Machismo Mata: Neto Tavares, dopping e estupro.

Machismo Mata
Machismo Mata

Os presentes casos que serão apresentados não são histórias de ficção, são trágicas narrativas que se repetem incessantemente na vida de milhares de mulheres por todo o mundo, todos os dias. Tratam-se de relatos sobre violência sexual, objetificação, perseguição, manipulação, assédio e propagação de inverdades sobre a vida das mulheres, que aqui são apresentados em caráter de denúncia.

JOSÉ CORREIA TAVARES NETO: este é o nome de mais um “rapaz de família”, homem jovem, branco, cis, heterossexual, classe média alta, bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Chegando em Recife, oriundo de Caruaru, NETO TAVARES (como é conhecido) começou a se aproximar de diversos movimentos e organizações de esquerda, apresentando uma postura supostamente aberta às pautas sociais, tais como a desigualdade social, o combate à lgbtfobia, ao racismo, chegando até a se apresentar como pró-feminista em diversos espaços – em que pese a visível diferença entre o seu discurso e a sua prática, haja vista que Neto jamais chegou a se organizar em qualquer coletivo ou movimento.

Ainda assim, entre muitos e muitas militantes – sobretudo entre as mulheres –, Neto era um rapaz considerado como um amigo e/ou companheiro, uma pessoa em quem aparentemente se podia confiar. Ocorre que por trás dessa aparente postura “militante”, escondia-se um homem que, no auge do usufruto de seu privilégio social, manipulava, mentia, assediava e estuprava mulheres, utilizando-se de métodos absolutamente covardes para conseguir seus objetivos, e ameaçando suas vítimas. Aqui constam pelo menos quatro de uma infinidade de relatos que se seguem e que, a cada dia, só aumentam.

O primeiro deles conta a história de uma mulher que, além de sofrer assédio moral e psicológico durante uma relação doentia, controladora e abusiva produzida pelo agressor, foi constantemente humilhada, traída e violada, sendo, inclusive, drogada com LSD enquanto dormia para que ele a violentasse. Durante o namoro com esta mulher, o agressor não apenas a violou de diversas formas, como se relacionou com outras mulheres e constantemente assediava suas amigas mais próximas.

Já o segundo caso diz respeito à narrativa de uma mulher que foi dopada em um bar pelo agressor, e que após ingerir uma bebida oferecida por ele, perdeu completamente o controle de seu corpo e de sua consciência. No dia seguinte, ela acordou despida na cama do agressor, cuja frieza e a completa falta de respeito à condição de sujeito dela são absolutamente revoltantes, sobretudo pela postura dissimulada e cínica adotada pelo denunciado.

A sociedade em geral, e as mulheres em específico, são constantemente induzidas a pensar que o perfil do estuprador é de um desconhecido que estará à espreita, numa rua escura, pronto para fazer da oportunidade uma chance concreta de violência sexual. No entanto, dados recentes apontam que 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima, indicando que, na contramão do senso comum, os agressores, em geral, fazem parte do ciclo social da vítima.

O terceiro relato parte de uma companheira lésbica que, mesmo tendo uma relação de amizade com o agressor, foi assediada diversas vezes, culminando numa situação de violência sexual. Nesse momento observa-se que Neto Tavares abusou da confiança nele depositada para praticar o estupro enquanto a vítima dormia. Ao acordar, ela se deparou com sua roupa aberta e o toque do agressor dentro da sua calcinha, enquanto o mesmo se masturbava. Sendo questionado sobre o que estava fazendo, o autor não se constrangeu com a situação afirmando que a vítima deveria gostar do que estava acontecendo, ou seja, reafirmando o ato.

Resta evidente que, imbuído de seus privilégios sociais e em pleno exercício de uma cultura de estupro cotidianamente reforçada pelas estruturais sociais patriarcais, Neto Tavares desrespeita a autonomia, a autodeterminação, a liberdade e a dignidade humana das mulheres. Ele apenas as enxerga e utiliza como objetos de livre acesso disponíveis ao seu prazer individual, ignorando e desconsiderando a livre orientação sexual feminina, na medida em que fetichiza a lesbianidade a serviço de sua própria heterossexualidade. Como se já não bastasse o reforço e exercício à cultura de estupro, José Correia Tavares Neto, que já assediava a vítima deste terceiro relato, camuflando suas investidas de “brincadeiras” há bastante tempo, compactua e pratica a ideia de que a lesbianidade existe em função do fetiche e prazer hetero-masculinos.

O quarto relato dispõe sobre a narrativa de uma companheira que, após interromper um relacionamento breve com o agressor por ter passado por diversas situações de desrespeito e humilhação, foi ostensivamente assediada por este para que os dois ficassem novamente. Após a negativa, o autor propagou diversas inverdades difamatórias a respeito dela, afirmando que havia transado com a vítima naquela noite. A dificuldade em aceitar um “não” que o autor possui fica muito evidente nesta situação, observando o contexto de seus atos, sobretudo quando se constata que diversas pessoas estavam presentes na situação e viram que nada aconteceu, além do assédio ostensivo de um homem sobre uma mulher que o rejeitava continuamente. Para todos e todas ali presentes, estava claro que quanto mais negativas ele recebia, mais a assediava, na tentativa de afirmar sua masculinidade, desconsiderando completamente a autonomia de vontade daquela mulher.

Estes quatro relatos foram trazidos à luz para expor as diversas formas de atuação que o agressor utiliza para conseguir aquilo que quer: vantagens sexuais mediante métodos violentos, indignos e cruéis. Aproveitando-se da condição de “amigo” e da boa relação nos meios sociais das vítimas, Neto circulou livremente e continuou praticando uma série de agressões de caráter eminentemente machista. Ainda que cada uma dessas histórias possua características próprias, é importante destacar que todas elas revelam uma raiz comum, que está imbricada no privilégio social estruturalmente concedido a homens como Neto Tavares, para agirem como se possuíssem um manifesto direito “natural” de livre acesso aos corpos das mulheres, independente da vontade destas. Ignorando deliberadamente a humanidade delas e subtraindo sua subjetividade, tratando-as como “coisas” – em outros termos, coisificando mulheres em objetos sexuais disponíveis ao seu bel prazer.

Igualmente, cabe destacar que, como toda denúncia feita por mulheres contra a violência de gênero, não faltam defensores do status quo machista prontos para abafar a verdade rasgante que aqui pretendemos gritar. Há quem queira nos calar dizendo que “elas quiseram”, ou que “estão mentindo” ou que “mereciam”, ou, ainda, que se fosse verdade estas teriam procurado a polícia de imediato. Estes insensíveis, que exercem uma fraternidade exclusivamente masculina, tendem estar a postos para automaticamente desacreditar as vítimas e abafar suas vozes, exigindo denúncia como requisito da verdade. O maior problema desse processo é que ele desconsidera o trauma da vítima como se o silêncio enquanto reflexo do peso da vergonha, da condenação moral social, da tortura que é a exposição de situações tão íntimas, fosse apenas um mero detalhe a ser ignorado.

Àqueles que acham que a vida é uma equação matemática, e que engrossam as fileiras amordaçantes do machismo, que estão prontos para culpabilizarem as vítimas por motivos absolutamente irrelevantes à violência cometida contra elas, ou para lhes oferecerem o pior de si mesmos, ameaçando-as, assediando-as e difamando-as – como vem ocorrendo – oferecemos o nosso grito conjunto: NÃO PASSARÃO!

Como Neto Tavares e seus amigos, que agem enquanto cúmplices, existem muitos outros, infelizmente, mas é por isto que avisamos que não nos deixaremos intimidar! É justamente contra o que vocês são e representam que nós, mulheres, nos organizamos e lutamos. Estamos juntas, somos fortes, e jamais nos calaremos frente às situações de opressão.

Mulheres, protejam suas irmãs, denunciem à sociedade, compartilhem estas informações. O silêncio e a omissão contribuem para a invisibilização da violência e para a continuidade e perpetuação deste ciclo de agressões. Quem se cala não necessariamente consente, mas indiretamente fortalece o opressor. GRITEMOS!

Articulação Combativa Antissexista – ARCA (PE)
Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB (BR)
Colativa (PE)
Coletiva Bruaca (BA)
Coletivo Ana Montenegro (PE)
Coletivo “Nova História”. (PE)
Coletivo Feminista Dandara (SP)
Coletivo Feminista Diadorim (PE)
Coletivo Feminista Marli Soares (PE)
Coletivo Gaiola (BA)
DACINE (PE)
DHUZATI – Coletiva Vegana de Comida Artesanal (PE)
Fórum de Mulheres de Pernambuco
Frente Feminista da UFBA (BA)
Feminismo Agora!
Flores Crew (PE)
Flores do Brasil (BR)
Grupo Curumim (PE)
Grupo Maria Quitéria (PB)
Juntas! (PE)
Frente de Mulheres dos Movimentos do Cariri (CE)
Marcha das Vadias Recife (PE)
Marcha Mundial de Mulheres – Núcleo Soledad Barret (PE)
Movimento Faça Amor e não faça chapinha (PE)
Movimento Mulheres em Luta – MML (PE)
Ou vai ou Racha (PE)
Plenária de Mulheres do SAJU – Direito USP (SP)
Secretaria Mais Mulher – SASAC (Sociedade de Apoio Sócio Ambientalista e Cultural) (SE)
Secretarias de Mulheres do PSTU (PE)
Setorial de Mulheres do Movimento Zoada (PE)
SOS Corpo (PE)