Relato de Agressão Machista na cena punk de Fortaleza – CE

Compartilhamos um relato de agressão machista cometido por João Bruno Veras, macho anarcopunk de Fortaleza. Sabe-se que o agressor compõe espaços anarquistas e punks na cidade, é conhecido em outras articulações e agitações deste campo político a nível nacional, além de ser responsável por outros casos de agressão, violência, ameaças e intimidações compartilhados em redes de apoio e combatividade feministas, queers e transfeministas. Esperamos que este relato impulsione e estimule as companheiras agredidas a compartilharem suas vivências e sirva para criar um cenário de debate coerente, combate e autocrítica na movida anarcopunk, de modo a assumir os recorrentes e abomináveis casos de violência sexista e misógina dentro de okupas, centros culturais e demais espaços construídos nesta perspectiva política. Cada vez são mais fortes os relatos sobre o pífio debate a cerca do patriarcado e teoria queer desdobrando-se em posturas antifeministas, bem como a rasa visão sobre violência de gênero que não permite construir uma prática coerente para a abolição do gênero.

Paga de libertário mas é ANARCOMACHO tem que cortar a pica do macho transtornado.

Carta de denuncia antifascista contra JOÃO BRUNO VERAS, intitulado ANARCO PUNK.

PUNKMACHOAlerta: Machista escroto agride uma mulher covardemente e sai ileso da cena.

O que é ser punk? Ontem, por volta das 02:00 horas, estávamos, eu e mais quatro amigos voltando do nosso role, quando sem mais nem menos aparecem em torno de seis ou mais “anarco punks”. Alguns conhecidos como: Johnny, Adriano e Bruno, esses e os demais não reconhecidos por mim, reivindicavam o espaço deles em um local público, nos fazendo perguntas banais do tipo: Com quem falamos,com quem andamos, o que fazemos,etc… Agindo como uma espécie de escolta policial, eles vieram pra cima de nós com armas brancas e de forma agressiva sem qualquer explicação aceitável. Eles alegavam também “ser do contra” o “Street punks oi!”,que na verdade é denominado um estilo de música que surgiu em meados de 1969, cujo algumas pessoas se uniram nessa mesma época e criaram uma certa “UNIÃO” entre punk’s e Skin Heads, conhecida como União Oi! Perguntamos o porque de todos esses questionamentos e porque existe esse conflito infame toda vez que nós nos cruzávamos nas ruas. Nenhuma resposta era aceitável! Na verdade, a cena local daqui é completamente vaga da presença desses coadjuvantes e infantis machistas que se auto intitulam Anarco Punk’s. Eles dizem que nós somos uma vergonha pra essa tal cena punk que dizem construir aqui em Fortaleza-Ce, mas quando perguntamos para eles onde eles estavam na hora dos atos,  das lutas contra a destruição do patriarcado, contra o machismo e as demais lutas cotidianas, um deles Johnny nos responde com seu ego inflado:

“Esse é meu visual, essa é minha luta e não preciso provar nada pra ninguém.” ???????????????????????????????????????????????????

Diante desses questionamentos, um deles: João Bruno Veras, que mais aparentava que estava ali apenas para causar conflito, quase nos atingiu com uma garrafa de vidro, depois de nos esquivarmos fomos tentar revidar a agressão, mas João Bruno, ME ATINGIU COVARDEMENTE COM UM SOCO NO ROSTO e após isso saiu correndo como um cão covarde foge da luta, o soco foi tão forte que eu caí no chão com o nariz sangrando enquanto os outros amigos do Bruno tentavam agredir os meus amigos que ali estavam no local. Já não basta ter que lutar toda hora contra essa opressão que é o machismo e a sociedade, ainda ser atingida por um macho escroto que não teme em agredir mulheres nas ruas? Vocês não representam nem 1% da luta a favor da desconstrução do machismo, e se agrediu uma agride todas sem pensar duas vezes. Essa atitude não é antifascista! Isso não é exemplo pra juventude. Que tipo de exemplo vocês pretendem passar pra juventude? Esse: Causando conflitos por motivos infames e sem qualquer importância maior, agindo como crianças e batendo em mulheres? Recado: Quem compactua com eles é farinha do mesmo saco! Bruno, você é um covarde, agressor machista escroto merece sofrer. O sangue foi derramado, uma mulher foi agredida, isso ainda não acabou!

Ítalo Bazon e Roger de Renor denunciados por agressão e violência Machista no #ruralnoforte.

A Arca compartilha uma denúncia enviada por email, sobre agressão e violência machista no evento Som na Rural, ocorrida no último dia 30/08/2015, esta denuncia complementa nossa última postagem também enviada por email.

SOM-NA-RURAL

“É brilhante como o machismo estrutural funciona de forma a proteger agressores… São engrenagens muito bem organizadas e eficazes. “Não vamos expor eles”, “eles precisam de ajuda”, “mas eles foram legais que só naquela vez, lembra?”. Macho transtornado merece escracho. Pela segurança e bem-estar das mulheres. Ponto.” Viq Vic.

O roteiro é o mesmo aqui e em qualquer lugar, quanto mais empoderadas, firmes, combativas e não frágeis as vítimas do machismo se apresentam, mais violências e tentativas de dominação planeja a inconformada supremacia machista. No dia 30 de agosto de 2015, última edição do Som na Rural realizado no Forte das Cinco Pontas, o machismo estrutural ocorreu bem do jeitinho que manda o figurino. Violência, intimidação e ameaça de afeminadas, agressão física às pessoas trans, acolhimento do agressor pelos machos do evento, deslegitimação, hostilidade e como toque final perseguição das trans e novas ameaças do agressor, agora protegido pelos machos organizadores.

Acompanhado de uma amiga, Ítalo Henrique Bazon, macho transtornado (aquele que faz questão de demonstrar em público sua virilidade, exaltação, estupidez e imponência) recentemente denunciado por agressão e violência machista, visivelmente furioso e de mal humor ficou extremamente irritado com uma trans não binária1, no momento em que ela respondeu a hostilidade expressa por ele ao ir cumprimentar sua amiga. Sendo bruto, violento e ameaçador a trans resolveu sair de perto.

Logo depois a trans acompanhada de outra amiga não binária, se deparou com a mulher que acompanhava o macho – nesse momento sozinha – e resolveram ir trocar uma ideia com ela. Ela aparentemente não tinha concordado com as atitudes do macho e depois de iniciada uma conversa, caíram num papo sobre desconstrução, violência machista e relações de poder. É exatamente no momento que se falava sobre a dificuldade de desconstrução frente a atitudes e comportamentos que agregam poder, que o macho nos localiza, vem em nossa direção e inicia ameaças às trans, com voz e mãos levantadas, expressando um ímpeto de agressividade e coação extremamente opressivo. A outra amiga trans, começa a falar pro macho cair fora e “abaixar a bola”, a mulher também tenta contê-lo, mas a truculência machulenta era desmedida, e desta vez, já não mais contido, ele vem com a clara intenção de bater. É neste momento que ele leva um chute na região genital. A confusão foi instalada, e agora o macho muda de foco, deposita toda sua raiva na trans que tentou combatê-lo, com a explicita intenção de bater e mostrar sua pseudo-superioridade. Quando a situação chega no ápice da violência, a mulher, executando técnicas de autodefesa afeminada, consegue de forma exemplar conter o macho e afastá-lo do local que estavam as trans, mas, sem mais apoio, isto não duraria muito, a confusão já fora instalada e todos os olhos já estavam aptos a condenar e hostilizar as trans que comprometeram “o clima de paz” do evento.

O machismo estrutural e naturalizado na cabeça da sociedade é cego em perceber as desconfortáveis, tiranas e violentas situações que mulheres, bichas, travestis e pessoas trans estão condenadas. Então, no momento de reagir, de não aceitar a submissão e autoridade abusiva dos comportamentos masculinos estas pessoas são automaticamente colocadas como ‘personas non gratas’ e estraga prazeres (prazeres, ler-se: abusos e coerção machista naturalizada). É muito engraçado verem as pessoas falarem de paz, sem considerar o cotidiano nada pacífico que a sociedade heterossexista2 submete as questionadoras do machismo. O evento Som na Rural não é um espaço de paz para mulheres, bichas, travestis e trans.

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Mas não acabou, ainda tem o pior. Devido a confusão instaurada, alguns outros machos da organização do evento, incluindo Roger de Renor se aproximaram na intensão de acalmar a confusão. Este é o momento que o macho agressor está cercado de outras pessoas e Roger diz clara e explicitamente estar ao lado do agressor. Sem nenhum pesar se coloca como cúmplice do agressor. A posição de Roger de repúdio a uma das pessoas trans que estava envolvida nesta confusão se constrói numa edição anterior do Som na Rural realizada na época da Ocupação do Estelita, na ocasião, o produtor cultural convidou Ortinho, acusado e escrachado pela opinião pública local por fazer apologia ao estupro e proferir mensagem de violência a mulheres. Na época a ocupação do Estelita contou com um forte debate sobre violências sexistas e com uma intensa combatividade contra machos agressores que estavam na ocupação, foi um período de muito acúmulo sobre pautas e questionamentos feministas e de empoderamento antisexista, e na contramão de toda esta vivência Roger tenta trazer para o Estelita um apologista do estupro. Inconformadas com tal situação, as afeminadas ocupantes do Estelita, pediram voz para problematizar a situação no microfone e quando começaram a falar tiveram o microfone cortado, uma das justificativas saídas pelo pessoal do som: “Ortinho é meu amigo”.

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Fora do palco uma discussão aconteceu e Roger acusou a mesma trans envolvida na situação aqui descrita de querer se promover sugerindo que se inscrevesse no Big Brother. O que acontece de fato é um macho, branco e heterossexual dizendo que a denúncia de cumplicidade machista ocorrida naquele espaço é uma estratégia de exibicionismo, nada mais deplorável, revoltante e anti-feminista. Na realidade um ser que goza de múltiplos privilégios e vive num ambiente onde impera o estrelismo, o alpinismo social, o status pela acumulação de capital cultural e a arrogância poserista, atua estimulando vivências conflitivas e covardes, além de seguir deslegitimando a urgência de setores estigmatizados de problematizar desigualdades políticas no cotidiano.

É a partir das nossas relações e situações diárias que se estrutura os grandes sistemas de poder. Pensar direito à cidade, protagonismo popular e ocupação dos espaços públicos sem considerar as relações impostas pela estrutura capitalista, soa ingênuo, mas também assimilador, escroto e desonesto ao considerar que tais questionamentos agregam pessoas e possibilitam acumulação de poder e visibilidade por parte de quem pensa política desta forma tão superficial, insuficiente e vitrinista.

Desta vez, Roger aproveitou a oportunidade para se aliar ao agressor e estimular a hostilidade às trans com pelo menos outros cinco homens que acompanhavam o agressor, deixando-o em situação de conforto e agora com “justos” motivos para expressar sua violência machista. Roger ainda agiu em cumplicidade ao agressor ao ser visto deslegitimando a trans para outras pessoas invertendo o polo da história e apontando as pessoas trans com algo que o homem branco heterossexual não quer ser associado: violentas, agressivas, as que implodem os espaços, baderneiras e loucas. Devido ao apoio de Roger e a aliança com outros cinco machos o agressor se sentiu confortável e protegido para seguir com seu transtorno: foi caçar às trans.

italoagressaoGraças aos organizadores do evento foi criado um clima de vulnerabilidade e tensão. Ao procurar ficar junto de outras amigas e em espaços com maior concentração de pessoas as trans foram perseguidas pelo macho que invadiu o grupo onde estavam, voltando a ameaçar e intimida-las. Voz alta, mãos levantadas, dedo na cara, agressividade e uso do corpo para empurrar pessoas e declarar um novo confronto, só que agora protegido pela organização do evento e apoiado por outros machos tão escrotos quanto ele. Neste cenário de intensa insegurança as trans decidiram ir embora e os machos unidos mais uma vez ganharam o espaço. Nas redes sociais o agressor, diz ter tido uma discussão conversado com amigos dos envolvidos e resolvido o caso. O que este infeliz chama de discussão, nós chamamos de violência machista, o que ele diz ter sido resolvido para nós resume a nossa expulsão do espaço.

Roger não foi cúmplice a toa, diariamente vemos agressores proferirem violências abaixo de tantos olhos durante tanto tempo. Torna-se explícita a falta de vontade em priorizar e se posicionar sobre as situações que colocam os machos em posição de questionamento e ameaça a seus postos de poder tão bem protegidos pela solidariedade entre MACHOS. Sabemos que não existem cúmplices a toa, não existem cúmplices apenas por inércia, cúmplices existem porque se assemelham com agressor, porque também cometem violências, porque estar ao lado do agressor é uma estratégia de proteção masculina e de deslegitimação de corpos dissidentes da heterossexualidade compulsória3.

O fato denunciado expressa a imensa ofensiva heterossexista contra a combatividade e declaração de insubmissão por parte das vítimas do machismo. É abominável que um evento e um projeto como Som na Rural, que se apoia em discursos políticos, tenha atitudes explicitamente oportunistas, covardes e canalhas, silenciando críticas contra comportamentos machistas, servindo inescrupulosamente como base de fortalecimento para ameaças e intimidações contra pessoas trans e pior, usando as ideias de democracia e direito à cidade apenas para acumular capital cultural e agregar valor político. Queremos deixar bem claro, para mulheres e dissidentes sexuais que este evento e seus organizadores ESTIMULA A VIOLÊNCIA MACHISTA E ISTO NÃO DEVE SER TOLERADO. Recife passa por um momento de intenso questionamento sobre questões de gênero e sexualidade, articulações e movimentações em perspectiva feminista, transfeminista, sexo-dissidentes e libertárias tem tensionado sobre pontos extremamente naturalizados da violência patriarcal.

Recentemente Lírio Ferreira e Cláudio Assis protagonizaram outro caso desgastante de machismo e misoginia e a problematização contra o show de machulencia dos dois deu a luz uma série de denúncias sobre abusos e assédios contra mulheres. Esta nota também se dá numa tentativa de ascender outras situações de violência e agressão sexista que os machos aqui denunciados estão supostamente envolvidos. Admitindo a pertinência do questionamento contra ambientes/pessoas que estão tão acostumadas a serem bajuladas e não criticadas alegamos que Perversidade é proteger agressores e assim, agredir novamente. Perversidade é saber que esses caras, não importa o que façam, são acobertados pela tal brodagem machulenta e misógina da cena cultural pernambucana.

A misoginia, transfobia e violência machista imperante nos comportamentos que enfrentamos no cotidiano não deve ser relativizada, pelo contrário é importante que não nos calemos e sempre nos apresentemos combativas e dispostas a ação direta quando o assunto é violência machista. É com a máxima O pessoal é político”, que encerramos esta nota tentando estimular discursos críticos, questionamentos e responsabilidade aos fazeres dos agressores aqui citados e com a intensa e sempre ativa capacidade de combater e denunciar atitudes que violentam e silenciam as vítimas estruturais do machismo e da heterossexualidade compulsória.

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1
– Trans não binária são pessoas que transgridem o gênero e/ou a sexualidade e não se identificam necessariamente com nenhum dos gêneros binários instituídos pelo heterocapitalismo, sua ciência, suas corporações e seus Estados. O binário de gênero é a insistência em que homens são masculinos e mulheres são femininas. Isto reduz as opções para que as pessoas ajam fora de seus papeis sociais de gênero sem caírem no esteriótipo das outras. Ademais, homem e mulher não necessariamente traduzem-se como masculino e feminino este significado atende apenas a interesses politicamente contextualizados e opressivos.

2Heterossexismo é a atitude de preconceito, discriminação, negação, estigmatização ou ódio contra toda sexualidade que não seja a heterossexual. Uma sociedade heterossexista é aquela que supõe que naturalmente todas as pessoas são todas heterossexuais ou de que a heterossexualidade e seus valores (monogamia, família nuclear, ativo X passivo) é superior e mais desejável do que as demais possibilidades sexuais.

3 – O termo heterossexualidade compulsória foi criado pela feminista Adrinne Rich em 1980 e refere-se a doutrinação heterossexual que todas as pessoas estão submetidas. Na heterossexualidade compulsória a experiência não-heterossexual é problematizada, patologizada, é considerada algo a ser explicado, buscando um marco para o seu aparecimento. A lesbofobia, homofobia, transfobia, bifobia são algumas das múltiplas expressões violentas que tentam manter compulsoriamente uma normalidade heterossexista.

Nota de Repúdio sobre a violência na Marcha das Vadias Recife

A ARCA enquanto articulação combativa de perspectiva feminista repudia as inúmeras violências cometidas pelo Estado e por alguns trabalhadores ambulantes contra todas as mulheres e dissidentes sexuais na última edição da Marcha das Vadias. Acreditamos que o acontecido evidencia claramente a localização política das organizações e individualidades violentadores bem como seu comprometimento e cumplicidade com o regime sexista e machista que impera na sociedade. Segue a NOTA DE REPÚDIO divulgada pela organização da Marcha das Vadias Recife:

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O Coletivo Marcha das Vadias Recife é um movimento autônomo e apartidário que, articulado com outros coletivos e organizações feministas, há cinco anos, coloca a Marcha das Vadias nas ruas.

A cada ano, com muito suor e dedicação, nos empenhamos para que o evento aconteça como uma importante representação de resistência ao machismo, um grito contra toda forma de violência que vitima mulheres cotidianamente. Buscamos contribuir para a auto-organização coletiva, descobertas e fortalecimento pessoal e político daquelas que sempre são colocadas num lugar de subjugação pelo sistema patriarcal: mulheres negras e brancas, cis e trans, lésbicas e bissexuais.

Lutamos contra o poder do patriarcado que impõe como seu território nossos corpos e escolhas. A Marcha das Vadias Recife é, portanto, onde criticamente entoamos em coro a autonomia dos nossos corpos, a tomada das nossas vidas pelos direitos que nos cabem e pelos desejos que nos movem.

O fortalecimento coletivo e individual das mulheres para a destruição das práticas machistas provoca, inevitavelmente, a reação dos opressores. Tanto pode levar ao abrandamento gradual e inexistência das opressões, assim como pode inflamar a fúria violenta daqueles que sentem seus privilégios – de macho – ameaçados. Uma rápida análise do contexto político indica uma resposta cada vez mais incisiva do conservadorismo. Forças não serão poupadas na tentativa de reinstaurar o nosso silêncio.

Nesse sentido, a Marcha sempre foi alvo de variadas formas de agressão e tentativas de controle, especialmente contra as mulheres trans. No entanto, esse ano o embate foi ainda mais direto, colocando nossa integridade em alto risco desde a concentração até o desfecho da caminhada. É importante tirarmos uma lição positiva destes episódios, que também servem para ilustrar a violência sofrida diariamente por nós, mulheres. É também mais uma oportunidade de constatar como o enfrentamento traz consigo sentimentos explosivos que movem mais impulsos de resistência. É possível perceber essa questão, por exemplo, a partir da maior participação de mulheres trans, e das muitas jovens que fizeram do momento, o seu contato inicial com uma irmandade de luta e apoio.

Assim, a máxima “quando estamos juntas nossa força é maior” agora carrega ainda mais significados. Vemos que as provocações trazidas por nossa simples existência na rua levam à instabilidade do conservadorismo opressor e, principalmente, determinam o crescimento do nosso empoderamento. Existimos e resistimos. Esse ano mais uma vez, transformamos nossa dor e medo em enfrentamento e resistência.

Ao passo em que fomos nos reunindo na praça do Derby, as garras da tirania machista foram se mostrando. No primeiro momento de agressão, uma companheira trans foi impedida de ir ao banheiro feminino por um funcionário da EMLURB. . Muitas de nós questionamos a atitude, no entanto, o funcionário se negou ao diálogo, fechou os dois banheiros e foi embora. Impedindo, inclusive, que mulheres grávidas e crianças tivessem acesso a um serviço que é público.

Quando nos movemos para a denúncia junto aos policiais que patrulhavam a área, o “diálogo” foi encerrado abusivamente com argumentos desrespeitosos aos direitos das mulheres trans, ignorando a legitimidade do seu nome social – o que configura um caso típico de transfobia. A violência sofrida pela nossa companheira só aumentou a nossa indignação e o desejo de tomar as ruas, para reafirmarmos que ali também é nosso lugar.

Havia, entre nós, fortes sentimentos de resistência que confluíam num movimento, tendo o apoio mutuo como força motriz. A força das mulheres nessa Marcha residia num sentimento de empoderamento latente entre nós. Era possível sentir, em cada uma, que por mais que a dor da outra não seja a minha dor, nós nos acolheremos umas as outras, transformando o sentimento de cada uma, em vivência coletiva de enfrentamento, acolhimento e sororidade.

A trilha de agressões teve continuidade enquanto marchávamos. As piadas, os deboches, os xingamentos mais odiosos e humilhantes, nada diferente dos outros anos e de todos os dias. No entanto, se instaurou definitivamente a violência quando um trabalhador informal da Avenida Conde da Boa Vista se sentiu no direito de invadir espaços e corpos. Em postura de deboche às mulheres, exibiu seu peito e barriga, lançando piadas sem escrúpulos e avançou sobre o corpo de uma companheira. Mais uma vez, a indignação nos moveu a defendê-la e a nos colocarmos frente a frente com o agressor inferindo palavras que denunciavam seu comportamento abusivo e machista. Nessa momento, o agressor acuado recebeu apoio de um grupo de homens.

Resguardados em seu machismo fizeram uso de pedaços de madeira para nos espantar e em movimentos intencionais acertaram várias outras companheiras. Um deles fugiu acuado e entrou no Shopping da Boa Vista.
Lançando frases como “esse área é minha”, “vão para trás”, “vão embora, suas putas, loucas”, deixaram claro seu ódio por nós, numa tentativa de determinar que a sua posição de poder não seriam escrachadas. A rua era deles, afirmavam, não só com as palavras, mas, principalmente, com o uso da força física. Não arredamos o pé, como não mais o faremos: nossos corpos são sagrados e ocuparemos todos os lugares.

Entre gritos e xingamentos, esse grupo de agressores munidos de paus, garrafas, canos, voltou de forma organizada e intencional para terminar o que haviam começado. A vontade deles era clara: com a desculpa de que haviam sido constrangidos por “homens e pelas bichas” e que “não batiam em mulher” tentaram afirmar que o problema não era com as mulheres e que voltaram para acertar as contas. Algumas de nós assumiram uma postura dialógica sob o desejo de evitar que a situação saísse mais ainda do controle e entrasse num campo ainda mais violento, impondo a todxs o desespero e o risco de morte. Mas a situação já havia saído do controle, pois eles, ao mesmo tempo em que diziam não querer “brigar”, inflamavam os ânimos, rebatendo os apontamentos machistas que gritávamos, nos chamando para a luta corporal. Nesse momento não houve mais como driblar o inevitável. Com o orgulho de machos feridos, eles voltaram para nos humilhar, nos reduzir a nada, e com desculpas falsas estavam sim dispostos ao pior e não sairiam de lá até nos “colocar no devido lugar”.

Muitas de nós estávamos exaustas e perplexas diante do que estava posto.Tentamos resistir e fomos brutalmente violentadas. Mulheres e homens foram agredidos de forma covarde. Vimos sangue, gritos, desespero e toda a sorte de emoções que se vivencia num momento de ataques e agressões.

Diante de tudo isso, afirmamos que nenhuma violência de gênero praticada contra nós ou nossas companheiras será aceita e que não nos silenciaremos diante do ocorrido. Tomaremos as devidas providências, tanto no que diz respeito a nossa defesa pessoal e mútua cotidiana, quanto ao que cabe a outras organizações sociais, no sentido de fazer cumprir o dever destas de zelar pelas suas responsabilidades em relação a nossa causa.

Nesse sentido, acreditamos que o SINTRACI (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Comércio Informal) deve se responsabilizar pelo ocorrido, uma vez que entre os envolvidos haviam pessoas sindicalizadas. Com isso, não queremos dizer que acolheremos resoluções sociais baseada em instrumentos criminalizantes. Não temos como objetivo criminalizar a articulação de ambulantes ou do SINTRACI, mas sim, a partir do ocorrido, abrir um diálogo para que, de movimento para movimento, e destes para a sociedade, a discussão de gênero, que é sempre insuficiente dentro de organizações e movimentos sociais, seja trabalhada com o devido reconhecimento e responsabilidade.

Assim, deixamos claro que entendemos enquanto opressão toda forma de violência estrutural e sistêmica consequente da forma de organização desigual em sociedade. Acreditamos na transversalidade da luta feminista com o anticapitalismo e o combate ao racismo, firmamos como essencial a construção de diálogo entre os movimentos sociais. É neste sentido que nós, do Coletivo Marcha das Vadias, reivindicamos que o SINTRACI reconheça a gravidade dos atos de violências ocorridos no último dia 30 durante a Marcha das Vadias e responsabilize os envolvidos pela ação de violência de gênero direta que resultou na brutalidade física imposta sobre nós.

Apontamos a urgência da inserção de debates sobre as questões de gênero e violência dentro das atividades do Sindicato, entendendo que, enquanto movimentos sociais, somos parceirxs na luta por uma cidade inclusiva para todas e todos.

Dessa maneira, também não toleraremos os momentos de violência transfóbica inicialmente relatados. Não iremos aceitar qualquer ação que negue xs transexuais enquanto sujeitxs de construção da sua identidade e subjetividade. Repudiamos o ocorrido no banheiro feminino, reiteramos e exigimos que a EMLURB e a Polícia Militar se posicionem publicamente sobre o ocorrido e promova capacitação dxs funcionárixs para que situações como a ocorrida no último dia 30 não voltem a acontecer.

Pela importância dos movimentos feministas na defesa da autonomia dos corpos das mulheres e em repúdio a todas as formas de opressão e violência, nós continuaremos em marcha.

Pela importância da organização coletiva e autonomia das mulheres nos processos de decisão, nós continuaremos em marcha.

Pela importância de ocuparmos as ruas, nós continuaremos em marcha!

Pela importância de nos mantermos unidas e fortes, nós continuaremos em marcha!

Quem não pode com as mulheres, não assanha o formigueiro!

#MarchaDasVadiasRecife2015
#JuntasSomosFortes
#MVR

Denúncia de agressão física, psicológica e material do militante anarquista Vinícius Mojica (AVISO DE ACIONADOR: Descrição das violências sofridas)

tumblr_inline_nolzprsJCM1tnr3jo_400Vinícius Mojica Agressor Machista protagonizou atos de violência por três anos em uma relação heteroafetiva com uma companheira militante anarcofeminista. As violências começaram com a quebra de objetos por parte de Vinícius Mojica durante discussões entre o casal, prática que se tornou recorrente durante toda a relação. Vinícius Mojica cumpria o ciclo da agressão ao intercalar atos de raiva seguidos de arrependimento, do qual sua companheira foi refém durante toda a relação. Usava as expressões: “vou mudar”, “serei melhor”, “preciso da sua ajuda pra ser melhor”.

Como todo anarcomacho restringia sua prática de apoio mútuo às atividades públicas. Recusando reconhecer que o pessoal é político, Vinícius Mojica explorava sua companheira ao negligenciar as tarefas domésticas no período em que moraram juntxs. Vinícius Mojica produzia violência psicológica ao inverter a posição de vítima/agressor acusando sua companheira de privá-lo de seus horários e de sua rotina e de estimular nele comportamentos agressivos, o que configura culpabilização da vítima pela violência sofrida. Sua companheira foi desse modo sendo levada a acreditar que era responsável pelas agressões que sofria.

Vinícius Mojica foi gradualmente expandindo a escala de violências materiais: de copos, garrafas, pratos e mesa passou a quebrar janela, vidro da janela, vitrola, HD externo com quatro anos de dados de trabalho de sua companheira, tela de um computador, geladeira, fogão, liquidificador, espremedor de laranja, televisão, celular e vasos de plantas.  Quando era colocado para fora de casa quebrava a porta para entrar, violência que se repetiu diversas vezes.

Vinícius Mojica introduziu o registro do medo em sua companheira conscientemente através de ameaças constantes: ameaçou rasgar documentos de trabalho e ameaçou com um martelo quebrar o computador de sua companheira. Vinícius Mojica jogou álcool no quarto com uma amiga de sua companheira dentro e ameaçou queimar a casa.

Vinícius Mojica agrediu fisicamente sua companheira em repetidas situações: imobilizou e torceu seu punho por mais de uma vez, gerando a necessidade de acompanhamento médico e medicamentoso; derrubou sua companheira e a chutou quando ela estava caída no chão.

A lesão que Vinícius Mojica provocou no punho de sua companheira, mais de uma vez, a afastou de suas atividades profissionais por mais de cinco meses uma vez que ela trabalha com práticas desportivas, necessitando do corpo, principalmente do punho. Vinicius Mojica quis incapacitar sua companheira de exercer sua profissão. Esse dano exige hoje que ela faça fisioterapia para recuperar as funções do punho e voltar ao trabalho, ocasionando até o momento um gasto de mais de R$ 1.500,00 para a vítima.

Vinícius Mojica humilhou, ofendeu e desqualificou sua companheira pessoal-profissional-politicamente.

Diante da possibilidade de ser denunciado, Vinícius Mojica disse claramente: “SE EU SEREI ESCRACHADO PELO MENOS VOU FAZER BEM FEITO”. Nesse momento derrubou sua companheira na cama, subiu em cima dela e a espancou com socos na cabeça, dizendo que seu lugar era embaixo dele e que estava feliz em vê-la ali. Vinicius Mojica estrangulou sua companheira até que ela ficasse sem ar; arrastou sua companheira no chão puxando-a pela perna. Vinícius Mojica demonstrou que tinha absoluta consciência do que estava fazendo.

Depois da última agressão, Vinícius Mojica fugiu para Belo Horizonte, dando continuidade as suas atividades políticas silenciando as violências praticadas no Rio de Janeiro. Sua então ex companheira receia retaliações após a publicização desta carta de denúncia.

Vinícius Mojica é um agressor machista misógino que ameaça e espanca mulheres e não tem o direito de circular nos espaços de luta política que tem como princípio a autonomia e a autodeterminação das mulheres.

Agressores Machistas não passarão e não serão tolerados nos espaços de luta política! A solidariedade masculinista não será tolerada! Coletivos omissos corroboram a agressão!

Coletivas que assinam a Denúncia:

Coletiva Feminista Maria Bonita/RJ
BeijATO
Cinequeer
Pagufunk
Transrevolução/RJ
Coletivo de Auto-Defesa Feminista
Coletive Q?

Rio de Janeiro, abril de 2015.

Apresentação do Tesoura para Todas

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Tesoura para Todas é uma ferramenta coletiva, uma arma lançada para a reflexão, o debate e a ação contra as agressões sexistas.

Diante de uma realidade onde as práticas sexistas são imensamente naturalizadas e reproduzidas dentro de espaços, grupos e por indivíduos que impressionantemente visam combater a cultura sexista, o encorajamento de mulheres, dissidentes sexuais e de gênero, bem como uma análise radical do patriarcado, é uma necessidade urgente.

Esta atividade visa apresentar o livro lançado recentemente pela Editora Deriva e realizar um debate a partir da apresentação de três textos que ilustram bem o contexto político local. Eles nos ajudarão a entender como algumas resistências antisexistas constroem suas combatividades.

A atividade acontecerá dia 11/10 é exclusiva para mulheres e dissidentes sexuais. Devido ao objetivo do encontro a presença de homens cis1 não são pertinentes, por isso desencorajamos qualquer tipo de insistência por parte destas pessoas que detêm amplos privilégios sociais apenas por serem homens, alinhados a masculinidade e heterossexuais.

informações sobre local e mais detalhes informados apenas por email!

versão do livro em pdf: https://we.riseup.net/assets/121348/tesouras%20para%20todas.pdf

Notas

1 – O prefixo latino cis signifca “ao lado de” ou “no mesmo lado de”, foi concebido pelo transfeminismo como estratégia para enfatizar que a sexualidade e o gênero são construções políticas. Deste modo, os termos cisgênero e cissexual refletem a legitimação e concordância de indivídues à identidade de género imposta a partir sua genitália.