Feminismo e Transfeminismo: Contribuições para uma aliança antisexista

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Os vários feminismos são importantes para as perspectivas transfeministas e vice versa. Desta forma, chamamos à todas para um debate aberto com finalidade de discutir algumas visões sobre o feminismo e as suas relações e com o transfeminismo.

O objetivo é construir e propagar a aliança entre as afeminadas sob uma perspectiva descolonial, enegrecida, solidária e autônoma.

A atividade está sendo organizada pela ARCA – Articulação Combativa Antisexista e será realizada no SINTUFEPE/UFPE – Sindicato dos Ténicos das Universidades Federais de Pernambuco, que fica na Av. Acadêmico Helio Ramos, em frente a parada de ônibus dos fundos do CFCH

Mais informações na página do evento do facebook:
https://www.facebook.com/events/1443796322579752

 

Grupos Feministas de Pernambuco assinam nota de repúdio sobre abertura do Hooters, em Recife

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Nós, que abaixo assinamos, vimos por meio dessa petição externalizar e denunciar o nosso repúdio à chegada do estabelecimento comercial denominado HOOTERS na cidade do Recife.

O estabelecimento irá se fixar no local do projeto Novo Recife no bairro do Recife Antigo, lugar de destaque e um dos principais pontos turísticos da cidade. A cadeia de restaurantes HOOTERS virá para compor o centro de entretenimento e gastronomia que está sendo construído na área portuária da cidade, cujos objetivos consistem, dentre outras coisas, em revitalizar o bairro histórico a atrair mais turistas para o local.

Diante disso, consideramos uma afronta aos direitos da pessoa humana forahooters2e, especificamente, das mulheres, a permissão por parte do Estado de Pernambuco e da Cidade do Recife do funcionamento do estabelecimento, pois este se trata de um local no qual a imagem e corpo da mulher são ofertados junto com os outros produtos negociados. A imagem da mulher vestida seminua que circula entre as mesas e serve às pessoas é posta como um dos principais atrativos do estabelecimento.

Além de terem seus corpos expostos como parte do banquete ofertado, as mulheres que lá trabalham recebem orientações para aceitarem os assédios e abusos que por ventura ocorram enquanto estiverem trabalhando, estando explícito no contrato de trabalho que elas precisam lidar com a situação de forma educada e solícita, de modo a não ser rude ou constranger os clientes.

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O foco da nossa reivindicação consiste em denunciar o estabelecimento que se utiliza de formas aprimoradas de coerção e violência contra a mulher, assim como, de abuso e exploração dos seus corpos.

A questão torna-se mais grave por ser tratar de uma área portuária e com grande circulação de turistas, que podem enxergar não só no restaurante, mas nos corpos das mulheres, um local para o seu entretenimento.

Outro agravante é o fato de Pernambuco estar entre os dez estados mais violentos para as mulheres, configurando-se, assim, como um dos estados onde mais se mata mulheres por motivação sexista – os denominados crimes de gênero ou feminicídios. Como o Estado pode enfrentar esta situação, incentivando a abertura de estabelecimentos que incentivam práticas violentas e abusivas contra as mulheres?!

Outra questão a ser considerada é que a revitalização da área é uma parceria público-privada. Como o Estado e a Cidade do Recife concedem a abertura de um estabelecimento dessa ordem?

Contestamos, pois, as duas instâncias: estadual e municipal a se pronunciarem a respeito dessa situação absurda e a tomar providências que respondam às questões postas nessa denúncia.

ActionAid
Articulação de Mulheres Brasileiras
ARCA – Articulação Combativa Antisexista
Casa da Mulher do Nordeste
Cendhec
Centro das Mulheres do Cabo
Centro de Cultura Luiz Freire
Cape Mujica
Casa da Mulher do Nordeste
Coletivo Além do Arco Iris
Coletivo de Advocacia Popular Luiz Gama
Coletivo Feminista Diadorim
Coletivo Mulher Vida
Coletivo Marcha das Vadias Recife
Diretório Acadêmico de Serviço Social
Fórum de Mulheres de Pernambuco
Grupo Cactos – Gênero e Comunicação
Grupo Curumim
Levante Popular da Juventude
Movimento Mulheres em Luta – MML
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST
Movimento Zoada
Muda Direito
Ou Vai ou Racha
Sitio Agatha
SOS Corpo

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Release: relançamento/apresentação do ‘Tesoura para Todas’

Captura de tela inteira 26102014 190237.bmpO relançamento/apresentação do livro Tesoura para Todas, aconteceu no último dia 11 de outubro. O objetivo foi apresentar os três primeiros textos e contextualizar a construção do livro para a partir disso iniciar uma roda de diálogos sobre os temas apresentados e as vivências das pessoas presentes.

Contamos com a presença de companheiras de Belo Horizonte e Brasília, que trouxeram relatos sobre abusos e agressões machistas, como o caso do 1º Queer Fest Brasília. Também se fizeram presentes algumas companheiras da Convenção Histérica, que trouxeram e distribuíram entre os presentes, uma edição, diagramada em formato livreto, da carta/denuncia contra o ex-integrante do Laboratório de Mídias Autônomas e seus cúmplices, companheiros de coletivo.

O primeiro texto apresentado foi o ‘Feminismo não é um assunto de mulheres’. O manifesto, ressalta a ineficiência dos grupos políticos em tratar coletivamente casos de machismo. Levar este debate não é uma obrigação, somente, das mulheres, mas uma iniciativa que deve ser individual, coletiva e partir de TODXS. Apesar de sabermos que são as oprimidas que levantam e problematizam estas questões inicialmente, o desenrolar de cada caso que vivenciamos, ou do qual temos notícia, denota ser falida a estratégia “vamos deixar mulheres e bixas discutirem o machismo.” Na prática, quando se joga para segundo plano estas questões, cria-se um ambiente de conforto para a manutenção dos privilégios masculinos e não se estimula a desconstrução de práticas machistas cotidianas na vida de todxs. O resultado é a reprodução pública e privada de violências e a legitimação da opressão contra as mulheres. Um papo a passo perigoso, que vimos se reproduzir cotidianamente em vários lugares e mais recentemente se repetiu na cidade.

Na exposição do segundo texto, ‘Rompendo Imaginários: Maltratadores politicamente corretos’, foi enfatizada a sofisticação das praticas machistas em aperfeiçoar contextos de violência e as estratégias de invalidar as denuncias das vítimas para assegurar aos homens a condição de agressores e perpetuar os cenários das violências.

Foi trazido que firmeza, impositividade, seriedade, frieza – no sentido não passional – e lucidez – no sentido não histérico – são elementos presentes na ideia de masculinidade e não por acaso, características que constroem confiança nas pessoas, além de serem comportamentos ensinados, praticados e cobrados por homens. Temos visto que quem não se utiliza desses artifícios, supostamente racionais e totalmente masculinos, está pronta para ser desacreditada. A insegurança evidente da vítima, a falta de conforto para relatar detalhadamente as agressões, a instabilidade emocional são comumente usados como argumentos para não levar a sério os relatos e denuncias das vítimas. A cobrança de determinadas posturas e a não preocupação em ter a cautela necessária para confortar a vítima, resulta numa repetição da violência, proteção do agressor e impossibilidade de problematização destas questões.

A pessoa que apresentou o texto ressaltou que a identidade masculina, acostumada a exercer superioridade, decidir situações e impor suas vontades, é o elemento propulsor da execução da violência sexista, fazendo com que os homens em conformidade com gênero e sexualidade imposta pelo heterocapitalismo, sejam potenciais abusadores, agressores e violentadores. Perceber a condição da violência associada à identidade masculina, acaba com o mito do agressor politicamente incorreto e com a proteção dos abusadores que não apresentam na vida pública, comportamentos brutos, grossos e estúpidos. Surpreender-se com qualquer homem, por mais sensível que ele se apresente, ao tornar explícito seu envolvimento em agressões, é uma ingenuidade e uma falta de compreensão estrutural sobre as dinâmicas construtoras da violência machista.

Por fim, ‘Por que temos sempre a sensação de que partimos do zero’, trouxe uma análise sobre a falta de prioridade em tratar os casos de violência machista nos agrupamentos políticos e na sociedade de um modo geral. E incrível como sempre que ocorre um caso de violência próximo de algumas pessoas sensíveis a compreender tais violências ou dentro de coletivos, a questão e tratada como se tais casos nunca tivessem ocorrido antes. A ideia é que sempre tem que haver, por parte das mulheres e bichas próximas aos casos e envolvidxs, paciência e disponibilidade para pedagogicamente explicar o que é violência contra as mulheres, porque isso ocorre e apontar o porque os caras reproduzem machismos no cotidiano. Um trabalho que parece não ter continuidade ou não e absorvido pelas pessoas e precisa ser constantemente refeito, dando a sensação que sempre partimos do zero quando um novo caso de violência ocorre. O que é por demais cansativo, desestimulante e opressor. As pessoas sensíveis e comprometidas de alguma forma com esse olhar, precisam estar o tempo inteiro dispostas e disponíveis a explicar, ajudar e resolver os conflitos. Percebe-se pouca disposição da sociedade e de alguns grupos políticos para tratar essas questões como prioridades e realidades palpáveis.

No debate, vários temas foram pautados, como a problematização da heterossexualidade (relação entre pessoas de sexos opostos) como manobra para consolidação dos papeis de gênero e submissão feminina, onde o homem da relação, em certa medida, sempre oprime a companheira. A dependência e a dificuldade de rompimento com agressores e cúmplices graças a uma falta de confiança feminina em construir e protagonizar espaços e fazeres políticos que priorizem ambientes de vivência seguros no presente e não as possíveis contribuições que os abusadores podem dar em organizações futuras. A afetividade como aprisionamento e silenciamento de comportamentos violentos e a necessidade de construir uma autoestima em corpos femininos que desperte um senso crítico e localize as consequências dos sentimentos cultivados aos violentadores e seus cúmplices.

O quanto é complexo e doloroso para uma companheira perceber as praticas machistas de seu companheiro e questioná-las, sabendo que dificilmente ele compreenderá realmente a sua condição privilegiada no mundo. Como lidar com isso? Esse foi o ápice da nossa discussão e nos fez perceber que agimos perante a esses problemas de diferentes formas e que o importante é respeitarmos os nossos limites e não darmos passos maiores que as nossas pernas.

Foi a primeira atividade promovida pela ARCA para discussão e trocas de práticas antisexistas em uma perspectiva libertária. Tem ficado cada dia mais clara a importância de promover estes espaços de fortalecimento, para que não sejamos pegas de surpresa e fiquemos perdidas ao sabermos de um caso de agressão e principalmente para criarmos cada vez mais espaços de acolhimento, empoderamento, questionamento e construção coletiva entre as mulheres e bichas. Percebemos que muito do que nos fragiliza é estarmos sós e não encontrarmos guarida e apoio quando nos deparamos com as violências cotidianas.

Construir sororidade, criar estratégias de combate à opressão da cultura machista arraigada em nossas práticas cotidianas e estimular o acolhimento entre as mulheres, bichas e afeminadas é o nosso maior compromisso pessoal, coletivo e politico.

Masculinidade e Violência: uma cultura predatória

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No dia 23 de outubro participamos do debate sobre Masculinidade e Violência apresentado por Daniel Kirjner e promovido pela pela SVB Recife, com uma banquinha de publicações antisexistas e feministas,

Daniel, a partir de uma pesquisa sobre comerciais de tv, trouxe reflexões de como a cultura do estupro, o desejo machulento heterossexista, a objetificação do feminino e o enaltecimento da cultura predatória do macho, estão presentes na construção cultural que prega a ingestão de animais e seus derivados, sendo portanto uma das múltiplas faces da dominação masculina, condição estruturante para a emergência do patriarcado.

A partir dos vídeos e imagens, é notório reconhecer que a  lógica que rege o consumo alimentar de carnes é completamente análoga a lógica heterossexista. Comerciais estadunidensses e brasileiros de rede de fast-foods e da indústria alimentícia apresentam de forma massiva, um conteúdo sexual implícito que sugere o corpo padronizado de mulheres e produtos como hamburguers, ovos, carnes, leites e salsichas, prontos para serem devorados por homens. Considerando isto, Daniel então propõe que a luta antisexista e feminista deve-se aliar com a luta pela libertação animal, pois ambas são lutas contra o patriarcado.

Além da ARCA, o evento contou com a participação do Ativeg Recife, Coletivo Feminista Diadorim, Coletivo Marcha das Vadias (Recife), Dhuzati Coletiva Vegetariana Artesanal, GEMA/UFPE – Núcleo de Pesquisa em Gênero e Masculinidades, Juju Vegan, Liberte e Macacos Me Mordam.

No fim sorteamos uma edição do livro Tesoura para Todas.

Calendário ARCA 2015

mondkreis2A ARCA está organizando um calendário na tentativa de dar visibilidade às diversas lutas antimachistas. A construção dele será colaborativa, você poderá enviar fotos de sua autoria que expressem a destruição de símbolos patriarcais, solidariedade e apoio mútuo entre mulheres e demais vítimas do sexismo e crítica à heterossexualidade compulsória.

Desestimulamos o envio de fotos que revelem rostos, cicatrizes ou sinais de nascença, optando pelo anonimato como forma de garantir a segurança e a privacidade das pessoas. Recomendamos o uso de máscaras, lenços e efeitos de edição que permitam o não reconhecimento e identificação de pessoas.

Também aceitamos sugestões de datas que simbolizem o combate ao machismo e marcos importantes de resistência antisexista1. Iremos dar prioridade a fatos e datas de resistência ocorridos na América Latina, África e Ásia

Instruções:

Você deve hospedar sua foto em alta resolução no MediaCrush, e enviar o link da foto para arca.recife@distruzione.org, com o assunto Calendário ARCA 2015. No email você deverá incluir uma justificativa de até 5 linhas, contendo uma pequena argumentação do porque a imagem contribui com as resistências antipatriarcais.

Publicar uma foto no MediaCrush é muito simples, na página de entrada você vera nitidamente a opção para carregar fotos! depois de carregadas, você verá na parte superior da página (antes das fotos) o link para a imagem ou album. Você copia este link e envia por email.

1antisexista: ser contrária ao sexismo – atitude de humilhação, menosprezo e inferiorizarão baseada na supremacia do sexo/gênero masculino