parecido com um machista de direita do que um machista de esqueda, sobre Carlos Latuff e Idelber Avelar

tumblr_inline_ng4qziMJ8r1qgx5ilTempos onde a naturalização do machismo se expressa e é defendida com tanta veemência, são bem difíceis.

São tempos que um macho de esquerda publica uma foto claramente objetificada sobre ’marquinhas de biquinis’, reforçando estereótipos do corpo feminino como produto de consumo masculino.

São tempos que este mesmo macho de esquerda tenta deslegitimar um movimento, porque foi apontando, questionado e acusado de proferir ideais machistas.

São tempos onde aquele macho de esquerda esquece de que assédios, abusos, agressões e violências por parte de homens heterossexuais, são absolutamente comuns, e a partir disso, tenta garantir a defesa de outro macho abusador, que ocupa altas posições de poder, ignorando toda a relação injusta que vítimas e acusado ocupam.

São tempos onde um abusador tenta se esconder atrás de uma carreira profissional de alto prestígio social e usa covardemente seu poder para sugerir que um macho com 29 anos de magistério, centenas de ex-alunas, dezenas de ex-orientandas já professoras e ZERO reclamações formais por seu comportamento com mulheres dentro de sala de aula ou na universidade, está imune de cometer abusos e violências machistas.

10353711_850456851643545_3063212563466139509_nSão tempos onde a heterossexualidade não é devidamente problematizada pela dita esquerda como um regime político. Onde os desejos heterossexistas não são vistos como uma produção moderna e científica baseada em estudos que tem localização política controversa ou hegemônica, claramente comprometidas com o sistema capitalista e a opressão misógina.

São tempos que o tal macho de esquerda desenha a incapacidade de materializar o machismo nos sujeitos que mais se beneficiam dele, pq para ele ir contra o machismo nada tem a ver com ir contra os homens que o reproduzem.

São tempos que conversas seguem o norte e os interesses de alguém que usa seus privilégios sociais e sua retórica politicamente correta para explorar a fragilidade de mulheres usando o jargão ‘consensualidade’, reduzindo e mascarando sua prática machista e abusadora.

São tempos onde termos como misandria, racismo reverso, heterofobia e preconceito contra ricos, ganham forma para não se voltar ao questionamento à quem exerce o poder e minar qualquer debate com a jocosa apelação de discurso de ódio contra quem explora.

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Latuff nunca se aproximou tanto de Kátia Abreu, PT e do Estado que ele tanto crítica.
Idelber tenta intimidar as vítimas com ameaças jurídicas e penais na justiça patriarcal, feita e executada por homens.
E o Feminismo segue firme em acusar, denunciar e desmascarar estes escrotos.

Na madrugada do último domingo o cartunista fez uma retratação. Porém, a charge que deslegitima o feminismo radical ainda continua em sua página, bem como o post sobre marquinhas de biquínis e seu apoio a Idelber. É claro que retratações e recuos podem ser uma expressão de sensibilidade, autocrítica e arrependimento por atitudes equivocadas, mas considerando o machismo no âmbito das relações de poder, não se pode negar sua dimensão estratégica, de, ao assumir o erro, recuperar o prestígio abalado e continuar sendo reconhecido como aliado do feminismo.

1891404_446496092155680_4763055562657587360_oComo muito bem disse, Natália Leon, O machismo não está aí pra ser desculpado, mas pra ser denunciado. Enquanto as pessoas parabenizam-no pela sua atitude e compartilham suas desculpas devolvendo-lhe a confiança outrora ameaçada, nós cremos que nenhuma desculpa atenua ou sara a dor de uma violência cometida. E antes que nos acusem de insensíveis, rancorosas ou vingativas, afirmamos que a questão é sobre a responsabilidade de suas ações e estas não serão menos graves devido a uma retratação tão sutil. O machismo naturalizado deste homem pede uma posição sensata e não a ingenuidade de repositar imediatamente uma confiança. Por já ter sido vítimas, estamos na defensiva em constante alerta.

De toda forma, este episódio serviu para deixar as nojeiras e os jogos de manipulação e dominação bem explícitos. Suas posturas infelizes já mancharam suas vitrines políticas para muitos setores e correntes que leva esta luta e este movimento a sério, e isto, a longo prazo, trará muitos resultados.

 

 

PARA MAIS INFORMAÇÕES:
Sobre as vítimas e os nossos desafios – Passa Palavra
Caso Idelber: Não é do campo judiciário ou moral, mas ético e político – Revista Fórim
Solidariedade total às vítimas; Autodefesa frente ao algoz machista; Desconstrução cotidiana dos machismos! – Mães de Maio

Seis explicações contra os argumentos machistas que defendem a Hooters

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Diante da repercussão da posição da ARCA sobre a chegada da rede internacional de restaurantes Hooters e da incompreensão por parte de algumas pessoas do que isso representa, resolvemos abordar alguns pontos do debate, só que dessa vez, de forma mais pedagógica, levando em consideração os argumentos mais repetitivos desta historia toda.

Nosso objetivo é que a discussão continue a fluir, de forma a aprofundar a compreensão sobre a lógica violenta na qual se estruturam as nossas cidades. O texto objetivo e pontual de outrora com certeza trouxe muitos desconfortos, não apenas por uma possível falta de habilidade nossa, mas também pela profunda naturalização do machismo presente na sociedade e pelo insistente reforço em querer assegurar, de acordo com a lógica capitalista, o corpo da mulher enquanto mercadoria.

Solicitamos aos leitores maior abertura para ler o que se segue. A missão de se compreender uma mensagem depende em muito da boa vontade de quem a lê.

{02d29c0b-c651-4024-b28f-d76a75f24ad4}_dsc_00021 – O que tudo isso tem a ver com a “revitalização da cidade” e porque o Estado tem sim responsabilidade sobre isso? Além de acharmos, por si só, a existência do restaurante extremamente problemática, a unidade da Hooters na cidade é um empreendimento dentro do Projeto Novo Recife. Cremos que não é só apenas as torres do Consórcio que compõe o projeto, afinal o empreendimento que revitaliza a zona portuária da cidade também usa a alcunha ‘Novo Recife’. O que estamos querendo dizer é que o projeto de desenvolvimento urbano está voltado não só para um poder de consumo mais elevado, ligado ao mercado turístico, mas é composto por empreendimentos que exploram sexualmente a imagem feminina. Minimamente, podemos afirmar que um projeto que prevê um tipo de estabelecimento como o Hooters não considera uma realidade de violência sexista concreta na cidade e pior, com base em argumentos de liberdade – de perspectiva liberal – naturaliza a objetificação do corpo do mulher. Você não acha no mínimo complicado o Estado numa Parceria Público/Privada permitir que uma rede como a Hooters se abulete no meio do Recife Antigo, um dos nossos cartões postais, e em vários aspectos contribua para a reprodução da violência sexista? E o papel do estado em coibir essas violências onde fica? Ou não podemos responsabilizar o Estado por isso?
Um empreendimento de requalificação urbana que admite em um modelo de negócio que vende e se sustenta com a exploração de trajes sexualizados, sofistica o consumo sexual do corpo feminino. É uma forma de normalizar e atenuar a prática abusiva do assédio e fazer vista grossa para os comportamentos e hábitos masculinos desrespeitosos e violentos. No processo seletivo, as Garotas Hooters são treinadas a fugirem de cantadas e como falamos acima, são obrigadas a assinar um termo afirmando e reconhecendo que podem sofrer abusos. Desta forma, ao admitir este tipo de negócio de alto consumo, num grande projeto de estruturação urbana, o poder público colabora para construção de ambientes não seguros para mulheres, permite a expansão do consumo elitista de mulheres como entretenimento masculino, – o que representa uma estratégia de normalização – além de impulsionar a cultura machista na cidade, algo que definitivamente reverberará e trará drásticas consequências às todas as mulheres e afeminadas da sociedade. Isto representará um imenso retrocesso. No mundo inteiro, meninas e mulheres sofrem com assédio, machismo e violência nos espaços públicos. O medo, muitas vezes, impede que elas façam algum trajeto, limitando seu ir e vir na cidade. Isso acontece porque o espaço urbano não é planejado pensando nas mulheres e afeminadas, e o Novo Recife está ai para provar isso!

Hooters2 – Uma busca no google (ou no DuckDuckGo o buscador que não vende sua vida a empresas.) com o nome da franquia Hooters e o site da rede são bem claros, a proposta não é a venda de comidas, mas das mulheres em forma de produto. É ingênuo acreditar que se trata unicamente de um restaurante comum, que “famílias frequentam e isso não tem nada de mais” ou que “é um bar como outro qualquer”. Olhem os detalhes no site e me digam se realmente não há problemas em uma franquia internacional que expõe como propaganda mulheres semi nuas envoltas em lutas de UFC, jogos de beisebol e costelas suínas, te dizendo: “ao chegar no nosso bar você não só vai ver a sua luta ou o jogo do seu time, mas ser servido por belas mulheres com seios volumosos a mostra” se você não enxergou o problema é porque provavelmente você se satisfaz, tira vantagem com esta exploração sexual ou por alguma espécie de cegueira desconhecida (rs). Realmente se faz necessário isso pra vender cebola empanada e chopp gelado? Nós acreditamos que isto não faz nenhum sentido, mas sabe porque o senso comum não se dá conta dessa bizarrice? Porque a sua, a nossa consciência, já esta habituada a ver mulheres sendo vendidas como partes integrantes de um kit disponível aos homens – mulheres, bebidas, muita carne vermelha e futebol e isso é tão natural que as famílias não veem problemas em levar seus filhos para esses espaços, é tudo normal.

A hipersexualização das mulheres está nos outdoors, nas revistas, nos programas de TV, nos catálogos de moda, nas publicidades e em casas noturnas, isto não representa um problema em nossa sociedade, pelo contrario, é necessário para que as mulheres tenham algum valor, pois esta é uma das formas que a sociedade nos oferece para sermos úteis no mundo. Pela hipersexualizacao dos corpos femininos as mulheres e pessoas afeminadas são impelidas a vender o que a sociedade consome: seus corpos. Se você inverter a lógica vai perceber que aos homens e seres masculinos são reservadas mais possibilidades de emprego que não envolvam seus corpos e suas sexualidades, mas para as mulheres e seres afeminados, vender sua força de trabalho sexual é sempre uma alternativa. A grande questão aqui é que as mulheres e todxs xs individuxs podem e devem obter o seu sustento da melhor forma que optar, mas existe uma lógica que faz com que alguns corpos afeminados sejam vendáveis e outros bem menos. O que os defensores da Hooters não percebem é o quanto essa naturalização da mulher enquanto objeto sexual, sexo frágil e muitas vezes como servas dos homens tem consequências desastrosas, como a violência física, exploração sexual e o tráfico de mulheres. Não acreditamos em objetificação sexual light, ou exploração sexual leve, menos danosa e mascarada como a Hooters faz nos seus restaurantes.

f33 – Aí você me diz que as mulheres “estão ali porque querem e gostam do que fazem”. Em um ponto concordamos, de fato xs indivíduxs possuem uma agência que xs motiva a agir de um jeito e não de outro, e que (até onde sabemos) os empregadores não colocam facas nos pescoços das mulheres e as obrigam a trabalhar lá. Mas existe uma outra questão que impede o que você chama de “liberdade individual” e “livre iniciativa”, cremos que ela é uma ilusão. Ao dar uma pequena observada em nossa sociedade e nas nossas próprias atuações dentro dela percebemos que a grande maioria de nós, principalmente as pessoas de classes mais populares, já trabalharam ou trabalham em empregos que não gostam e não lhes satisfazem e que o imperativo financeiro é condicionante para “passar um tempo, até me organizar”, muitas vezes este tempo é uma eternidade. Dificilmente é possível acreditar que uma pessoa se sinta realizada com o tipo de trabalho que faz no McDonald’s ou do Subway, apesar de sabermos que existe uma pequena exceção. A vida capitalista faz com que o emprego seja uma necessidade, para pagar as contas, para comer, para morar bem. A estabilidade do emprego sempre se coloca a frente das necessidades subjetivas, dos prazeres, dos projetos políticos e muitas vezes das aptidões pessoais. Não é por acaso que a depressão é uma das doenças que mais afastam trabalhadores das empresas atualmente, também não é por acaso o alto índice de pessoas com depressão nas cidades. O Estabelecimento que se utiliza da liberdade das mulheres de estarem lá porque querem” para vendê-las junto com pedaços de animais mortos, acaba por contribuir para que essas violências aconteçam. As Garotas Hooters são obrigadas a “reconhecer e afirmar” que o conceito do bar é baseado no apelo sexual feminino e que no ambiente de trabalho podem ocorrer situações desagradáveis de desrespeito e assédios. Me diga você o que pode acontecer com essas mulheres que estão lá trabalhando em um dia de luta de UFC, madrugada a fora quando a maioria masculina embriagada resolver “tirar uma onda” no estabelecimento… Será que elas serão culpabilizadas pelo desrespeito que podem sofrer? Por ter assinado um termo onde se declaram cientes disso? Pense com carinho, sem dizer a primeira coisa que a sua mente reproduz, com um pouco de cuidado você se dará conta do que pode acontecer com elas.

4 – Pessoas que fazem o uso do termo liberdade, para justificar o tipo de emprego oferecido pela Hooters, deviam reconhecer que homens são proibidos de serem garçons neste bar, que além disso muitas mulheres que fogem de um padrão de beleza objetificado também são proibidas de trabalhar lá. Na realidade a Hooters tem um manual severo de conduta e impõe na cabeça das funcionárias que elas precisam realizar atividades extra oficiais, para assegurar o emprego. Um estabelecimento que tem como hábito apenas selecionar ‘gostosas’ desrespeita quem não atende os padrões de beleza machistas. Quantos destes homens que defendem a Hooters perderam oportunidades de empregos por não serem bonitos ou gostosos? – sim, porque grande parte deles são horrorosos e nem um pouco gostosos por sinal (rs. rsrsrs). Se o serviço é de atendimento, a mulher não tem obrigação de ser gostosa, muito menos de tentar manter ou atingir um padrão de beleza machista para conseguir um emprego. Vocês acham realmente que isto tem alguma coisa a ver com liberdade?

5 – Os defensores da Hooters parecem não saber que a rede tem várias pedras legais em seu calcanhar, em 1997 a Hooters foi condenada a pagar 3,75 milhões por ter discriminado e negado emprego a três homens nos Estados Unidos, em 2004 várias mulheres entraram com ação na justiça estadunidense por ter sidos filmadas por câmeras escondidas enquanto se despiam. Para os amantes do direito, o acesso ao emprego baseado por motivos de sexo, cor, estado civil, é proibido pela Constituição Brasileira. E o que isso diz sobre a rede de restaurantes? Bem, nos diga você!

960x720_179216 – Fundamentalistas religiosas ou moralistas é um termo que não nos cabe. Não estamos indo contra os shortinhos que as Garotas Hooters vestem, muito menos contra seus decotes, estamos indo contra mulheres terem que vestir shortinhos e decotes para serem o principal produto de atração de um restaurante, sim porque elas deixam de ser Anas, Marias e Claúdias, para serem um objeto sexual. Defendemos o direito das mulheres andarem como queiram, com burca, com shorts, topless, de calças, sem camisa e até nuas, apenas somos contra alguém lucrar pela forma que uma mulher deseja se trajar ou imponha um traje para o trabalho que a transforme num produto, isto se chama coisificação e objetificação do corpo feminino e é exatamente isto o que transforma mulheres em mercadoria. Também lutamos pela liberdade sexual e temos certeza que sem ela é impossível existir corpos livres. Nos impressionam ver os homens que defendem a Hooters falar em liberdade das mulheres. Atualmente, as mulheres não tem liberdade para interromper uma gravidez indesejada, queremos saber o que eles estão fazendo para garantir as liberdades femininas que não cruzam com seus desejos sexuais. A nossa questão é com o sistema capitalista que é machista, racista e que se apropria dos corpos das mulheres e afeminadas para lucrar em cima deles. Seja para fins sexuais, seja para limpar o banheiro ou fazer um almoço, o sistema se apropria dos nossos corpos para servir uma classe dominante, branca, rica e heterossexual.

Nossa tentativa de trazer estes tópicos se faz com o objetivo de contribuir para um maior aprofundamento do debate, tão precarizado pela naturalização do senso comum machista. Nossa posição é norteada por princípios anticapitalistas e anti-autoritários, por isso cremos na interseccionalidade das lutas como algo elementar para a construção de uma realidade plural, diversa e justa. Outros pontos que abordamos no texto original como como tráfico de mulheres, exploração de animais não humanos, projeto de requalificação protagonizado pelo monopólio de grupos corporativos, estratégias de pressão e a subordinação mercantil de pessoas pelo advento do emprego capitalista, se faz neste momento, sem oportunidade de análise, haja visto a profunda convicção dos defensores da Hooters com os ideais hegemônicos antropocêntricos, capitalistas e machistas.

Admitimos, sem dúvidas, uma possível ‘falha pedagógica’ na objetividade do texto e na incisividade combativa. Contudo, gostaríamos de dividir esta responsabilidade, com nossxs parceirxss de luta e grupos que publicizam uma postura crítica ao capitalismo, mesmo com todas suas contradições. Novas visões de mundo em relação ao gênero, etnia, classe, sexo, cidades, agricultura, animais não humanos, meio ambiente e transporte não se consolidarão com esforço “somente das feministas”. A construção de uma realidade plural passa por vários campos. Desta forma, assumir, posicionar-se e ter postura contundente contra iniciativas exploratórias que se baseiam na submissão, se faz uma mais que uma responsabilidade, é um compromisso social.

ARCA – Articulação Combativa Antisexista

Masculinidade e Violência: uma cultura predatória

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No dia 23 de outubro participamos do debate sobre Masculinidade e Violência apresentado por Daniel Kirjner e promovido pela pela SVB Recife, com uma banquinha de publicações antisexistas e feministas,

Daniel, a partir de uma pesquisa sobre comerciais de tv, trouxe reflexões de como a cultura do estupro, o desejo machulento heterossexista, a objetificação do feminino e o enaltecimento da cultura predatória do macho, estão presentes na construção cultural que prega a ingestão de animais e seus derivados, sendo portanto uma das múltiplas faces da dominação masculina, condição estruturante para a emergência do patriarcado.

A partir dos vídeos e imagens, é notório reconhecer que a  lógica que rege o consumo alimentar de carnes é completamente análoga a lógica heterossexista. Comerciais estadunidensses e brasileiros de rede de fast-foods e da indústria alimentícia apresentam de forma massiva, um conteúdo sexual implícito que sugere o corpo padronizado de mulheres e produtos como hamburguers, ovos, carnes, leites e salsichas, prontos para serem devorados por homens. Considerando isto, Daniel então propõe que a luta antisexista e feminista deve-se aliar com a luta pela libertação animal, pois ambas são lutas contra o patriarcado.

Além da ARCA, o evento contou com a participação do Ativeg Recife, Coletivo Feminista Diadorim, Coletivo Marcha das Vadias (Recife), Dhuzati Coletiva Vegetariana Artesanal, GEMA/UFPE – Núcleo de Pesquisa em Gênero e Masculinidades, Juju Vegan, Liberte e Macacos Me Mordam.

No fim sorteamos uma edição do livro Tesoura para Todas.

Em legítima defesa, por Elizandra Souza

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Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR
Já estou vendo nos varais os testículos dos homens que não sabem se comportar
Lembra da Cabeleireira que mataram, outro dia?
E as pilhas de denuncias não atendidas?
Que a notícia virou novela e impunidade?
É mulher morta nos quatro cantos da cidade…?

Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR
A manchete de amanhã terá uma mulher dizendo:
– Matei! E não me arrependo!
Quando o apresentador questiona ela simplesmente retocará a maquiagem.
Não quer parecer feia quando a câmera retornar
e focar em seus olhos, em seus lábios…

Só estou avisando
VAI MUDAR O PLACAR
Se a justiça é cega, o rasgo na retina pode ser acidental
Afinal, jogar um carro na represa deve ser normal,
Jogar a carne para os cachorros, procedimento casual,

Só estou avisando
VAI MUDAR O PLACAR
Dizem, que mulher sabe vingar
Talvez ela não mate com as mãos, mas mande trucidar..
Talvez ela não atire, mas sabe como envenenar…
Talvez ela não arranque os olhos, mas sabe como cegar…

Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR

Elizandra Souza, Águas da Cabaça
2012

Mulheres indianas unidas pela resistência e pela violência afeminada

10710574_379196625566739_252288507994663387_nA Índia é apenas um dos muitos lugares do mundo onde o patriarcado conseguiu, de forma peculiar, trazer os dogmas religiosos que engendrou, como artifício para estruturar com a sociedade, violentando mulheres.

O rígido sistema de divisão de castas resulta num brutal feminicídio e numa castração absoluta de direitos e liberdade das mulheres.  Seus destinos já estão traçados: abusos sexuais, estupros, abortos e abandonos de bebês apenas por serem meninas, mutilações e agressões físicas.

Muitas famílias indianas, mesmo as mais ricas, veem o nascimento de uma menina como um desperdício, um problema financeiro. Elas representam gastos com educação, sistemas de repressão, alimentação e, para casar uma filha, é preciso juntar um grande dote, ou seja, dar presentes para a família do macho.

A misoginia se intensifica em casos que mulheres esperam filhas gêmeas: as práticas mais comuns que as famílias exercem sobre as mulheres são a pressão para abortar, a tortura e a interrupção da alimentação.

A pediatra Mitu Khurana é uma das poucas ativistas que usam sua própria história como exemplo para mostrar como esse costume está alterando a balança de gênero no país. Quando Mitu recebeu a notícia do médico de que estava grávida de gêmeas, sua felicidade foi imensa. Contudo, ao chegar em casa, seu marido e a família dele estavam de luto e disseram que não poderiam criar duas meninas. Apesar da pressão, Mitu não terminou a gravidez e deixou o marido, alegando abuso por parte dele e dos sogros. Com o apoio de seus pais, Mitu embarcou em uma luta (também no campo legal) contra esse tipo de atitude, segundo ela “Na Índia, esses abortos se tornam uma indústria milionária”.

É  uma realidade extremamente insegura, violenta e brutal que impulsiona a necessidade de uma resistência e um combate à altura, que traga contundência e eficácia para desmistificar a fragilidade e violabilidade associada ao corpo das mulheres. De fato, é preciso ressaltar a importância dos trabalhos que visam conscientizar, ilustrar e propagar a responsabilidade masculina no contexto de violência à mulher, mas ao mesmo tempo, é urgente deixar claro, que a força motriz que engendra a violência não é a falta de esclarecimento ou ignorância masculina e sim a relação desigual de poder que homens detém na sociedade e usam como forma de oprimir mulheres e demais dissidentes da normativa masculina. O que muitas mulheres indianas se convenceram é de que as violências misóginas só chegarão ao fim a partir da organização de mulheres numa combatividade efetiva e direta contra as ameaças que tange seus corpos.

O vídeo abaixo mostra um recrutamento combativo feminino para punição de homens que tentaram estuprar mulheres. No ocidente,  cenas como esta chocam a racionalidade patriarcal e os olhos cegos à dura realidade misógina, sob a justificativa piegas de que violência gera mais violência.

“Se retirarmos esta filosofia da arena política impessoal e a colocarmos num contexto mais real, a não violência implica na crença de que é imoral que uma mulher se defenda de um agressor ou que aprenda autodefesa. A não violência assume que para uma mulher maltratada seria melhor partir, ao invés de se mobilizar em um grupo de mulheres e dar uma surra no marido agressor, escurraçando-o de casa1. A não violência afirma que é melhor ser estuprada do que tirar uma caneta do bolso e afundá-la na jugular do agressor (porque fazê-lo seria supostamente alimentar um ciclo de violência e fomentar futuras violações). O pacifismo simplesmente não tem ressonância nas realidades diárias das pessoas, a menos que estas pessoas vivam em um extravagante mar de tranquilidade, em que toda forma de violência civil, reativa e pandêmica, tenha sido expulsa pela violência sistêmica menos visível da polícia e das forças militares.”

Peter Geoderloos – Como a não violência é patriarcal, capítulo 4 do livro Como a não violência protege o Estado.

Na cidade de Bundelkhand, no estado de Uttar Pradesh, norte da Índia, mais de 10.000 mulheres entre 22 e 50 anos compõe o Gulabi Gang. As mulheres da gangue rosa vão às casas dos maridos violentos com varas de bambu, ameaçando-os a menos que parem de abusar de suas esposas. A maioria das mulheres da gang são dalits (considerada a casta mais baixa indiana, ou “os intocáveis”) e não por acaso, a casta que contém o maior número de mulheres abusadas, machucadas e assassinadas.

Em 2008, elas invadiram um escritório da companhia energética do distrito de Banda e obrigaram funcionários a restabelecer a energia que tinha sido cortada para extrair propina e subornos. Elas também brigaram pelo fim do casamento infantil e pela alfabetização das mulheres.

ativistaspink_2E porque é preciso ter uma “gangue” para ajudar mulheres em Bundelkhand? Essa aérea superpovoada é palco de guerras diárias contra uma sistema político corrupto, terras inférteis e o patriarcal sistema da hierarquia de castas.

Em sua curta existência, o grupo já enfrenta acusações de tumultos, ataque aos funcionários do governo, reunião ilegal e obstrução da justiça. Meses atrás, após o estupro de uma mulher dalit por um homem de uma casta superior, a polícia sequer registrou o caso. Moradores que protestavam foram presos. A gangue buscou justiça e  invadiu a delegacia de polícia, exigindo que os aldeões fossem liberados e que fosse registrada uma queixa contra o agressor. Quando o policial se recusou a cumprir tal pedido, a quadrilha atacou a delegacia com as varas de bambu e um inquérito contra o criminoso está em andamento agora.

O Gulabi Gang é um exemplo de união e solidariedade entre mulheres e tem muito a oferecer ao contexto de violência vivenciado por mulheres, lésbicas, bichas afeminadas e pessoas trans no Brasil.  A forma de ativismo do Gulabi Gang é ação direta, que se empenha não apenas em questionar as condições da mulher, como também em oferecer suporte àquelas que se encontram em situações de risco.  Esses esforços nos acordam para a realidade de violência que atinge milhares de mulheres diariamente, um tipo de experiência insubstituível, cuja lacuna não pode ser preenchida por nenhum estudo acadêmico.

Notas

1 – Esta última estratégia tem sido aplicada com sucesso em muitas sociedades antiautoritárias ao longo da história, incluindo a Igbo, na Nigéria, hoje. Por exemplo, ver Judith Van Allen, “‘Sitting on a Man’, Colonialism and the Lost Political Institutions of Igbo Women”, Canadian Journal of African Studies, v. 2, 1972, p. 211-219.

Apresentação do Tesoura para Todas

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Tesoura para Todas é uma ferramenta coletiva, uma arma lançada para a reflexão, o debate e a ação contra as agressões sexistas.

Diante de uma realidade onde as práticas sexistas são imensamente naturalizadas e reproduzidas dentro de espaços, grupos e por indivíduos que impressionantemente visam combater a cultura sexista, o encorajamento de mulheres, dissidentes sexuais e de gênero, bem como uma análise radical do patriarcado, é uma necessidade urgente.

Esta atividade visa apresentar o livro lançado recentemente pela Editora Deriva e realizar um debate a partir da apresentação de três textos que ilustram bem o contexto político local. Eles nos ajudarão a entender como algumas resistências antisexistas constroem suas combatividades.

A atividade acontecerá dia 11/10 é exclusiva para mulheres e dissidentes sexuais. Devido ao objetivo do encontro a presença de homens cis1 não são pertinentes, por isso desencorajamos qualquer tipo de insistência por parte destas pessoas que detêm amplos privilégios sociais apenas por serem homens, alinhados a masculinidade e heterossexuais.

informações sobre local e mais detalhes informados apenas por email!

versão do livro em pdf: https://we.riseup.net/assets/121348/tesouras%20para%20todas.pdf

Notas

1 – O prefixo latino cis signifca “ao lado de” ou “no mesmo lado de”, foi concebido pelo transfeminismo como estratégia para enfatizar que a sexualidade e o gênero são construções políticas. Deste modo, os termos cisgênero e cissexual refletem a legitimação e concordância de indivídues à identidade de género imposta a partir sua genitália.