Tempos onde a naturalização do machismo se expressa e é defendida com tanta veemência, são bem difíceis.
São tempos que um macho de esquerda publica uma foto claramente objetificada sobre ’marquinhas de biquinis’, reforçando estereótipos do corpo feminino como produto de consumo masculino.
São tempos que este mesmo macho de esquerda tenta deslegitimar um movimento, porque foi apontando, questionado e acusado de proferir ideais machistas.
São tempos onde aquele macho de esquerda esquece de que assédios, abusos, agressões e violências por parte de homens heterossexuais, são absolutamente comuns, e a partir disso, tenta garantir a defesa de outro macho abusador, que ocupa altas posições de poder, ignorando toda a relação injusta que vítimas e acusado ocupam.
São tempos onde um abusador tenta se esconder atrás de uma carreira profissional de alto prestígio social e usa covardemente seu poder para sugerir que um macho com 29 anos de magistério, centenas de ex-alunas, dezenas de ex-orientandas já professoras e ZERO reclamações formais por seu comportamento com mulheres dentro de sala de aula ou na universidade, está imune de cometer abusos e violências machistas.
São tempos onde a heterossexualidade não é devidamente problematizada pela dita esquerda como um regime político. Onde os desejos heterossexistas não são vistos como uma produção moderna e científica baseada em estudos que tem localização política controversa ou hegemônica, claramente comprometidas com o sistema capitalista e a opressão misógina.
São tempos que o tal macho de esquerda desenha a incapacidade de materializar o machismo nos sujeitos que mais se beneficiam dele, pq para ele ir contra o machismo nada tem a ver com ir contra os homens que o reproduzem.
São tempos que conversas seguem o norte e os interesses de alguém que usa seus privilégios sociais e sua retórica politicamente correta para explorar a fragilidade de mulheres usando o jargão ‘consensualidade’, reduzindo e mascarando sua prática machista e abusadora.
São tempos onde termos como misandria, racismo reverso, heterofobia e preconceito contra ricos, ganham forma para não se voltar ao questionamento à quem exerce o poder e minar qualquer debate com a jocosa apelação de discurso de ódio contra quem explora.
Latuff nunca se aproximou tanto de Kátia Abreu, PT e do Estado que ele tanto crítica.
Idelber tenta intimidar as vítimas com ameaças jurídicas e penais na justiça patriarcal, feita e executada por homens.
E o Feminismo segue firme em acusar, denunciar e desmascarar estes escrotos.
Na madrugada do último domingo o cartunista fez uma retratação. Porém, a charge que deslegitima o feminismo radical ainda continua em sua página, bem como o post sobre marquinhas de biquínis e seu apoio a Idelber. É claro que retratações e recuos podem ser uma expressão de sensibilidade, autocrítica e arrependimento por atitudes equivocadas, mas considerando o machismo no âmbito das relações de poder, não se pode negar sua dimensão estratégica, de, ao assumir o erro, recuperar o prestígio abalado e continuar sendo reconhecido como aliado do feminismo.
Como muito bem disse, Natália Leon, O machismo não está aí pra ser desculpado, mas pra ser denunciado. Enquanto as pessoas parabenizam-no pela sua atitude e compartilham suas desculpas devolvendo-lhe a confiança outrora ameaçada, nós cremos que nenhuma desculpa atenua ou sara a dor de uma violência cometida. E antes que nos acusem de insensíveis, rancorosas ou vingativas, afirmamos que a questão é sobre a responsabilidade de suas ações e estas não serão menos graves devido a uma retratação tão sutil. O machismo naturalizado deste homem pede uma posição sensata e não a ingenuidade de repositar imediatamente uma confiança. Por já ter sido vítimas, estamos na defensiva em constante alerta.
De toda forma, este episódio serviu para deixar as nojeiras e os jogos de manipulação e dominação bem explícitos. Suas posturas infelizes já mancharam suas vitrines políticas para muitos setores e correntes que leva esta luta e este movimento a sério, e isto, a longo prazo, trará muitos resultados.
PARA MAIS INFORMAÇÕES:
Sobre as vítimas e os nossos desafios – Passa Palavra
Caso Idelber: Não é do campo judiciário ou moral, mas ético e político – Revista Fórim
Solidariedade total às vítimas; Autodefesa frente ao algoz machista; Desconstrução cotidiana dos machismos! – Mães de Maio