Não há nada mais parecido com um machista de direita do que um machista de esqueda, sobre Carlos Latuff e Idelber Avelar

tumblr_inline_ng4qziMJ8r1qgx5ilTempos onde a naturalização do machismo se expressa e é defendida com tanta veemência, são bem difíceis.

São tempos que um macho de esquerda publica uma foto claramente objetificada sobre ’marquinhas de biquinis’, reforçando estereótipos do corpo feminino como produto de consumo masculino.

São tempos que este mesmo macho de esquerda tenta deslegitimar um movimento, porque foi apontando, questionado e acusado de proferir ideais machistas.

São tempos onde aquele macho de esquerda esquece de que assédios, abusos, agressões e violências por parte de homens heterossexuais, são absolutamente comuns, e a partir disso, tenta garantir a defesa de outro macho abusador, que ocupa altas posições de poder, ignorando toda a relação injusta que vítimas e acusado ocupam.

São tempos onde um abusador tenta se esconder atrás de uma carreira profissional de alto prestígio social e usa covardemente seu poder para sugerir que um macho com 29 anos de magistério, centenas de ex-alunas, dezenas de ex-orientandas já professoras e ZERO reclamações formais por seu comportamento com mulheres dentro de sala de aula ou na universidade, está imune de cometer abusos e violências machistas.

10353711_850456851643545_3063212563466139509_nSão tempos onde a heterossexualidade não é devidamente problematizada pela dita esquerda como um regime político. Onde os desejos heterossexistas não são vistos como uma produção moderna e científica baseada em estudos que tem localização política controversa ou hegemônica, claramente comprometidas com o sistema capitalista e a opressão misógina.

São tempos que o tal macho de esquerda desenha a incapacidade de materializar o machismo nos sujeitos que mais se beneficiam dele, pq para ele ir contra o machismo nada tem a ver com ir contra os homens que o reproduzem.

São tempos que conversas seguem o norte e os interesses de alguém que usa seus privilégios sociais e sua retórica politicamente correta para explorar a fragilidade de mulheres usando o jargão ‘consensualidade’, reduzindo e mascarando sua prática machista e abusadora.

São tempos onde termos como misandria, racismo reverso, heterofobia e preconceito contra ricos, ganham forma para não se voltar ao questionamento à quem exerce o poder e minar qualquer debate com a jocosa apelação de discurso de ódio contra quem explora.

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Latuff nunca se aproximou tanto de Kátia Abreu, PT e do Estado que ele tanto crítica.
Idelber tenta intimidar as vítimas com ameaças jurídicas e penais na justiça patriarcal, feita e executada por homens.
E o Feminismo segue firme em acusar, denunciar e desmascarar estes escrotos.

Na madrugada do último domingo o cartunista fez uma retratação. Porém, a charge que deslegitima o feminismo radical ainda continua em sua página, bem como o post sobre marquinhas de biquínis e seu apoio a Idelber. É claro que retratações e recuos podem ser uma expressão de sensibilidade, autocrítica e arrependimento por atitudes equivocadas, mas considerando o machismo no âmbito das relações de poder, não se pode negar sua dimensão estratégica, de, ao assumir o erro, recuperar o prestígio abalado e continuar sendo reconhecido como aliado do feminismo.

1891404_446496092155680_4763055562657587360_oComo muito bem disse, Natália Leon, O machismo não está aí pra ser desculpado, mas pra ser denunciado. Enquanto as pessoas parabenizam-no pela sua atitude e compartilham suas desculpas devolvendo-lhe a confiança outrora ameaçada, nós cremos que nenhuma desculpa atenua ou sara a dor de uma violência cometida. E antes que nos acusem de insensíveis, rancorosas ou vingativas, afirmamos que a questão é sobre a responsabilidade de suas ações e estas não serão menos graves devido a uma retratação tão sutil. O machismo naturalizado deste homem pede uma posição sensata e não a ingenuidade de repositar imediatamente uma confiança. Por já ter sido vítimas, estamos na defensiva em constante alerta.

De toda forma, este episódio serviu para deixar as nojeiras e os jogos de manipulação e dominação bem explícitos. Suas posturas infelizes já mancharam suas vitrines políticas para muitos setores e correntes que leva esta luta e este movimento a sério, e isto, a longo prazo, trará muitos resultados.

 

 

PARA MAIS INFORMAÇÕES:
Sobre as vítimas e os nossos desafios – Passa Palavra
Caso Idelber: Não é do campo judiciário ou moral, mas ético e político – Revista Fórim
Solidariedade total às vítimas; Autodefesa frente ao algoz machista; Desconstrução cotidiana dos machismos! – Mães de Maio

Mulheres indianas unidas pela resistência e pela violência afeminada

10710574_379196625566739_252288507994663387_nA Índia é apenas um dos muitos lugares do mundo onde o patriarcado conseguiu, de forma peculiar, trazer os dogmas religiosos que engendrou, como artifício para estruturar com a sociedade, violentando mulheres.

O rígido sistema de divisão de castas resulta num brutal feminicídio e numa castração absoluta de direitos e liberdade das mulheres.  Seus destinos já estão traçados: abusos sexuais, estupros, abortos e abandonos de bebês apenas por serem meninas, mutilações e agressões físicas.

Muitas famílias indianas, mesmo as mais ricas, veem o nascimento de uma menina como um desperdício, um problema financeiro. Elas representam gastos com educação, sistemas de repressão, alimentação e, para casar uma filha, é preciso juntar um grande dote, ou seja, dar presentes para a família do macho.

A misoginia se intensifica em casos que mulheres esperam filhas gêmeas: as práticas mais comuns que as famílias exercem sobre as mulheres são a pressão para abortar, a tortura e a interrupção da alimentação.

A pediatra Mitu Khurana é uma das poucas ativistas que usam sua própria história como exemplo para mostrar como esse costume está alterando a balança de gênero no país. Quando Mitu recebeu a notícia do médico de que estava grávida de gêmeas, sua felicidade foi imensa. Contudo, ao chegar em casa, seu marido e a família dele estavam de luto e disseram que não poderiam criar duas meninas. Apesar da pressão, Mitu não terminou a gravidez e deixou o marido, alegando abuso por parte dele e dos sogros. Com o apoio de seus pais, Mitu embarcou em uma luta (também no campo legal) contra esse tipo de atitude, segundo ela “Na Índia, esses abortos se tornam uma indústria milionária”.

É  uma realidade extremamente insegura, violenta e brutal que impulsiona a necessidade de uma resistência e um combate à altura, que traga contundência e eficácia para desmistificar a fragilidade e violabilidade associada ao corpo das mulheres. De fato, é preciso ressaltar a importância dos trabalhos que visam conscientizar, ilustrar e propagar a responsabilidade masculina no contexto de violência à mulher, mas ao mesmo tempo, é urgente deixar claro, que a força motriz que engendra a violência não é a falta de esclarecimento ou ignorância masculina e sim a relação desigual de poder que homens detém na sociedade e usam como forma de oprimir mulheres e demais dissidentes da normativa masculina. O que muitas mulheres indianas se convenceram é de que as violências misóginas só chegarão ao fim a partir da organização de mulheres numa combatividade efetiva e direta contra as ameaças que tange seus corpos.

O vídeo abaixo mostra um recrutamento combativo feminino para punição de homens que tentaram estuprar mulheres. No ocidente,  cenas como esta chocam a racionalidade patriarcal e os olhos cegos à dura realidade misógina, sob a justificativa piegas de que violência gera mais violência.

“Se retirarmos esta filosofia da arena política impessoal e a colocarmos num contexto mais real, a não violência implica na crença de que é imoral que uma mulher se defenda de um agressor ou que aprenda autodefesa. A não violência assume que para uma mulher maltratada seria melhor partir, ao invés de se mobilizar em um grupo de mulheres e dar uma surra no marido agressor, escurraçando-o de casa1. A não violência afirma que é melhor ser estuprada do que tirar uma caneta do bolso e afundá-la na jugular do agressor (porque fazê-lo seria supostamente alimentar um ciclo de violência e fomentar futuras violações). O pacifismo simplesmente não tem ressonância nas realidades diárias das pessoas, a menos que estas pessoas vivam em um extravagante mar de tranquilidade, em que toda forma de violência civil, reativa e pandêmica, tenha sido expulsa pela violência sistêmica menos visível da polícia e das forças militares.”

Peter Geoderloos – Como a não violência é patriarcal, capítulo 4 do livro Como a não violência protege o Estado.

Na cidade de Bundelkhand, no estado de Uttar Pradesh, norte da Índia, mais de 10.000 mulheres entre 22 e 50 anos compõe o Gulabi Gang. As mulheres da gangue rosa vão às casas dos maridos violentos com varas de bambu, ameaçando-os a menos que parem de abusar de suas esposas. A maioria das mulheres da gang são dalits (considerada a casta mais baixa indiana, ou “os intocáveis”) e não por acaso, a casta que contém o maior número de mulheres abusadas, machucadas e assassinadas.

Em 2008, elas invadiram um escritório da companhia energética do distrito de Banda e obrigaram funcionários a restabelecer a energia que tinha sido cortada para extrair propina e subornos. Elas também brigaram pelo fim do casamento infantil e pela alfabetização das mulheres.

ativistaspink_2E porque é preciso ter uma “gangue” para ajudar mulheres em Bundelkhand? Essa aérea superpovoada é palco de guerras diárias contra uma sistema político corrupto, terras inférteis e o patriarcal sistema da hierarquia de castas.

Em sua curta existência, o grupo já enfrenta acusações de tumultos, ataque aos funcionários do governo, reunião ilegal e obstrução da justiça. Meses atrás, após o estupro de uma mulher dalit por um homem de uma casta superior, a polícia sequer registrou o caso. Moradores que protestavam foram presos. A gangue buscou justiça e  invadiu a delegacia de polícia, exigindo que os aldeões fossem liberados e que fosse registrada uma queixa contra o agressor. Quando o policial se recusou a cumprir tal pedido, a quadrilha atacou a delegacia com as varas de bambu e um inquérito contra o criminoso está em andamento agora.

O Gulabi Gang é um exemplo de união e solidariedade entre mulheres e tem muito a oferecer ao contexto de violência vivenciado por mulheres, lésbicas, bichas afeminadas e pessoas trans no Brasil.  A forma de ativismo do Gulabi Gang é ação direta, que se empenha não apenas em questionar as condições da mulher, como também em oferecer suporte àquelas que se encontram em situações de risco.  Esses esforços nos acordam para a realidade de violência que atinge milhares de mulheres diariamente, um tipo de experiência insubstituível, cuja lacuna não pode ser preenchida por nenhum estudo acadêmico.

Notas

1 – Esta última estratégia tem sido aplicada com sucesso em muitas sociedades antiautoritárias ao longo da história, incluindo a Igbo, na Nigéria, hoje. Por exemplo, ver Judith Van Allen, “‘Sitting on a Man’, Colonialism and the Lost Political Institutions of Igbo Women”, Canadian Journal of African Studies, v. 2, 1972, p. 211-219.

Se a violação do nosso corpo é outorgada, a autodefesa torna-se uma necessidade

Breve história dos objetos cotidianos 1

Tão cotidianos como a violência contra as mulheres são os objetos que podem servir para nos defendermos dela.

Defender-se com o que se encontra mais próximo é tão antigo como as agressões que nós, mulheres, sofremos, isto é, quer dizer que vem de muito antes… desde os preparados de água com pimenta como spray das mulheres mexicanas, os alfinetes para evitar abusos indesejáveis no metrô de Tóquio e de São Paulo, as giletes e navalhas malocadas debaixo da língua ou na bolsa das travestis, até a caixinha de khol2, usado para pintar olhos das mulheres marroquinas, dotada habilidosamente de uma lâmina de metal, As mulheres sempre têm utilizado suas invenções para responder à violência machista.3

Em tuas mãos tens uma pequena mostra só para que deixes voar tua imaginação. Mas lembre-se que a confiança em nós mesmas e a solidariedade entre mulheres são nossas melhores armas.

Recuperemos as ruas! Recuperemos a noite!
Recuperemos nossos corpos! Porque você se valoriza

Notas

1 – Texto circulado em 25 de novembro de 2008 nas Acciones descentralizadas (“Ações descentralizadas”) em Barcelona e publicado no livro Tesoura para Todas.

2 – Khol ou kajal é um cosmético de origem oriental, primeiramente usado com o objetivo de proteger os olhos de inflamações e para dar um suave frescor à esta região do rosto. Alguns ainda acreditam que sua aplicação pode espantar maus espíritos.

3 – O texto foi editado e sua tradução alterada baseada no original em espanhol, acrescentando fatos que incorporam a realidade das mulheres brasileiras e trans

Como Fazer um Spray de Pimenta

Alguma vez você já esteve em uma situação em que precisou se defender? Aqui está um método de defesa que dá a você uma grande vantagem, que você pode fazer em casa!

Capturas de tela

 

Materiais Necessários:

Mix de pimentas fortes em pó (pimenta do reino, pimenta malagueta, pimenta calabresa
Suco de pimentas frescas ou plantas tóxicas (taioba brava, comigo ninguém pode)
Sal
Suco de limão
Água Sanitária
Frasco de spray

 

Procedimentos:

670px-Make-Pepper-Spray-Step-21º Passo: Misture os ingredientes secos, logo após experimente para ver quão apimentado está, se estiver o suficiente para te dar lágrimas nos olhos, então está perfeito.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-32º Passo: Adicione o limão e o suco de pimentas frescas ou plantas tóxicas, como a taioba ou comigo ninguém pode. Isso é o suficiente para fazer seu alvo chorar como um bebê.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-43º Passo: Adicionar àgua sanitária irá deixar a poção ainda mais irritante.

 

 

 

 

 

 

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4º Passo: Coloque o líquido num frasco de spray. Se você não tiver um, você pode comprar em uma loja que vendem essências, e artefatos para fabricação de perfumes. É importante que seja pequena suficiente para caber em uma mochila ou bolsa média.

 

 

 

 

 

670px-Make-Pepper-Spray-Step-65º Passo: Agora você possui uma boa defesa para quando estiver sendo perseguido e/ou intimidada.

Avisos

  • Não deixe isso encostar em seus olhos.
  • Não use isso a não ser que você realmente tenha que escapar. Lembre-se, não há a necessidade de cegar alguém temporariamente, por brincadeira.
  • Não borrife isso em animais a não ser que eles apresentem um real risco de vida para você.
  • O uso do spray de pimenta por civis pode ser ilegal em alguns lugares. Saiba que você corre o risco de ser detida por portar um objeto como este.

 

Receita de spray de pimenta  adaptada do original disponível no Wikhow