Porque morder uma orelha de um policial pode ser uma atitude de autodefesa

Verônica Bolina
Verônica Bolina

Como o braço armado do heterocapitalismo trata corpos trans?

Como a mídia corporativa comprometida com a informação enquanto produto retrata corpos trans?

Como a sociedade transfóbica e misógina vê uma violência aos corpos trans?

Convencer as pessoas que um corpo trans é responsável pela violência que sofre é a estratégia mais básica de qualquer exercício de dominação e controle patriarcal. Agressão a uma idosa, a masturbação enquanto estava detida e o ataque a um agente policial são “infrações” que justificariam toda violência. Justificariam a tortura, os abusos e o autoritarismo que Verônica sofreu por parte da instituição “pacificadora”, ou melhor, exterminadora de minorias sociais, a polícia.

Consideramos que um ato de agressão contra uma idosa pode sim configurar machismo e um perfeito exercício de tirania e covardia, e por isso Verônica supostamente pode ter reproduzido uma atitude de superioridade e violência de cunho machista contra Dona Laura. Mas, a partir daí, mesmo que ela a tenha agredido justificaria a violência pela qual ela fora submetida pela polícia? Alexandre Nardoni, Guilherme de Pádua, o goleiro Bruno e os irmãos Cravinhos que cometeram crimes hediondos que chocaram a sociedade e apresentaram nível de brutalidade, frieza e ardilosidade repugnantes, por acaso, foram violentados de alguma maneira? Foram linchados e torturados por serem criminosos? Não, não foram.

Agressão policial
Agressão policial contra Verônica

No Brasil, pensar na grande probabilidade de ocorrência de violência transfóbica quando se analisa qualquer caso de denúncia de agressão praticada por pessoas trans não é vitimismo, não é inferir demais, é uma questão de lógica. Em 2014 50% dos assassinatos de pessoas trans de todo o planeta foram cometidos no Brasil. E São Paulo foi o estado com mais assassinatos, em termos absolutos, de pessoas trans em 2014. (Relátorio 2014 – Grupo Gay da Bahia) A violência contra pessoas trans é tida como normal e banal, é a piada pronta em canais de mídia corporativa. Sendo assim, existe um questionamento que deve ser colocado: será que Verônica, não tentou defender-se da transfobia praticada pela polícia

Condenamos e repudiamos os possíveis atos praticados por Verônica bem como suas imagens com um rosto desfigurado, calças rasgadas justamente na parte traseira, cabelos raspados e os seios a mostra. Da mesma forma que nenhum tipo de transfobia justificaria qualquer agressão desigual à Dona Laura, nos soa extremamente hipócrita e demagogo a solidariedade oportunista com a idosa sem reconhecer a violência que Verônica sofreu apenas por não está alinhada as convenções patriarcais de sexo/gênero.

Humilhada, violentada e completamente destituída da sua dignidade. Sem cabelos, sem roupas, sem proteção, o caso Verônica Bolina explicita que a polícia, enquanto instituição, declarou uma guerra brutal contra nossos corpos e contra a existência de pessoas trans.

Por entender a polícia como uma sofisticada máquina produtora de repressão e propaganda de valores patriarcais e opressivos, nos posicionamos contra ela. Não somos convencidas e nem damos credibilidade aos discursos e versões oficiais de uma instituição que se consolida a custa do sangue de pessoas negras, indígenas e pobres. Não respeitamos uma instituição que se fortalece a partir da misoginia e agride cotidianamente milhares de mulheres, homossexuais e pessoas trans. Repudiamos todos os veículos jornalísticos que insistem em tratar Verônica como traveco e homem, expondo seu nome civil, adjetivando-a no masculino, transformado-a em uma agressora desequilibrada, em uma coisa, em um nada. A mídia corporativa não se utiliza da sua função informativa e crítica para denunciar o Estado e responsabilizá-lo pelo que ocorreu, pelo contrário, enaltece o senso comum e, dessa forma forma, colabora com a naturalização e perpetuação da violência contra pessoas trans.

https://www.youtube.com/watch?v=qaoKy1Pqn-0

Para quem se chocou com a orelha mordida do policial, o que vocês fariam no lugar de Verônica? Acreditamos que isto foi um ato de resistência!

Neste momento de profunda dor e extrema revolta, desafiamos homossexuais, mulheres e pessoas trans que compõem a polícia a se posicionarem contra tamanha violência, questionando os desmandos destas instituições e pondo em cheque os privilégios e a autoridade que recebem ao se venderem para ser braço armado e exterminador do Estado. Desafiamos o Estado Democrático de Direito a fazer valer a justiça patriarcal aos responsáveis e cúmplices das torturas cometidas contra Verônica. Lembramos que no Brasil as denúncias de violência contra a população sexo dissidente aumentaram cerca de 460%, totalizando mais de 6,5 mil casos de espancamentos e assassinatos, fazendo do Brasil o país mais perigoso para pessoas trans do mundo.

Por fim fazemos uma defesa da autodefesa praticados por mulheres cis e trans. É urgente que nos organizemos e aprendamos a proteger a nós e as nossas irmãs. Desejamos que a violência afeminada seja nossa força e fonte de resistência, que não seja recriminada, como se a nossa autodefesa fosse um exagero, uma loucura ou incetivadora de outras violências. Essa é a forma que encontramos para sobreviver diante da guerra declarada.

Nos armar, empoderar, resistir e cuidar das nossas irmãs é a mensagem da ARCA.

TODO REPÚDIO À TODA FORMA DE TRANSFOBIA E MISOGINIA

SOLIDARIEDADE À VERÔNICA BOLINA E TODAS TRANSEXUAIS VÍTIMAS DOS DESMANDOS DO PATRIARCADO.

PELA DESTRUIÇÃO DA POLÍCIA E DO ESTADO.

ARCA – Articulação Combativa Antisexista

 

Verônica Bolina

Março, 8 de Março.

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Março, mês das águas que arrebentam, das chuvas que veem para encerrar o verão e nos trazer um suspiro de mudança, de esperança. Yansã brilha. Raios e trovões que talvez queiram dizer, já basta! Março. 8 de Março, mês da mulher, mas que mês não haveria de ser nosso? Para tanto, mês de recomeços, de re-afirmação de luta e resistência para que nunca nos curvemos. Nem submissas, nem escravas. Um chamado à resistência, à existência. Ni una más muerta. Essa é a mensagem da ARCA para todas as bruxas que eles não conseguiram queimar.

 

“Folhas de eucalipto, gotas de liberdade
Para que as regras já não existam mais
QUEIMA HETEROSSEXUALIDADE, QUEIMA

Chuva ácida, pó de rosas brancas
Porque não nascemos para ser mães nem escravas
QUEIMA MATERNIDADE OBRIGATÓRIA, QUEIMA

Flores de escovinha, ventos de Iansã
À cama eu vou com quem me der na telha
QUEIMA MORAL CRISTÃ, QUEIMA

Raio de luar e pêlos das axilas
Para poder decidir sobre o meu corpo e minha vida
QUEIMA AMARRAS DO MEU CORPO, QUEIMA

fumaça de barricadas, pedras de sal
Contra o consumo e o capital
QUEIMA CAPITALISMO, QUEIMA

Uma colher de sopa de raiva e uma estrela cadente
Para acabar com os golpes e não matar nenhuma mais
QUEIMA MACHISMO, QUEIMA

Fogo de vulcão e grito de ódio
Porque, para começar algo novo, você tem que queimar tudo.
QUEIMA PATRIARCADO, QUEIMA

Bruxas do universo convoco-lhes a queimar todo até a última ponta!!!”

Grupos Feministas de Pernambuco assinam nota de repúdio sobre abertura do Hooters, em Recife

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Nós, que abaixo assinamos, vimos por meio dessa petição externalizar e denunciar o nosso repúdio à chegada do estabelecimento comercial denominado HOOTERS na cidade do Recife.

O estabelecimento irá se fixar no local do projeto Novo Recife no bairro do Recife Antigo, lugar de destaque e um dos principais pontos turísticos da cidade. A cadeia de restaurantes HOOTERS virá para compor o centro de entretenimento e gastronomia que está sendo construído na área portuária da cidade, cujos objetivos consistem, dentre outras coisas, em revitalizar o bairro histórico a atrair mais turistas para o local.

Diante disso, consideramos uma afronta aos direitos da pessoa humana forahooters2e, especificamente, das mulheres, a permissão por parte do Estado de Pernambuco e da Cidade do Recife do funcionamento do estabelecimento, pois este se trata de um local no qual a imagem e corpo da mulher são ofertados junto com os outros produtos negociados. A imagem da mulher vestida seminua que circula entre as mesas e serve às pessoas é posta como um dos principais atrativos do estabelecimento.

Além de terem seus corpos expostos como parte do banquete ofertado, as mulheres que lá trabalham recebem orientações para aceitarem os assédios e abusos que por ventura ocorram enquanto estiverem trabalhando, estando explícito no contrato de trabalho que elas precisam lidar com a situação de forma educada e solícita, de modo a não ser rude ou constranger os clientes.

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O foco da nossa reivindicação consiste em denunciar o estabelecimento que se utiliza de formas aprimoradas de coerção e violência contra a mulher, assim como, de abuso e exploração dos seus corpos.

A questão torna-se mais grave por ser tratar de uma área portuária e com grande circulação de turistas, que podem enxergar não só no restaurante, mas nos corpos das mulheres, um local para o seu entretenimento.

Outro agravante é o fato de Pernambuco estar entre os dez estados mais violentos para as mulheres, configurando-se, assim, como um dos estados onde mais se mata mulheres por motivação sexista – os denominados crimes de gênero ou feminicídios. Como o Estado pode enfrentar esta situação, incentivando a abertura de estabelecimentos que incentivam práticas violentas e abusivas contra as mulheres?!

Outra questão a ser considerada é que a revitalização da área é uma parceria público-privada. Como o Estado e a Cidade do Recife concedem a abertura de um estabelecimento dessa ordem?

Contestamos, pois, as duas instâncias: estadual e municipal a se pronunciarem a respeito dessa situação absurda e a tomar providências que respondam às questões postas nessa denúncia.

ActionAid
Articulação de Mulheres Brasileiras
ARCA – Articulação Combativa Antisexista
Casa da Mulher do Nordeste
Cendhec
Centro das Mulheres do Cabo
Centro de Cultura Luiz Freire
Cape Mujica
Casa da Mulher do Nordeste
Coletivo Além do Arco Iris
Coletivo de Advocacia Popular Luiz Gama
Coletivo Feminista Diadorim
Coletivo Mulher Vida
Coletivo Marcha das Vadias Recife
Diretório Acadêmico de Serviço Social
Fórum de Mulheres de Pernambuco
Grupo Cactos – Gênero e Comunicação
Grupo Curumim
Levante Popular da Juventude
Movimento Mulheres em Luta – MML
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST
Movimento Zoada
Muda Direito
Ou Vai ou Racha
Sitio Agatha
SOS Corpo

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Nota de repúdio da Secretaria da Mulher não promove a segurança das mulheres.

O anúncio sobre a chegada da Hooters em Recife, trazida por Roberto Bitu, Gustavo Satou, Thiago Figlioulo, Julio Maciel, Cristiano Falcão e Mauricio Falcão, trouxe consigo manifestações contrárias à exploração, objetificação e abusos cometidos pela lógica masculina heterossexista contra as mulheres. A repercussão destas manifestações ameaçou e combateu o poder masculino que, por sua vez defendeu o empreendimento, acusando as críticas de moralistas e outras barbaridades. Argumentos que só fazem sentido aos que são privilegiados por uma estrutura que sexualiza mulheres para serem vendidas como partes integrantes de um kit disponível aos homens. Sim, algo contemplado naquela máxima quando os homens são questionados sobre os seus maiores bens: “minha fortuna, meu carro e minha mulher”.

O sentimento de indignação em perceber que o projeto de requalificação urbana da cidade atraí empreendimentos que promovem a exploração e o abuso feminino, deixando a cidade ainda mais insegura para as mulheres, fez com que várias pessoas procurassem a Ouvidoria da Secretaria da Mulher do Estado de Pernambuco para apresentar a denúncia contra a chegada da rede de restaurantes.

Após a apuração das denúncias, a Secretaria divulga uma tímida nota de repúdio contra os estabelecimentos comerciais e marcas que exploram e utilizam a imagem e o corpo das mulheres como objeto para comercializar seus produtos. Sim, a nota é timída pois não cita o nome do estabelecimento nem absolutamente nadao que remete ao tal.* Apesar de reconhecermos a sensibilidade do órgão público ao se posicionar sobre o alerta das pessoas que não compactuam com a violência de gênero, pensamos que esta forma superficial e abstrata com que ela se apresenta não atua diretamente no combate contra a chegada da Hooters, e pior, não questiona o impacto que este estabelecimento trará na vida das afeminadas que vivem em um dos estados mais perigosos para mulheres do Brasil.

A rede pretende instalar-se nos Armazéns do Porto, empreendimento do Porto Novo Recife, financiado pelo governo estadual e estrategicamente planejado para impulsionar o turismo. Por isso, acreditamos que o poder público tem responsabilidade direta na implementação desta rede. Então, cabe a nós questionar a Secretaria da Mulher, que diz publicamente repudiar estabelecimentos da linha da Hooters, do porque poupar em denunciar o nome de uma marca que ressignifica e sofistica a cultura do abuso sexual.

Tendo em vista que os principais meios de comunicação do estado anunciaram a chegada da Hooters como algo inovador e positivo, bem como os empresários que pretendem investir no projeto, acreditamos que as cautelas legais, previstas em trâmites institucionais, neste momento não são suficientes para justificar a postura de não enfrentamento e não denuncia da rede. Perder-se nas burocracias legais/institucionais acaba por fortalecer o estabelecimento e seus investidores, tornando a segurança das mulheres que vivem nesta cidade, cada vez mais frágil.

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Esta é uma pequena prova de que o Estado não será uma estância eficaz para emancipação e conquista das liberdades dos setores subalternos. As práticas das instituições jurídicas, executivas e legislativas mostram na prática, apenas favorecer a ordem hegemônica. Cremos apenas na potência de luta das mulheres, afeminadas e pessoas aliadas. Certamente, a nota mesmo que tímida, só foi possível graças a uma pequena pressão popular. Atentando a isto, incentivamos a criação de campanhas autônomas e articulações contra a implantação deste antro de exploração e abuso de mulheres.

Por fim, fazemos mais uma vez um apelo, aos grupos, coletivos e demais organizações que também vêem como absurda a instauração deste restaurante na cidade. Pensar a cidade, direitos dos animais, transportes, agroecologia, etnia, classe e meio ambiente, se isentando de se posicionar contra iniciativas exploratórias que se baseiam na submissão, além de uma extrema incoerência política, representa uma cumplicidade com as estruturas hegemônicas estabelecidas.

Dessa forma, gostaríamos não de desmerecer a nota de repúdio da SecMulher do Estado, mas afirmamos que precisamos urgentemente combater diretamente a chegada desse estabelecimento e citá-lo, bem como os seus investidores, é crucial para a efetivação da denúncia.

Amanda Galaxia sobre machismos em ambientes libertários e anarquistas

63770_556869731115699_3462443538930253746_nUns 2 meses atrás peguei um baixo por primeira vez nas minhas mãos. Desde que descobri o poder de desabafo e de descarrego de ódio, um ano atrás, primeiro com uma primeira intenção de banda, e depois na participação que fiz cantando “Ni un día más” com a EDMI, fiquei jogando aquelas “piadas sérias” pra entrar na banda. Depois que Cidão anunciou que sairia do baixo (te amamos, Cidão ♥) joguei mais uma vez meu currículo/atestado de fã do Sin Dios e do Black Flag, e colou. Detalhe: até então só sabia berrar e tocar uns 8 acordes no violão. Mas foi. 3 ensaios, um primeiro show logo de cara no Ecco Sounds, me tremi todinha, errei pa carai. Mais um ensaio e um segundo show, dessa vez no Casarão das Artes com um monte de rostos amigos e Gabriel pra animar a festa. Errei um bocado mas consegui dançar e curtir, risos.

Nisso, a banda vem vivendo umas semanas tensas depois da expulsão do batera por um caso de agressão. Esse ano teve mais denúncias de casos de machismo e violências no meio libertário do que anteriormente. Uma bola de neve que foi crescendo na medida em que vários casos vinham sendo abafados, ignorados e menosprezados pelas pessoas que, fosse desacreditando nas denúncias, ou agindo por má fé, se deram o direito divino de poupar agressores de serem expostos e pelo menos afastados do meio onde fazem a sua “propaganda militante”, onde agem como “homens feministas” e erguem bandeiras ao mesmo tempo que praticam um sem-fim de opressões no cotidiano. Soulfly, Átila, JP, são vários os “colegas”, “amigos”, “companheiros de militância”, que deram a verdadeira cara do machismo. Mas não podemos esquecer que estes são apenas os casos VISÍVEIS. No dia a dia, nós temos que lidar com agressões –não somente físicas- e talvez pior, com os fantasmas delas. Há alguns meses que venho expondo, em espaços e medidas diferentes, o meu caso pessoal de extremas violências psicológicas por parte do meu ex-“companheiro”, Shurato (banda Nômades). Documentos foram escritos e divulgados – não abertamente por querer proteger a minha intimidade e direito à privacidade – mas a triste realidade é que anarquistas e libertários ainda se preocupam mais de “como isso vai queimar o movimento/coletivo/organização” do que da própria integridade moral de quem foi violentada. Ainda não decidi qual será a quantidade de fatos a serem expostos, nem a forma em que isto será feita. Ainda tem umas 12 páginas de relatos que preciso resumir. E me proteger, né? Porque quem dá a cara pro tapa, nessas situações, é a gente. Cadê, homens libertários, que apoiam a causa feminista, se posicionando de verdade? Cadê, boicote desses idiotas nos espaços nos quais dizemos querer “construir o nosso projeto de sociedade”? Cadê, deixar de proteger os amigos, “porque eles são pessoas legais e eles nunca seriam capazes de fazer isso”? Cadê? Cadê?

Insisti muito em expor de fato os motivos da expulsão do batera, porque isso simplesmente não pode passar em vão. Porque não dá, NÃO DÁ, para conviver com pessoas com as quais acreditamos compartilhar valores e ética, que têm histórico de agressão, e simplesmente andam na vida e nos espaços libertários impunes e com a consciência limpa. QUAL É O ESPAÇO SEGURO PARA AS MULHERES QUE QUEREMOS CONSTRUIR? Nós, que devemos abrir mão dele? Nós, que deveríamos nos afastar? Nós, que devemos constantemente PROVAR que não estamos mentindo, que não é histeria nem vingança, apenas desejo de verdade e justiça. Por isso, considero que é fundamental que se saiba os motivos dele ter saído da banda. Mas a decisão de expor os detalhes de uma agressão é da pessoa agredida, única e exclusivamente. Só quem passou por violências sabe o que é se sentir envergonhad@ de reconhecer e dar a conhecer uma agressão sofrida. De alguma forma isso é reconhecer ou aceitar o quão submissa você foi. Os gritos que você calou, as merdas que aguentou, o fraca que você foi. Cada pessoa tem seus processos. Eu mesma só venho dizer isto abertamente depois de 2 anos, eai? Vai me julgar? Todas as amizades em comum têm noção do problema, mas não sabem mais de tal vez um 20% do que aconteceu. Vejo, por um lado, pessoas que querem abafar os casos, que querem fazer de conta que nada aconteceu, e do outro lado, pessoas que querem falar tudo sem se importar com as consequências que isso pode trazer no nível pessoal, familiar, profissional, e por ai vai. O comum entre as duas posturas? Cagação de regras e falta de acolhimento. Falta de sensibilidade ao lidar com as situações no caso a caso. E principalmente, uma incapacidade total de se colocar mesmo na prática para lidar com estas situações que são extremamente desgastantes, sufocantes e dolorosas. Com isto, coloco de forma pública, que a pessoa envolvida no caso de agressão por parte do batera foi sim contatada e que ela não se dispôs em nenhum momento ao diálogo sobre o acontecido. Tem um enorme número de questões pessoais e familiares envolvidas, e nem eu, nem você, é ninguém para poder julgar isso. QUANDO UMA MULHER NÃO DENUNCIA, A QUEM ELA PROTEGE? Não se conhecem os fatos em detalhe, mas se conhece a identidade dele – mesmo que de forma indireta. No caso de Shurato, falta isto ser exposto de forma “oficial” já que do boca a boca ninguém quer saber. A diferença? Eu estou sim disposta e o farei. E que os nossos espaços quebrem o silêncio para que as mulheres se sintam sim à vontade para expor os agressores. Pode afundar mesmo esse underground de discursos vazios de ação. Que o boicote seja prática. Que consigamos sentir o gosto da justiça que nos é negada pelo sistema. Que deixemos de sentir medo.

Enquanto isso, estarei lá tocando as 4 cordas, mesmo tudo errado, e berrando: NÃO MAIS. E que várias sintam o mesmo ódio e gritem junto.

Seis explicações contra os argumentos machistas que defendem a Hooters

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Diante da repercussão da posição da ARCA sobre a chegada da rede internacional de restaurantes Hooters e da incompreensão por parte de algumas pessoas do que isso representa, resolvemos abordar alguns pontos do debate, só que dessa vez, de forma mais pedagógica, levando em consideração os argumentos mais repetitivos desta historia toda.

Nosso objetivo é que a discussão continue a fluir, de forma a aprofundar a compreensão sobre a lógica violenta na qual se estruturam as nossas cidades. O texto objetivo e pontual de outrora com certeza trouxe muitos desconfortos, não apenas por uma possível falta de habilidade nossa, mas também pela profunda naturalização do machismo presente na sociedade e pelo insistente reforço em querer assegurar, de acordo com a lógica capitalista, o corpo da mulher enquanto mercadoria.

Solicitamos aos leitores maior abertura para ler o que se segue. A missão de se compreender uma mensagem depende em muito da boa vontade de quem a lê.

{02d29c0b-c651-4024-b28f-d76a75f24ad4}_dsc_00021 – O que tudo isso tem a ver com a “revitalização da cidade” e porque o Estado tem sim responsabilidade sobre isso? Além de acharmos, por si só, a existência do restaurante extremamente problemática, a unidade da Hooters na cidade é um empreendimento dentro do Projeto Novo Recife. Cremos que não é só apenas as torres do Consórcio que compõe o projeto, afinal o empreendimento que revitaliza a zona portuária da cidade também usa a alcunha ‘Novo Recife’. O que estamos querendo dizer é que o projeto de desenvolvimento urbano está voltado não só para um poder de consumo mais elevado, ligado ao mercado turístico, mas é composto por empreendimentos que exploram sexualmente a imagem feminina. Minimamente, podemos afirmar que um projeto que prevê um tipo de estabelecimento como o Hooters não considera uma realidade de violência sexista concreta na cidade e pior, com base em argumentos de liberdade – de perspectiva liberal – naturaliza a objetificação do corpo do mulher. Você não acha no mínimo complicado o Estado numa Parceria Público/Privada permitir que uma rede como a Hooters se abulete no meio do Recife Antigo, um dos nossos cartões postais, e em vários aspectos contribua para a reprodução da violência sexista? E o papel do estado em coibir essas violências onde fica? Ou não podemos responsabilizar o Estado por isso?
Um empreendimento de requalificação urbana que admite em um modelo de negócio que vende e se sustenta com a exploração de trajes sexualizados, sofistica o consumo sexual do corpo feminino. É uma forma de normalizar e atenuar a prática abusiva do assédio e fazer vista grossa para os comportamentos e hábitos masculinos desrespeitosos e violentos. No processo seletivo, as Garotas Hooters são treinadas a fugirem de cantadas e como falamos acima, são obrigadas a assinar um termo afirmando e reconhecendo que podem sofrer abusos. Desta forma, ao admitir este tipo de negócio de alto consumo, num grande projeto de estruturação urbana, o poder público colabora para construção de ambientes não seguros para mulheres, permite a expansão do consumo elitista de mulheres como entretenimento masculino, – o que representa uma estratégia de normalização – além de impulsionar a cultura machista na cidade, algo que definitivamente reverberará e trará drásticas consequências às todas as mulheres e afeminadas da sociedade. Isto representará um imenso retrocesso. No mundo inteiro, meninas e mulheres sofrem com assédio, machismo e violência nos espaços públicos. O medo, muitas vezes, impede que elas façam algum trajeto, limitando seu ir e vir na cidade. Isso acontece porque o espaço urbano não é planejado pensando nas mulheres e afeminadas, e o Novo Recife está ai para provar isso!

Hooters2 – Uma busca no google (ou no DuckDuckGo o buscador que não vende sua vida a empresas.) com o nome da franquia Hooters e o site da rede são bem claros, a proposta não é a venda de comidas, mas das mulheres em forma de produto. É ingênuo acreditar que se trata unicamente de um restaurante comum, que “famílias frequentam e isso não tem nada de mais” ou que “é um bar como outro qualquer”. Olhem os detalhes no site e me digam se realmente não há problemas em uma franquia internacional que expõe como propaganda mulheres semi nuas envoltas em lutas de UFC, jogos de beisebol e costelas suínas, te dizendo: “ao chegar no nosso bar você não só vai ver a sua luta ou o jogo do seu time, mas ser servido por belas mulheres com seios volumosos a mostra” se você não enxergou o problema é porque provavelmente você se satisfaz, tira vantagem com esta exploração sexual ou por alguma espécie de cegueira desconhecida (rs). Realmente se faz necessário isso pra vender cebola empanada e chopp gelado? Nós acreditamos que isto não faz nenhum sentido, mas sabe porque o senso comum não se dá conta dessa bizarrice? Porque a sua, a nossa consciência, já esta habituada a ver mulheres sendo vendidas como partes integrantes de um kit disponível aos homens – mulheres, bebidas, muita carne vermelha e futebol e isso é tão natural que as famílias não veem problemas em levar seus filhos para esses espaços, é tudo normal.

A hipersexualização das mulheres está nos outdoors, nas revistas, nos programas de TV, nos catálogos de moda, nas publicidades e em casas noturnas, isto não representa um problema em nossa sociedade, pelo contrario, é necessário para que as mulheres tenham algum valor, pois esta é uma das formas que a sociedade nos oferece para sermos úteis no mundo. Pela hipersexualizacao dos corpos femininos as mulheres e pessoas afeminadas são impelidas a vender o que a sociedade consome: seus corpos. Se você inverter a lógica vai perceber que aos homens e seres masculinos são reservadas mais possibilidades de emprego que não envolvam seus corpos e suas sexualidades, mas para as mulheres e seres afeminados, vender sua força de trabalho sexual é sempre uma alternativa. A grande questão aqui é que as mulheres e todxs xs individuxs podem e devem obter o seu sustento da melhor forma que optar, mas existe uma lógica que faz com que alguns corpos afeminados sejam vendáveis e outros bem menos. O que os defensores da Hooters não percebem é o quanto essa naturalização da mulher enquanto objeto sexual, sexo frágil e muitas vezes como servas dos homens tem consequências desastrosas, como a violência física, exploração sexual e o tráfico de mulheres. Não acreditamos em objetificação sexual light, ou exploração sexual leve, menos danosa e mascarada como a Hooters faz nos seus restaurantes.

f33 – Aí você me diz que as mulheres “estão ali porque querem e gostam do que fazem”. Em um ponto concordamos, de fato xs indivíduxs possuem uma agência que xs motiva a agir de um jeito e não de outro, e que (até onde sabemos) os empregadores não colocam facas nos pescoços das mulheres e as obrigam a trabalhar lá. Mas existe uma outra questão que impede o que você chama de “liberdade individual” e “livre iniciativa”, cremos que ela é uma ilusão. Ao dar uma pequena observada em nossa sociedade e nas nossas próprias atuações dentro dela percebemos que a grande maioria de nós, principalmente as pessoas de classes mais populares, já trabalharam ou trabalham em empregos que não gostam e não lhes satisfazem e que o imperativo financeiro é condicionante para “passar um tempo, até me organizar”, muitas vezes este tempo é uma eternidade. Dificilmente é possível acreditar que uma pessoa se sinta realizada com o tipo de trabalho que faz no McDonald’s ou do Subway, apesar de sabermos que existe uma pequena exceção. A vida capitalista faz com que o emprego seja uma necessidade, para pagar as contas, para comer, para morar bem. A estabilidade do emprego sempre se coloca a frente das necessidades subjetivas, dos prazeres, dos projetos políticos e muitas vezes das aptidões pessoais. Não é por acaso que a depressão é uma das doenças que mais afastam trabalhadores das empresas atualmente, também não é por acaso o alto índice de pessoas com depressão nas cidades. O Estabelecimento que se utiliza da liberdade das mulheres de estarem lá porque querem” para vendê-las junto com pedaços de animais mortos, acaba por contribuir para que essas violências aconteçam. As Garotas Hooters são obrigadas a “reconhecer e afirmar” que o conceito do bar é baseado no apelo sexual feminino e que no ambiente de trabalho podem ocorrer situações desagradáveis de desrespeito e assédios. Me diga você o que pode acontecer com essas mulheres que estão lá trabalhando em um dia de luta de UFC, madrugada a fora quando a maioria masculina embriagada resolver “tirar uma onda” no estabelecimento… Será que elas serão culpabilizadas pelo desrespeito que podem sofrer? Por ter assinado um termo onde se declaram cientes disso? Pense com carinho, sem dizer a primeira coisa que a sua mente reproduz, com um pouco de cuidado você se dará conta do que pode acontecer com elas.

4 – Pessoas que fazem o uso do termo liberdade, para justificar o tipo de emprego oferecido pela Hooters, deviam reconhecer que homens são proibidos de serem garçons neste bar, que além disso muitas mulheres que fogem de um padrão de beleza objetificado também são proibidas de trabalhar lá. Na realidade a Hooters tem um manual severo de conduta e impõe na cabeça das funcionárias que elas precisam realizar atividades extra oficiais, para assegurar o emprego. Um estabelecimento que tem como hábito apenas selecionar ‘gostosas’ desrespeita quem não atende os padrões de beleza machistas. Quantos destes homens que defendem a Hooters perderam oportunidades de empregos por não serem bonitos ou gostosos? – sim, porque grande parte deles são horrorosos e nem um pouco gostosos por sinal (rs. rsrsrs). Se o serviço é de atendimento, a mulher não tem obrigação de ser gostosa, muito menos de tentar manter ou atingir um padrão de beleza machista para conseguir um emprego. Vocês acham realmente que isto tem alguma coisa a ver com liberdade?

5 – Os defensores da Hooters parecem não saber que a rede tem várias pedras legais em seu calcanhar, em 1997 a Hooters foi condenada a pagar 3,75 milhões por ter discriminado e negado emprego a três homens nos Estados Unidos, em 2004 várias mulheres entraram com ação na justiça estadunidense por ter sidos filmadas por câmeras escondidas enquanto se despiam. Para os amantes do direito, o acesso ao emprego baseado por motivos de sexo, cor, estado civil, é proibido pela Constituição Brasileira. E o que isso diz sobre a rede de restaurantes? Bem, nos diga você!

960x720_179216 – Fundamentalistas religiosas ou moralistas é um termo que não nos cabe. Não estamos indo contra os shortinhos que as Garotas Hooters vestem, muito menos contra seus decotes, estamos indo contra mulheres terem que vestir shortinhos e decotes para serem o principal produto de atração de um restaurante, sim porque elas deixam de ser Anas, Marias e Claúdias, para serem um objeto sexual. Defendemos o direito das mulheres andarem como queiram, com burca, com shorts, topless, de calças, sem camisa e até nuas, apenas somos contra alguém lucrar pela forma que uma mulher deseja se trajar ou imponha um traje para o trabalho que a transforme num produto, isto se chama coisificação e objetificação do corpo feminino e é exatamente isto o que transforma mulheres em mercadoria. Também lutamos pela liberdade sexual e temos certeza que sem ela é impossível existir corpos livres. Nos impressionam ver os homens que defendem a Hooters falar em liberdade das mulheres. Atualmente, as mulheres não tem liberdade para interromper uma gravidez indesejada, queremos saber o que eles estão fazendo para garantir as liberdades femininas que não cruzam com seus desejos sexuais. A nossa questão é com o sistema capitalista que é machista, racista e que se apropria dos corpos das mulheres e afeminadas para lucrar em cima deles. Seja para fins sexuais, seja para limpar o banheiro ou fazer um almoço, o sistema se apropria dos nossos corpos para servir uma classe dominante, branca, rica e heterossexual.

Nossa tentativa de trazer estes tópicos se faz com o objetivo de contribuir para um maior aprofundamento do debate, tão precarizado pela naturalização do senso comum machista. Nossa posição é norteada por princípios anticapitalistas e anti-autoritários, por isso cremos na interseccionalidade das lutas como algo elementar para a construção de uma realidade plural, diversa e justa. Outros pontos que abordamos no texto original como como tráfico de mulheres, exploração de animais não humanos, projeto de requalificação protagonizado pelo monopólio de grupos corporativos, estratégias de pressão e a subordinação mercantil de pessoas pelo advento do emprego capitalista, se faz neste momento, sem oportunidade de análise, haja visto a profunda convicção dos defensores da Hooters com os ideais hegemônicos antropocêntricos, capitalistas e machistas.

Admitimos, sem dúvidas, uma possível ‘falha pedagógica’ na objetividade do texto e na incisividade combativa. Contudo, gostaríamos de dividir esta responsabilidade, com nossxs parceirxss de luta e grupos que publicizam uma postura crítica ao capitalismo, mesmo com todas suas contradições. Novas visões de mundo em relação ao gênero, etnia, classe, sexo, cidades, agricultura, animais não humanos, meio ambiente e transporte não se consolidarão com esforço “somente das feministas”. A construção de uma realidade plural passa por vários campos. Desta forma, assumir, posicionar-se e ter postura contundente contra iniciativas exploratórias que se baseiam na submissão, se faz uma mais que uma responsabilidade, é um compromisso social.

ARCA – Articulação Combativa Antisexista

Cidade para os ricos, cidade para os machos: a Hooters em Recife

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Em 2012, Recife foi considerada a 6ª cidade e Pernambuco o 5º estado mais perigoso para mulheres do Brasil. Em 2013, segundo dados da Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco, pelo menos 108 mulheres foram assassinadas em decorrência das violências sexistas. É nesta cidade que o Governo do Estado e sua Elite Coronelista empreendem um mega projeto de “requalificação e desenvolvimento urbano”, baseado no despejo de populações, internacionalização e incentivo ao consumo e na exploração sexual de mulheres.

Embalados por esse boom desenvolvimentista, Roberto Bitu e o quinteto Gustavo Satou, Thiago Figlioulo, Julio Maciel, Cristiano Falcão e Mauricio Falcão, homens brancos, heterossexuais e ricos, trazem para Recife uma unidade da Hooters, rede internacional de restaurantes famosa por explorar sexualmente o corpo e a imagens de mulheres. O espaço escolhido para sediar a franquia é o novo complexo elitista Armazém do Porto, localizado ao lado do Marco Zero e às margens da bacia do Pina. Bitu é dono da rede de franquias Bonaparte e Donatário, além de investir em casas noturnas da cidade. Já o quinteto, é responsável pela administração de outro bar, o Seu Boteco, situado também no Armazém 13.

A chegada da Hooters é mais uma prova de que o projeto de reurbanização da cidade serve principalmente aos homens ricos, aptos a transformar o corpo e imagem feminina numa mercadoria a serviço da satisfação de seus prazeres e como objeto sempre disponível para seu lazer. A ganância exploratória destes empresários também expõe o que nossa história colonial impede que esqueçamos: A gestão de várias grandes empresas por um mesma pessoa ou grupo no meio urbano, é equivalente a injusta e desleal concentração de terras e a cruel posse de escravos.

nohootersrecifeA Hooters, dispõe de garçonetes, em trajes sensuais e que, segundo seu site oficial, estão condicionadas a disputarem um estúpido hall da fama, onde certamente as consideradas mais belas lideram o pódio. Em outras palavras: esta nojenta rede industrial de restaurantes, em nome do lucro, obriga mulheres a expor seus corpos usando roupas mínimas e competindo entre si. Elas são contratadas para servir pratos-cadáveres, resultantes da exploração industrial de animais não humanos, a homens heterossexuais que frequentam este local com desejo de comer tudo que o restaurante lhes serve: carnes e mulheres. Além disso, a seleção de garçonetes impõe uma concorrência estética, na qual os padrões são ditados pelo ideal de masculinidade hegemônico.

Ainda há os que argumentam que as mulheres são livres para escolher o trabalho que quiserem. Não, as mulheres que aceitam este tipo de trabalho não são livres. Pessoas em espaços urbanos não estão livres para garantir sua subsistência alimentar. Existe um imperativo político que obriga pessoas a vender sua força de trabalho para comprar produtos produzidos por corporações, que dizem facilitar sua sobrevivência. Mulheres entram nesta lógica por que existem homens como Roberto, Gustavo, Thiago, Júlio, Cristiano e Maurício que criam uma estrutura onde o corpo delas sejam vendidos e consumidos por outros homens tão inescrupulosos quanto eles. É extremamente esperado que várias destas mulheres, sofram abusos constantes e sejam estupradas por machos, embriagados ou não, que levam em prioridade apenas, seus desejos e suas vontades. Não será surpreendente também, quando algum juiz, declarar o futuro estuprador de uma hooterslave, inocente, justificando sua decisão na leitura de que a mulher consentiu usar roupas sensuais e estar num ambiente de trabalho sexualizado (sic).

estadonoA conclusão é óbvia, esta iniciativa financiada pelo Governo do Estado, patrocina o turismo sexual e o crime de lenocínio1, ao estimular o proxenetismo2 mascarado e cria subsídios estruturais para uma possível articulação de tráfico internacional de pessoas com fins de exploração sexual. Desta forma, a estrutura do Estado, não por acaso, segue acumulando mais crimes contra a humanidade e principalmente contra as mulheres.

Abominamos este empreendimento e convocamos grupos, coletivos, organizações e demais articulações, a dizerem conosco em alto e bom som: NÃO VAI PASSAR!

Entendemos que no mundo capitalista o lucro é a chave da relação que escraviza mulheres. Ele liga e submete as pessoas ao mercado a partir de relações impessoais e desequilibradas. O sistema capitalista é uma manifestação particularmente significativa da dominação dos homens nas relações humanas. A mercadoria não é apenas uma “coisa” (embora aparente ser) ela é essencialmente uma relação social. A imposição de que um ser humano seja mercadoria sexual significa não somente sua coisificação, mas também sua inserção em relações de submissão sexista e de subordinação mercantil.

Novo Recife, Hooters, Machistas: NÃO PASSARÃO!

1 Lenocínio: é uma prática criminosa que consiste em explorar o comércio carnal alheio, sob qualquer forma ou aspecto, havendo ou não mediação direta ou intuito de lucro (cafetinagem). No Brasil é crime segundo os Artigos 227 a 230 do Código Penal. O lenocínio é atividade acessória ou parasitária da prostituição. O crime de lenocínio não pune a própria prática da prostituição, mas sim toda aquela conduta que fomenta, favorece e facilita tal prática, com intenção lucrativa ou profissionalmente. O lenocício pode ocorrer na forma do proxenetismo ou do rufianismo.

2 Proxenetismo: é o ato que consiste em obter benefícios econômicos da prostituição de outra pessoa. O proxenetismo comumente ocorre mediante a coação, tanto física quanto moral das pessoas subordinadas ao proxeneta. O proxenetismo constitui, na imensa maioria dos países, um delito para o qual são previstas penas de prisão.

arca – articulação combativa antisexista

Sorteio do Tesoura para Todas no Cultura Veg Especial

No dia do Cultura Veg Especial, promovido pela SVB Recife, a ARCA ira sortear um exemplar do livro Tesoura para todas.
O livro e uma coletânea de textos que relatam experiências de lutas contra o machismo e a favor da construção de uma sociedade livre de violências sexistas. São experiências vivenciadas, principalmente, em Barcelona, na Espanha, mas que em muito se assemelham com a nossa realidade.
E uma leitura estimulante e instigante que ajuda no fortalecimento individual e coletivo das resistências cotidianas contra a sociedade machista e opressora.

Desde já, estamos coletando o nome das pessoas interessadas no sorteio e só finalizaremos a lista de nomes, minutos antes da atividade lá na Livraria Cultura.

Caso deseje participar, ponha seu nome completo no comentário do post na página do evento, (só serão válidos os comentários no post de divulgação que está na página do evento):

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Masculinidade e violência: Uma Cultura predatória, com Daniel Kirjner

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Em legítima defesa, por Elizandra Souza

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Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR
Já estou vendo nos varais os testículos dos homens que não sabem se comportar
Lembra da Cabeleireira que mataram, outro dia?
E as pilhas de denuncias não atendidas?
Que a notícia virou novela e impunidade?
É mulher morta nos quatro cantos da cidade…?

Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR
A manchete de amanhã terá uma mulher dizendo:
– Matei! E não me arrependo!
Quando o apresentador questiona ela simplesmente retocará a maquiagem.
Não quer parecer feia quando a câmera retornar
e focar em seus olhos, em seus lábios…

Só estou avisando
VAI MUDAR O PLACAR
Se a justiça é cega, o rasgo na retina pode ser acidental
Afinal, jogar um carro na represa deve ser normal,
Jogar a carne para os cachorros, procedimento casual,

Só estou avisando
VAI MUDAR O PLACAR
Dizem, que mulher sabe vingar
Talvez ela não mate com as mãos, mas mande trucidar..
Talvez ela não atire, mas sabe como envenenar…
Talvez ela não arranque os olhos, mas sabe como cegar…

Só estou avisando:
VAI MUDAR O PLACAR

Elizandra Souza, Águas da Cabaça
2012

YJA Star – Um exército feminista

foto_1%20(9)YJA STAR é o nome da milícia feminina combativa do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), um movimento de guerrilha que desde os anos 70 está envolvido numa longa guerra contra o Estado turco. A sigla remete a Yekîtiya Jinen Azad, que significa Unidade da Mulher Livre, STAR é uma referência à deusa mesopotâmica Ishtar.  A representação de mulheres no PKK existe desde a fundação do partido, na década de 1970, tanto na organização, quanto em seus grupos de trabalhos.

A ideologia da YJA STAR é idêntica a da organização-mãe: criação de uma estrutura municipalista libertária, criando comunidades livres auto-gestionadas com base nos princípios de democracia direta, libertação das mulheres e renovação ecológica.  Desta forma, a proposta que fazem é de que a luta das mulheres curdas possam tornar um modelo para um movimento global em direção a uma democracia genuína, uma economia cooperativa e a dissolução gradual do Estado-nação burocratizado.

A crítica política do grupo perpassa questões fundamentais sobre direito à autodefesa e sobre a dominação masculina em âmbitos estruturais, baseadas em análises sobre os valores patriarcais presentes nos paradigmas morais religiosos, que proporcionaram uma grande mudança na ocupação humana no globo.

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“O significado do conceito das divisões que compõem o nome do nosso progresso e desenvolvimento da política participativa, como por exemplo, o direito das mulheres de organização sua autodefesa, mais do que qualquer outra coisa é um trabalho que necessário. A exposição das mulheres é para construir contra-revolução de uma realidade que começou com o sistema de dominação masculina, não só em termos de gênero, mas para o nosso planeta que atingiu níveis irreversíveis e irreparáveis de devastação. Por esta razão, desenvolvermos mecanismos de autodefesa apenas para nós mesmas não será suficiente. O que aflige o nosso mundo e a fonte da dominação masculina e para realizar a luta contra o Estado militarista devemos desenvolver uma outra estruturação.

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“A mulher nasce em uma atmosfera de desigualdade social causada pelo sexismo e privadas de direitos básicos. Todos os tipos de crescimento saudável, formação e sustentação da vida longe de todas as instalações de dependência, são renegadas as mulheres. Como resultado, elas não têm conhecimento de seus direitos e liberdades.

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“Ausentes da esfera pública, as mulheres devem superar os mecanismos políticos que excluíram-nas das tomadas de decisões.  A mulher foi condenada à uma vida “home oikos-custom” e para se livrar dos círculos fascistas é essencial considerar isto. Neste contexto, o movimento das mulheres curdas reivindicam a liberdade delas nas instituições, organizações sociais e militares e nos campos ideológicos criados por homens. Com muitas dificuldades, nossa organização tem sido capaz de descobrir nestes esforços um patrimônio muito importante, refletindo um sucesso nas nossas reivindicações a partir do direito fundamental da mulher à sua auto-defesa e na construção da política participativa.”

 

Referências:

Porque o mundo ignora os revolucionários curdos na Síria – David Graeber
YJA STAR – Site Oficial