Cidade para os ricos, cidade para os machos: a Hooters em Recife

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Em 2012, Recife foi considerada a 6ª cidade e Pernambuco o 5º estado mais perigoso para mulheres do Brasil. Em 2013, segundo dados da Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco, pelo menos 108 mulheres foram assassinadas em decorrência das violências sexistas. É nesta cidade que o Governo do Estado e sua Elite Coronelista empreendem um mega projeto de “requalificação e desenvolvimento urbano”, baseado no despejo de populações, internacionalização e incentivo ao consumo e na exploração sexual de mulheres.

Embalados por esse boom desenvolvimentista, Roberto Bitu e o quinteto Gustavo Satou, Thiago Figlioulo, Julio Maciel, Cristiano Falcão e Mauricio Falcão, homens brancos, heterossexuais e ricos, trazem para Recife uma unidade da Hooters, rede internacional de restaurantes famosa por explorar sexualmente o corpo e a imagens de mulheres. O espaço escolhido para sediar a franquia é o novo complexo elitista Armazém do Porto, localizado ao lado do Marco Zero e às margens da bacia do Pina. Bitu é dono da rede de franquias Bonaparte e Donatário, além de investir em casas noturnas da cidade. Já o quinteto, é responsável pela administração de outro bar, o Seu Boteco, situado também no Armazém 13.

A chegada da Hooters é mais uma prova de que o projeto de reurbanização da cidade serve principalmente aos homens ricos, aptos a transformar o corpo e imagem feminina numa mercadoria a serviço da satisfação de seus prazeres e como objeto sempre disponível para seu lazer. A ganância exploratória destes empresários também expõe o que nossa história colonial impede que esqueçamos: A gestão de várias grandes empresas por um mesma pessoa ou grupo no meio urbano, é equivalente a injusta e desleal concentração de terras e a cruel posse de escravos.

nohootersrecifeA Hooters, dispõe de garçonetes, em trajes sensuais e que, segundo seu site oficial, estão condicionadas a disputarem um estúpido hall da fama, onde certamente as consideradas mais belas lideram o pódio. Em outras palavras: esta nojenta rede industrial de restaurantes, em nome do lucro, obriga mulheres a expor seus corpos usando roupas mínimas e competindo entre si. Elas são contratadas para servir pratos-cadáveres, resultantes da exploração industrial de animais não humanos, a homens heterossexuais que frequentam este local com desejo de comer tudo que o restaurante lhes serve: carnes e mulheres. Além disso, a seleção de garçonetes impõe uma concorrência estética, na qual os padrões são ditados pelo ideal de masculinidade hegemônico.

Ainda há os que argumentam que as mulheres são livres para escolher o trabalho que quiserem. Não, as mulheres que aceitam este tipo de trabalho não são livres. Pessoas em espaços urbanos não estão livres para garantir sua subsistência alimentar. Existe um imperativo político que obriga pessoas a vender sua força de trabalho para comprar produtos produzidos por corporações, que dizem facilitar sua sobrevivência. Mulheres entram nesta lógica por que existem homens como Roberto, Gustavo, Thiago, Júlio, Cristiano e Maurício que criam uma estrutura onde o corpo delas sejam vendidos e consumidos por outros homens tão inescrupulosos quanto eles. É extremamente esperado que várias destas mulheres, sofram abusos constantes e sejam estupradas por machos, embriagados ou não, que levam em prioridade apenas, seus desejos e suas vontades. Não será surpreendente também, quando algum juiz, declarar o futuro estuprador de uma hooterslave, inocente, justificando sua decisão na leitura de que a mulher consentiu usar roupas sensuais e estar num ambiente de trabalho sexualizado (sic).

estadonoA conclusão é óbvia, esta iniciativa financiada pelo Governo do Estado, patrocina o turismo sexual e o crime de lenocínio1, ao estimular o proxenetismo2 mascarado e cria subsídios estruturais para uma possível articulação de tráfico internacional de pessoas com fins de exploração sexual. Desta forma, a estrutura do Estado, não por acaso, segue acumulando mais crimes contra a humanidade e principalmente contra as mulheres.

Abominamos este empreendimento e convocamos grupos, coletivos, organizações e demais articulações, a dizerem conosco em alto e bom som: NÃO VAI PASSAR!

Entendemos que no mundo capitalista o lucro é a chave da relação que escraviza mulheres. Ele liga e submete as pessoas ao mercado a partir de relações impessoais e desequilibradas. O sistema capitalista é uma manifestação particularmente significativa da dominação dos homens nas relações humanas. A mercadoria não é apenas uma “coisa” (embora aparente ser) ela é essencialmente uma relação social. A imposição de que um ser humano seja mercadoria sexual significa não somente sua coisificação, mas também sua inserção em relações de submissão sexista e de subordinação mercantil.

Novo Recife, Hooters, Machistas: NÃO PASSARÃO!

1 Lenocínio: é uma prática criminosa que consiste em explorar o comércio carnal alheio, sob qualquer forma ou aspecto, havendo ou não mediação direta ou intuito de lucro (cafetinagem). No Brasil é crime segundo os Artigos 227 a 230 do Código Penal. O lenocínio é atividade acessória ou parasitária da prostituição. O crime de lenocínio não pune a própria prática da prostituição, mas sim toda aquela conduta que fomenta, favorece e facilita tal prática, com intenção lucrativa ou profissionalmente. O lenocício pode ocorrer na forma do proxenetismo ou do rufianismo.

2 Proxenetismo: é o ato que consiste em obter benefícios econômicos da prostituição de outra pessoa. O proxenetismo comumente ocorre mediante a coação, tanto física quanto moral das pessoas subordinadas ao proxeneta. O proxenetismo constitui, na imensa maioria dos países, um delito para o qual são previstas penas de prisão.

arca – articulação combativa antisexista